quinta-feira, 28 de novembro de 2013

28.— FATALIDADE: O QUE ISSO?

ANO
 8
em fase de transição
EDIÇÃO
 2604

A vida vai se construindo de vivências. Abrir uma blogada com uma afirmação tão óbvia, parece desvalorizar meus leitores. Quisera, todavia, fazer o contrário.
No filme “A Guerra do fogo” [JEAN-JACQUES ARNAUD (diretor, detentor do “Cesar’ de melhor diretor em 1981) /Roteiro de Anthoni Burgess (La Guerre du feu) Produção França e Canadá // 100 minutos // 1981 // Legendado em Português // Colorido // Com: Everett McGill, Rae Dawn Chong, Ron Perlman, Nameer El Kadi]* fazemos um mergulho no tempo em busca de uma das maiores conquistas da humanidade: o domínio do fogo. Filmado em paisagens da Escócia, Islândia, Canadá e Quênia este belo trabalho de Arnaud recria o mundo como talvez fosse há 80.000 anos. O filme apresenta, com mais informações, dois grupos de hominídeos de tempos imemoráveis: um que cultuava o fogo como algo sobrenatural e outro que dominava a tecnologia de fazer o fogo. Em termos de linguagem, o primeiro não está muito longe dos demais primatas, emitindo gritos e grunhidos quase na totalidade vocálicos. Há outros elementos culturais, como habitações e ritos, que denotam um maior grau de complexidade na cultura do segundo grupo em relação ao primeiro. Há um enfrentamento entre as duas tribos e se pode observar o surgimento da necessidade da comunicação.
* CHASSOT, Attico.; RIBEIRO, Vândiner. O fogo catalisador de guerras que já são milenares. In: Bernardo Jeferson de Oliveira. (Org.). História da Ciência no Cinema 2 - O retorno. 1 ed. Belo Horizonte: Argvmentvm, 2007, v. 2, p. 85-94. ISSN: 9788598885131
Por benesses do ofício já assisti este filme mais de uma dezena de vezes. Sempre me surpreendo com uma cena patética, talvez vivida por ancestral nosso: este, após roubar o objeto maior de uma guerra entre dois grupos e levar o troféu (um pedaço de madeira em combustão) para os seus, ao atravessar um rio, ainda não sabe que a água apaga o fogo; ao molhar sua presa, se esvai sua conquista.
Que aprendizado valioso houve então. Justificada está minha óbvia frase vestibular. Estamos sempre aprendendo.
Há poucos dias (mais precisamente no último dia 12: um desconcerto meteorológico) contei aqui uma experiência de trauma. Quando ante a uma chuvarada diluviana revivi o pânico de uma possível inundação de minha casa, como a que eu sofrera em 20 de fevereiro.
Hoje falo de fatalidade. Cada uma e cada um já viveu fatalidades. Esta semana a justiça arquivou um processo contra a prefeitura de Porto Alegre, em ação movida por morte de uma pessoa, motivada por queda de uma árvore, em parque público. Argumento: foi uma fatalidade, pois externamente não se podia inferir que a árvore estava frágil. Se a vítima, em sua caminhada, tivesse passado um minuto antes ou um minuto depois, não teria sofrido morte fatalista. Aqui um comentário: diferente do senso comum, fatalidade não resulta, necessariamente, em morte. Pode-se considerar uma fatalidade uma ação que ocorre ferindo a nossa liberdade, ou ainda, uma ação fortuita (= fugaz, inesperada) que determina consequências indesejadas. Se alguém, sem o desejar, fecha a porta de sua casa, sem ter a chave, pode ser uma fatalidade. Não é se a pessoa tem fácil acesso a uma cópia da chave.
Vivi, por sete dias, consequências de uma fatalidade. Uma desatenção de um segundo foi fatal por uma semana.
Na última quinta-feira, às 14h, deixei o hotel em Divinópolis. Às 17h, ao fazer o check-in em Confins, a sacola que portara comigo, durante as três horas de viagem, pareceu-me mais leve que o usual. Apalpei-a; tudo parecia certo. Escolhi um lugar para passar 4 horas até o embarque. Tinha textos a revisar. Abro a sacola: o notebook não estava.
Ligo para hotel, sonhando com um hóspede que pudesse estar deixando o hotel e trazer minha preciosa ferramenta de trabalho. Nada. Recebo do gerente a promessa de envio por correio.
Desde então, até à tarde de ontem, rememorei a cada instante, aquele segundo fatal, que não prestei atenção ao deixar o apartamento. Foram sete dias complicados, buscando alternativas marcada pela (des)ilusão que o meu notebook devia estar chegando.
Além de queridas solidariedades tive um lance de muita sorte (talvez, antônimo de fatalidade). Avisara o porteiro de minha espera. Isto foi decisivo para que, na tarde de ontem, ele tivesse despertada sua atenção a um papelucho roto, quase ilegível que anunciava que deveria ir a determinada agencia postal e pagar R$ 81,50 para reaver um dos meus bens materiais mais preciosos.
Sei que há fatalidades e fatalidades. A minha poderá ser classificada como uma fatalidadezinha. Mas, foi sentida e me amargou uma semana. E, assim como meu ancestral remoto aprendeu que a água apaga o fogo... eu aprendi muito em decorrência de um instante de desatenção. 

4 comentários:

  1. O curioso nesses casos que é comum escutar que essas desatenções é "coisa de velho". Não paro de escutar isso. Acontece que ultimamente rotineiramente levo de carro pela manhã minha jovem filha que termina engenharia ambiental na UFF. E quase todos os dias nosso percurso inicial é interrompido por um : "Pai, espera ai volta que esqueci meu celular/riocard/ crachá/carteira/chaves etc." Faço a volta pacientemente e quando estamos já a porta ela nos avisa. "Não pai, pode ir, já achei aqui no meu bolso"
    Problemas "velhos" de gente.
    abraços

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  2. Limerique

    Ao constatar a perda um choque
    No hotel deixara seu notebuque
    Chassot ficou "mudo"
    Perdera quase tudo
    Mas já voltou a ser aquele craque.

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  3. Limerique

    Nos primórdios começou o jogo
    Do qual jamais haverá análogo
    Definiu-se a civilização
    Por sua posse ou não
    Maior descoberta do homem, o fogo.

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  4. Limerique
    Há coisas que independem da vontade
    Que não causadas, ocorrem na verdade
    De danosos efeitos
    Daninhos a sei jeito
    Aos quais denominamos fatalidade.

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