quinta-feira, 3 de julho de 2014

03.- OLHARES SOBRE O SÉCULO 20 alfa

ANO
 8
Livraria virtual em www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 2823


Talvez o título proposto para esta blogada possa parecer um equívoco. Já vivemos quase três lustros do século 21 e se proponha, agora, olhares sobre século 20.
Há porquê. Primeiro todos os leitores deste texto, muito provavelmente, sejam mulheres e homens do 21. Há um tempo, que parece nem tão distante, cada uma e cada um de nós se reconheceria quase dinossáurico, se se pensasse ser do século passado. De repente, nós — que acompanhamos as apreensões acerca do Bug do milênio —, nos tornamos todos, numa passagem de ano, cidadãs e cidadãos do século passado.
Divido esta mirada ao Século 20, em dois tempos. Hoje, vamos olhar a virada do 19 para o 20. Amanhã, vamos contemplar a virada do 20 para o 21. O alfa e ômega de um dos séculos mais significativos da humanidade. O nosso século 20.
Assim, agora o alfa. Olhemos o entorno do ano 1900, digamos entre os
anos 1895 e 1905. Esse período foi muito significativo para o entendimento do universo: a descoberta dos raios X (pela primeira vez se ‘podia ver’ dentro do organismo humano sem precisar abri-lo. Roentgen foi o primeiro laureado com o Prêmio Nobel de Física, em 1901); conhecia-se, então, acerca da natureza elétrica da matéria e da natureza da eletricidade; a descoberta da radioatividade natural (esta foi, muito provavelmente, a mais revolucionária e a mais emocionante descoberta do fim-de-século, por ela Henry Becquerel e Pierre & Marie Curie recebem, em 1903, o Prêmio Nobel de Física); há explicações para a transmutação nuclear;
conhecimento da quantização da energia; é proposta a teoria da relatividade; Freud explica o inconsciente; o brasileiro Alberto Santos Dumont realiza, em 1904, o primeiro voo com um avião...

Há 100 anos, o químico francês Marcelin Berthelot (1827-1907), um dos primeiros grandes especialistas em síntese orgânica, com investigações que alçaram a termoquímica a uma especialização muito importante, exageradamente, profetizava, como Senador da República e presidente da Academia de Ciências:
“A Ciência possui doravante a única força moral que pode fundamentar a dignidade da personalidade humana e constituir as sociedades futuras. A Ciência domina tudo: só ela presta serviços definitivos. [...] Na verdade, tudo tem origem no conhecimento da verdade e dos métodos científicos pelos quais ele é adquirido e propagado: a política, a arte, a vida moral dos homens, assim como sua indústria e sua vida prática” (CHRÉTIEN, p. 26)1. 
Emilio Gino Segrè, um romano que nasceu em 1905, laureado com o Prêmio Nobel de Física em 1959, quando eramais de quinze anos cidadão estadunidense, escreveu um livro de mais de trezentas páginas sobre a física no período que agora consideramos. Segrè (1987)2 mostrou, em Dos raios X aos quarks, como as profundas alterações no campo da física atingiram de imediato a química, a biologia e a geologia, com a criação de um grande número de novas máquinas e instrumentos. Essas descobertas acabaram por determinar uma espécie de nova Revolução Industrial, que ainda hoje nos assombra e modifica, a cada dia, os nossos hábitos e costumes.
Vivia-se o auge de descobertas significativas e estas, então pareciam definitivas. Se quiséssemos sintetizar a virada do 19 para o 20, ante as maravilhas da Ciência, e até a dar crédito a Berthelot, a marca é a certeza.
1 CHRÉTIEN, Claude. A Ciência em ação. São Paulo : Papirus, 1994
2 SEGRÈ, Emílio. Dos quarks aos Raios X : Físicos modernos e suas descobertas. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1987.

Um comentário:

  1. O século das descobertas trouxe uma vida mais confortavel com o vírus do consumismo embutido. Na realidade foi aberta a caixa de Pandora.

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