domingo, 6 de abril de 2014

06—SAUDOSISMO: FAZ BEM A SAÚDE!


ANO
 8
www.professorchassot.pro.br

EDIÇÃO
 2735

Nada melhor que amenidades ligeiras para uma blogada dominical. Três locuções passaram por mim essa semana. Deram azo para evocações e busca de explicações. Junto-as num assamblage para fazer saudades neste domingo outonal.
1.- Fazer fita: quando usei esta expressão, achei-me démodé. Perguntei-me pela origem. Minha interlocutora sugeriu a ligação com ‘fita de cinema’; achei muito novo, mesmo que os ‘filmes’ não sejam mais ‘filmes’. Conferi: Fiteiro (quem "faz fita") é todo aquele que, em pequenos jeitos ou modos de ser, falar ou vestir, procura criar outra personalidade, na falta ou na pobreza da sua própria capacidade de bem impressionar.
A expressão "fazer fita" tem proveniência na cinematografia. O fato de se mostrar pública ou particularmente uma pessoa, por vaidade mais que por negócio, aos olhos de milhares de outras, arrancou do povo a sabedoria desta forma. A fita é hoje a espécie brasileira do show off.  
2.- Conversa para boi dormir: uma conversa mole ou lero-lero, ainda: desculpa esfarrapada ou mentira contada com a intenção de enganar alguém. As explicações para possíveis origens desta locução não me pareceram convincentes, como: que teria surgido numa altura em que a pecuária era de suprema importância para a população local. O boi era dos animais mais importantes e por tal, o boi tinha uma grande importância para os pecuaristas, que tratavam o animal quase como uma pessoa, e muitas vezes até conversavam com ele. 
3.- Às brincas ou às ganhas? Esta era a decisiva frase de abertura que faziam os meninos (não recordo de ter visto menina jogar bolinha de gude) quando jogavam bolitas às brincas, ou às ganhas? Isto é, o jogo é para brincar apenas, ou nele se pode perder as preciosas bolinhas de gude? Quem jogava ‘às brincas’ queria se divertir com o jogo, mas surgia no cenário um marmanjão que vinha só para jogar ‘às ganhas’ ou ‘às devas’ para valer ou para acumular mais posses, quem ganhava levava as bolinhas do perdedor.

5 comentários:

  1. Mestre!
    Foi emocionante ver o triângulo do jogo de bolita!
    Lembro do "boco" e também não recordo de ter visto guria jogando bolota!
    Concordo: saudosismo faz bem à saúde, especialmente se for às brincas.
    Marcelo

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Dando azo ao saudosismo, tempo bom era aquele em que teríamos essa conversa na mesa de um café.

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  4. Querido mestre!
    Que bom poder voltar novamente a ler o blog! A vida de prof na universidade parece estar me consumindo! Mas este semestre leciono novamente a disciplina Saberes Químicos Escolares e, nesta, a leitura de seu blog é semanal! Viva! Quanto ao tema, fiquei pensando nos regionalismos que o envolvem e nas diferentes formas que ele ganha... É assim que a "conversa pra boi dormir" eu também conheço como "conversa fiada", o "fazer fita" conheço como "fazer doce" e "fazer média" e jogar bolinhas de gude para nós era "as brincas ou as veras" ... Mencionando o fato das meninas não jogarem bolinhas de gude, realmente não o fiz, mas assistia a meu irmão. Confesso que não jogava por pura falta de coordenação motora. Nunca dominei o movimento de mãos que faria a bolinha correr, mas que tentei, eu tentei! Quanto às expressões, o fato de a linguagem ser metafórica e estarmos sempre brincando com essas expressões me anima muito, pois tem bases na criatividade humana. Tem um filme produzido em 2009, chamado O primeiro mentiroso, que trata um pouco da questão ao problematizar como seria nossa vida se falássemos apenas a verdade e nossa fala fosse tomada literalmente, sem considerar metáforas. É muito interessante pensar como seria a vida se a linguagem fosse tomada as veras e não as brincas... Um bom domingo e até a semana.

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  5. Bolinha de gude (bolita): Nesta, sinto uma doce nostalgia de um tempo em que a pressa do tempo inexistia. Sempre havia tempo...para mais uma partida.

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