segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

13.—LUTO & RAIOS E PARA-RAIOS

ANO
 8
em fase de transição
EDIÇÃO
 2651

Não é possível abrir esta edição sem fazer uma referência à imensa tristeza que se abateu sobre a Gelsa e em mim na madrugada deste domingo. Recebemos a notícia que Inácio Welter, 44 anos, sofrera afogamento, no começo da tarde de sábado, em um grande e profundo açude na localidade de Tainhas, na divisa de São Francisco de Paula e Cambará do Sul, na região dos Aparados da Serra. Ele é esposo da Cristiane Backes Welter, e estava com ela e os dois filhos pequenos em um passeio com colegas. Cristiane foi aluna de doutorado da Gelsa e foi minha aluna no Mestrado. Foi, também, uma eficiente secretária do Programa de Pós Graduação em Educação da Unisinos nos quatros anos que estive na coordenação do mesmo. Por ser Cristiane uma mulher batalhadora e uma pessoa muito querida, temos por ela, há vários anos, uma grande admiração e muito carinho. Durante o domingo vivemos a expectativa, não concretizada, da localização do corpo, para que a família e os amigos pudessem iniciar uma mais concreta e dolorosa despedida.
Esta blogada se tece na esteira da edição dominical no amealhar coincidências a partir da mesma. Escrevia então que todo meu conhecimento acerca de Benjamin Franklin — autor do mote oferecido à reflexão dominical — se resumia a seu invento tão importante ainda hoje: o para-raios, por meio de experimento audacioso com cauda de uma pandorga para demonstrar que o raio era um sistema eletrizado.
No exato momento em que escrevia aquela edição, na manhã de sexta-feira, Porto Alegre estava sob uma imensa tempestade elétrica e pelo menos dois raios foram atraídos pelo para-raios de meu prédio. Como tenho meu gabinete de trabalho no último piso (quase) vi os raios caindo, quando o troar chegou dar a impressão de que edifício tremia.
Alguém, mais rigoroso, poderá perguntar se os raios caíram ou subiram. Aqueles que referi, e a grande maioria dos raios que vemos, certamente caem. Mas há raios ascendentes. Alguns raios sobem, em vez de descer à Terra.
Os raios ascendentes são considerados artificiais (o da foto — da revista Ciência Hoje — é um destes), porque dependem de construções humanas para ocorrer. Acontecem em locais altos com alguma estrutura metálica. Quando uma nuvem passa por um lugar assim, atrai as cargas elétricas do solo. Nesse momento, a estrutura metálica, que pode ser uma torre de transmissão de sinal de TV ou um arranha-céu, por exemplo, funciona como uma espécie de canal para toda a carga elétrica ir do solo até o céu e… acontece um raio ascendente. Esses raios são bem raros — apenas 1% dos raios sobem em vez de descer.
Atualmente, o Brasil é o país que apresenta o maior índice de raios por ano – cerca de 70 milhões –, especialmente na estação mais quente do ano. Em segundo lugar, está a República do Congo com 45 milhões de raios por ano e os Estados Unidos, em terceiro lugar, com a queda anual de 30 milhões de raios. No caso do Brasil, a justificativa pode estar associada à grande extensão territorial.
Os raios são um fenômeno comum em regiões tropicais, e sendo o Brasil o maior dos países tropicais, é normal que ele seja um dos mais atingido. A região centro-sul é a que apresenta maior incidência, principalmente o sul do Mato Grosso do Sul.
Entre 2005 e 2008, houve um aumento de 102,7% na incidência de raios no país. Uma hipótese para o aumento constante desses números está sendo estudada pelos cientistas do INPE em parceria com a NASA. Segundo eles, o aquecimento global pode estar contribuindo para o fenômeno. Isso ocorreria porque, com mais raios, mais florestas são incendiadas, aumentando o efeito estufa. Esses incêndios liberariam mais dióxido de carbono - CO2, aumentando o número de raios e alimentando o ciclo. Os cientistas acreditam que, a cada grau de aquecimento da temperatura terrestre, a incidência de raios aumente de 10% a 20%.
Ainda quando escrevia sobre o invento de Benjamin Franklin tomava conhecimento que pelo menos três pessoas morreram e 15 ficaram feridas na última quinta-feira em balneário argentino, situado na província de Buenos Aires, pela queda de um raio. Os mortos são dois homens e uma mulher, enquanto entre os feridos há dois em estado grave que foram transferidos ao hospital local. As primeiras versões sobre o fato indicaram que o raio caiu na praia, em um setor de barracas, onde os turistas tinham se refugiado perante a iminente chegada de uma tempestade elétrica.
Esta é uma edição que fala de dor. Nela a imensa solidariedade à Cristiane e aos seus familiares.

5 comentários:

  1. Nesse momento de perda e dor, de fragilidade diante das manifestações violentas da natureza, é que nos damos conta de como somos impotentes diante do universo. A vida nos leva as pessoas queridas nos momentos mais imprevisíveis e das mais diversas formas. Resta-nos a fé em uma força maior para encontrar algum senso do que é justo, ou pelo menos a esperança de que aquele que se foi esteja em melhor lugar.
    Abraços

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    1. Muito querido colega e amigo Antonio Jorge,
      quando comparo dois dos óculos para ohar o mundo: 1) aquele usado pelos que usam as religiões ancoradas na fé; 2) o os que se servem da ciência marcada pelo racionalismo, não posso de deixar de reconhecer a vantagem (leia-se: conforto) que detêm os que usam o primeiro dos óculos.
      Não tivesse outro argumento, tomaria apenas o excerto final de teu comentário: a expectativa de que os que partiram estejam em um melhor lugar.
      Está a síntese confortadora para uma pessoa de fé.
      Ontem acompanhei um pouco diferentes manifestações endereçadas a enlutada Cristiane. As mensagens dos que têm fé parecem ter mais bálsamo a oferecer.
      Obrigado por teu autêntico comentário.
      A admiração do
      attico chassot

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  2. Segundo especialistas no assunto, a Religião tem início na "morte. Ou, "com a morte". Pela ausência da certeza da resposta da filosófica e fundamental questão: Para onde vamos?
    Raios, Para-Raios. Realmente, a natureza é complexa, porém decifrável.
    Boa semana.

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  3. RAIANDO
    Estaí uma coisa curiosa simplesmente
    Benjamin Franklin empinando papagaio
    Mostrou de maneira bastante inteligente
    A potencialidade elétrica do ruidoso raio

    Esse polímata, filósofo, cientista amador
    Que no seu tempo dominou a sapiência
    Era estudioso que tudo fazia com rigor
    E atuou no desenvolvimento da ciência

    Se apenas pára-raios e fizesse mais nada
    Um grande prócer mesmo assim seria
    Pois tinha uma fabulosa mente iluminada

    Além de criatividade e muita ousadia
    Ben Franklin, Da Vinci daquela quadra
    Na séria da ciência colocava poesia.

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  4. Ao nosso Grande Mestre chassot: Quando um amigo se vai é sempre uma perda irreparável. Quanto aos raios de qualquer forma atitudes e cuidados simples,podem evitar prejuizos e acidentes. Um forte abraço Ley

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