segunda-feira, 18 de novembro de 2013

18.- RAPIDAÇÃO... NEM TANTO


ANO
 8
www.professorchassot.pro.br
em fase de transição
EDIÇÃO
 2594

Há um tempo, mais precisamente na última quarta-feira, surpreendia-me que, deixando Porto Alegre no começo da manhã, à tarde já fazia palestra no interior da Bahia a mais de 2.500 km; também já fizera isso, quando de viagens a Manaus, a mais de 3.200 km. Fiz então, loas à rapidação dos tempos hodiernos, se comparados com aqueles de nossos avós, ou mesmo de nossos pais. Agora, convenço-me que não vivemos tão ágeis.
Neste domingo, balanceei alguns tempos, relacionados com minha última viagem (em dados aproximados): minha ausência de casa: 36 horas. Destas: 18 h de estada em Cruz das Almas; a outra metade foi consumida em 4 voos, 9 horas; 5 horas de viagens terrestres e 4 horas de esperas em aeroportos.
Ante uma notícia de jornal de domingo: Desde 1997, São Paulo ganhou mais carros (1,4 milhão) que moradores (1,3 milhão). A cidade tem hoje 12 milhões de habitantes e uma frota de cerca de 7,5 milhões. Aproximadamente, cada 3 habitantes têm 2 carros.
Quantos devem ter dois ou mais carros? Outro dado significativo: nos últimos 30 anos, a velocidade média no trânsito urbano caiu cerca de 40%.
Trago informações que estão em A ciência através dos tempos: Em 1895 os automóveis eram muito raros. Mas, dois anos mais tarde, quando Ernest Rutherford visitou a exposição do Cristal Palace, em Londres, escreveu o seguinte para sua mãe [depois que deixou a Nova Zelândia, onde nasceu, escreveu regularmente cartas a sua mãe, a cada duas semanas, até ela morrer aos 92 anos]: "O que mais despertou o meu interesse foram as carruagens sem cavalos, duas das quais estavam treinando nos pátios em frente" (p. 209).
Essas carruagens andavam cerca de 20 km por hora, mas faziam muito barulho e chacoalhavam. Mesmo sem automóveis havia acidentes de trânsito, quando os cavalos que puxavam cabriolés ou charretes escapavam ao controle. Veremos que a ciência perderia um de seus maiores nomes em um desses acidentes [Aqui, o aceno é à morte de Pierre Curie em 1906, colhido por uma carroça, com tração animal].
Pois, parece que em tempos muito próximos, vamos voltar a velocidades próximas àquelas dos primórdios dos automóveis [O automóvel movido a combustão interna foi criado pelo engenheiro alemão Karl Benz (1844-1929) em 1886; antes havia carros movidos a vapor ou a eletricidade].
A situação de cada vez maiores engarrafamentos não é ônus apenas de megalópoles como São Paulo. Mesmo pequenas cidades vivem esse trauma cotidiano, explicável por uma elementar operação de aritmética que pode ser feita a cada mês: carros que entram em circulação menos carros retirados de circulação. O saldo é um número muito significativo. Há ainda algo mais impactante (e imbecil): aumenta o uso de automóveis maiores e mais potentes.      
Parece só existir uma solução: irmos no contra fluxo das políticas atuais: desestimular o uso dos automóveis. Sei que falei o óbvio. Mas ele também precisa ser lembrado, pois parece que em relação às carruagens, apenas colocamos burros (que antes as tracionavam) como condutores.

5 comentários:

  1. Professor!
    AMEI o blog de hoje: poético, erudito, informativo e ainda por cima militantemente atual (faltou talvez mencionar a poluição causada pelo carro...)
    Um beijo,
    K G

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  2. Limerique

    Onde que essa sociedade quer chegar?
    Correndo amoque para qualquer lugar?
    Automóveis aos milhões
    Só aumenta os esbarrões
    Quanto mais carros mais anda devagar.

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  3. Limerique
    Vejam, agora estou motorizado!
    Um carro me levará prá todo lado
    Mas a verdade nua e crua
    É a realidade da rua
    No rolo do trânsito fico parado.

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  4. Querido Chassot, tudo bem?

    Tua postagem coincide com o vídeo que postei hoje no Facebook: uma reflexão sobre quanto custa o uso dos automóveis para as cidades. O vídeo aborda o México, mas se aplica a qualquer cidade. Está disponível em https://www.youtube.com/watch?v=Ndt6UOZBfVI

    Grande abraço,

    PAULO MARCELO

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    Respostas
    1. Muito querido Paulo Marcelo,
      obrigado por retornares depois de tão longa ausência.
      Vibrei.
      Publico na edição de amanhã teu oportuno alerta.
      O vídeo é provocativo.
      Saudades
      attico chassot

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