quinta-feira, 3 de abril de 2014

03— MORREU JACQUES LE GOFF (1924—2014)


ANO
 8
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EDIÇÃO
 2732

Morreu, nesta terça-feira, dia 1º de abril, Jacques Le Goff. Uma das maiores autoridades mundiais em Idade Média, o historiador francês morreu em Paris, sua cidade natal, aos 90 anos.
Ele revolucionou a historiografia moderna e reabilitou a imagem da Idade Média europeia, mostrando-a como um período bastante mais dinâmico do que o humanismo renascentista quis fazer crer. Quando em 1994, escrevi A ciência através dos tempos (que neste 2014 teve a sua 28ª reimpressão), abria assim o capítulo 6, ensinado por Le Goff: Idade Média: noite dos mil anos ou...? Talvez, não haja período na história da humanidade envolvido em mais fantasias, como milênio que medeia os séculos 4º e 15, até porque sobre ele talvez, saibamos menos que sobre a Antiguidade que o antecedeu. Mas, muito provavelmente, a Idade Média não foi ‘a Noite dos mil anos’ descrita por alguns. A Europa, então já ensaiava tecnologias e a Alquimia envolve estudiosos. Surge a Universidade imbricada na Igreja”.
Le Goff autor de mais de 40 livros, entre os quais Uma Longa Idade Média (2004), foi escolhido 11 vezes doutor honoris causa na Europa e no Oriente Médio por ter se tornado uma referência em seu domínio de estudos.
Caçando lendas, Le Goff fundamentou sua grande linha de pensamento: a de que a Idade Média não fora uma era de obscurantismo, como se imagina. Essa revolução quebrou a lógica moderna, que ao longo dos séculos transformara o termo “medieval” em um adjetivo pejorativo. Le Goff viu na Idade Média muito mais do que doenças, miséria, ódio, guerras e opressão. Para ele, o período também foi sinônimo de alegria, de idealismo, de arte e de amor.
Essa visão da história foi deixada pelo francês em livros como A Civilização do Ocidente Medieval (1964), O Nascimento do Purgatório (1981) e O Imaginário Medieval (1985). Nestes e em outros livros, sua mais importante contribuição foi a consistência e a profundidade transdisciplinar com que desmistificou a Idade Média, desenvolvendo uma análise sobre o período, que incluiu revoluções sociais e intelectuais pouco conhecidas ou menosprezadas nos nossos dias.
O historiador francês pertencia à terceira geração de historiadores da escola dita dos Annales. A sua concepção de antropologia histórica e o seu interesse pela história da cultura e das mentalidades, de O Nascimento do Purgatório à monumental biografia do rei São Luís, distinguem-no dos modelos de interpretação social e econômica de Fernand Braudel, representando um modo criativo de retomar o legado da revista fundada em 1929 por Marc Bloch e Lucien Febvre. Le Goff, ao lado de outro francês, Pierre Nora, foi responsável pela terceira onda dessa escola, lançando nos anos de 1970 a chamada Nova História. A partir de então, ele renovou seu papel, buscando inspiração na antropologia para fundamentar interpretações e análises mais vastas, o que lhe permitiu romper clichês.
Daqui para a frente, ele próprio fará parte da História. Nos últimos anos de vida, embora sua saúde se degenerasse, continuava ativo e lúcido, trabalhando em seu escritório, sempre cercado de milhares de livros.
(Apoiado em notícias de Zero Hora de Porto Alegre e O Público de Lisboa)

2 comentários:

  1. A Idade Média guarda um "que" de poesia mágica que conquista a todos. O ser humano ainda não estava contaminado pelo consumismo e as relações humanas eram mais autênticas. Não se produzia em série, as coisas eram feitas com carinho.Dá para entender a paixão de Le Goff pela era.

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  2. Salve, Antônio Jorge!
    parece muito adequada e provida de consistência histórica a tua conjectura para explicar como o Le Goff deu outra leitura ao adjetivo medievo.
    Talvez, devamos pensar em nos refontizar e sermos mais medievos.
    A admiração do

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