sexta-feira, 18 de julho de 2014

18.- UMA VEZ MAIS: ¿TORCER ADIANTA?


ANO
 8
NONOAÍ/ PORTO ALEGRE www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 2838


Quando esta edição começar a circular terei deixado, há alguns minutos, a cidade de Nonoaí, onde cumpri a segunda parte de minha agenda de quinta-feira. Devo chegar a Porto Alegre, depois das 6 horas.
Os cerca de 70 km à Nonoaí foi sob chuvas, relampânpagos e trovões, em uma estrada com buracos lado a lado. A habilidade dos professores Hélio e Jorge fez que as 2,5 horas fossem percorridas com segurança.
A primeira parte da agenda fora de manhã na URI de Frederico Westphalen a defesa de dissertação, da Silvia, que teve seu trabalho muito reconhecido pelos dois colegas que já haviam participado da qualificação:  Prof. Dr. Oto João Petry (UFFS) e Prof. Dr. Arnaldo Nogaro (URI).
À noite, depois de breve vista a cidade, com visita ao santuário dos mártires de Nonoaí (breve será assunto aqui) estive na Escola Maria Dulcina onde o anfitrião foi o prof. Nelso, que me escrevi ontem, foi o catalisador deste encontro. Depois, com o plenário Câmara dos Vereadores lindo e confortável fiz a palestra, que anunciara ontem aqui. O público, cerca de 120 pessoas, atentas e interessadas, por mais de duas horas acompanhou a fala. Ao final muitos autógrafos e fotografias.
Desta um comentário, que por ter sido minha primeira fala pós-Copa, teve suas marcas, em um ponto que me agrada destacar aqui. Ao falar acerca do pensamento mágico, um dos seis óculos — os outros: senso comum, saberes primevos, mitos, religião e ciência — reconheci que este óculo, de largo uso de largo uso em nosso estar no mundo, é marcado como uma relíquia atávica de nossa mentalidade primitiva.
Neste atavismo reconhecemos possibilidades de nossos ancestrais milenares comunicarem aos seus descendentes, em intervalos geracionais, qualidades ou defeitos que lhe eram particulares.
Mesmo com esta aceitação, não desconheço que o pensamento mágico campeie também nas ditas classes tidas ‘como culturalmente mais evoluídas’. Reconheço que seja confortável (ou ainda mais, seja salutar), de vez em vez, despirmo-nos de nosso racionalismo e embalarmo-nos nesta dita relíquia ancestral de uma mentalidade primitiva. Nestas declarações vestibulares, devo afirmar que não me oriento por horóscopos e também não acredito que alguém possa me prejudicar com mau olhado (=olho grande ou olho gordo) ou rogando uma praga. É verdade que se alguém me deseja boa sorte ou diz que estar torcendo por mim, parece-me muito confortável. Ou seja, uso o pensamento mágico de maneira seletiva ou interesseira.  Algo que é bom.
Há pergunta, que de maneira usual traz polêmica e divide opiniões, parece ter um novo sabor neste pós-Copa: Adianta torcer (por um time, sem ir ao estádio)? Ou adianta secar o time rival? Aqui secar é uma ação diferente de ir ao estádio vaiar o adversário.
Na fala em Nonoaí, contei uma vez mais, uma usual discussão acerca do torcer. Quando esta era acirrada em uma turma de Licenciaturas, um aluno interveio com convicção. “Adianta torcer, sim! Eu tenho evidências empíricas: quando o Grêmio joga, pego uma camiseta dele, estraçalho e dou vários nós. Coloco em cima do televisor e o Grêmio se enrola todo e, inevitavelmente, perde!” Ante tais argumentos, retirei meu time de campo. Passamos para outro assunto.
Dias depois, tendo o Grêmio vencido um grenal, era a minha vez de flautear. Dirigi-me ao aluno: “Pensei mais de uma vez em ti no domingo!” “Por que, professor?” “Vi tua tese se esboroar. O Grêmio ganhou!” “Ao contrário, professor, a tese foi, uma vez mais, confirmada: o Grêmio só ganhou porque me esqueci de colocar a camiseta em cima da TV!” Em meio a apupos, tive, então, um parceiro que deu cifras definitivas à discussão. Um colega debochou: “Professor, o Fabiano só não tem televisão de plasma, porque ela é muito fina e não tem espaço para colocar o copo de água para o pastor abençoar!”
Esta situação de torcer é muito controversa. Há pessoas que se surpreendem quando alguém afirma, por exemplo, que na Copa do mundo, não torce pelo Brasil. Não raro, este é tido como um mau brasileiro. Talvez coubesse uma distinção entre ‘desejar (que um time vença)’ e ‘torcer (ou acreditar que nossa torcida possa ser responsável por sucesso)’. Há, por meio de comerciais chamamentos de discutíveis idoneidades, como este: “Junte-se a nós! Venha torcer pela nossa seleção! Isso é decisivo!”
Os dias copeiros os apelos a torcer eram muitos e continuados. Uma inocente piadinha, que circulou então traduz o espírito de então: O menino não conseguia abrir a tampa da garrafa de refrigerante. A mãe o alerta: “Filho tem que torcer!”. O menino não tem dúvidas. De imediato começa a torcer gritando: “Vai tampinha, vai! Vai tampinha, vai!”

4 comentários:

  1. Penso que tal pensamento conforta, reanima...não muito além disso.

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  2. Pensamento mágico

    Homem na sua infinda curiosidade
    Para tudo deseja uma explicação
    Vive portanto na busca da verdade
    Quer descobrir como as coisas são.

    Coisas que dependem da vontade
    Bem definidas e equacionadas estão
    Porém se existir alguma dubiedade
    O ser humano apela à superstição.

    Criou ele para isso a tal divindade
    Que conforta e desoprime coração
    Com ela compartilha cumplicidade
    Alguma coisa chamada de religião.

    Então diante de uma calamidade
    Genuflexiona e compõe sua oração.

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  3. Nossa sociedade ocidental, embora seja muito racionalista em seus princípios, nao deixa de fazer uso do misticismo oriental. No dia em que o goleiro Julio Cesar defendeu penalidades contra o Chile, os comentaristas chegaram a atribuir o milagre ao crucifixo que o reserva Victor havia lhe emprestado. Mas o que houve com o crucifixo no dia da Alemanha? Será que o Victor esqueceu, como a sua aluna da camisa sobre o televisor? Abraço do JB

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  4. Conta-se que Constantino teve um sonho revelador onde era orientado em pintar sob o escudo dos seus soldados o símbolo da cruz. Com a vitória abençoada converteu-se o imperador pagão ao cristianismo o que mudou o rumo dessa religião através dos tempos aos dias de hoje. Todos preferimos versões mágicas que nos enchem de esperança de que a vida seja mais do que um simples fenômeno físico químico.

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