sábado, 16 de novembro de 2013

16. – (TALVEZ) UMA HISTÓRIA DE AMOR

ANO
 8
LIVRARIA VIRTUAL em
www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 2593

Chegava de uma extensa viagem que começara há 11 horas no interior da Bahia. Não imaginava que a última etapa seria tão custosa. A fila para apanhar um taxi era quilométrica. Claro que o adjetivo está exagerado. Mas havia mais de 50 passageiros a minha frente. E, pior, de vez em vez, vinha um taxi para fazer uma movimentação em minha posição, levando a aproximar-me do ponto de embarque vagarosamente.
Eu alternava meus olhos entre a largada e um ponto remoto de onde afloravam taxis. Tudo era muito lento. Fiz alguns telefonemas. Estimei demoras. Olhava os que estavam próximos. Nem aos da frente, nem aos de atrás me animavam a propor uma carona solidária. Somos cidadãos solitários.
Na minha frente uma moça com uma volumosa mala. Na frente dela um rapaz apenas com uma discreta mochila. Eu estava voltando de uma viagem na qual deixara minha casa no dia anterior, logo com uma malinha. Atrás, uma senhora com bagagens que denotavam ter vindo de compras em Miami.
Aproximava-se a minha vez. O largador — figura que há um tempo coordena os embarques tanto no aeroporto como na rodoviária — perguntou aos meus dois predecessores se estavam sozinhos ou acompanhados. Uma e outro responderam que estavam sós. “Ótimo!”, disse o largador. Sem refletir, corrigi: “Péssimo!”
Houve certo constrangimento. Intervi, uma vez mais. Talvez pudéssemos economizar um carro, e favorecer a outros. “Meu destino é o começo da Dona Laura!” disse a moça. “Podemos ir juntos, pois vou para a Mostardeiro, próximo a Miguel Tostes!” exclamou feliz o rapaz. “Vamos juntos!” disseram uníssonos.
Embarcavam. Olhei para a imensa fila que havia atrás de mim. Vi que nenhum carro surgia no mais remoto horizonte. Venci a timidez. Acheguei-me aos dois felizardos já embarcados e ao motorista. “Vou para a Mariante, entre a Castro Alves e Dona Laura, posso ocupar o lugar vago no assento da frente? Assumo o custo da viagem” Mais uma vez um uníssono, agora a três vozes: “Claro!”.
Tomei o meu lugar. Propus-me não intervir na conversação que já rolava entre os jovens. Limitando-me a agradecer.
Seu Silvino nos alertou que recém viera de ponto próximo nosso destino e levara quase duas horas (usualmente levo 20 minutos neste trajeto), pois neste entardecer, véspera de feriadão, parece que colocaram nas ruas todos os carros. “Não há problemas!” disseram os jovens.
Eu fiz um roteiro de ordem de deixada dos dois, de tal maneira que eu seria o último. Eu conversava com seu Silvino. Contou-me sua história. Viera de Sombrio, em Santa Catarina, já há mais de quarenta anos. Aposentara-se como torneiro mecânico. Há três anos trabalhava como taxista.
Mas enquanto trocávamos histórias, estava de ouvido na discreta conversa do banco traseiro. “Esta vinda a Porto Alegre é para organizar meu retorno; volto a morar aqui depois de 10 anos. Meus pais precisam de mim. Consegui uma posição como arquiteto, melhor que aquela que tinha em Recife.” “Eu estou voltando para casa, depois de quase um ano de doutorado sanduíche em Filosofia das religiões em Heidelberg. Há novas realidades, pois um namorado não resistiu há meses de separação...” “Nisso temos uma semelhança. Este meu retorno, teve perdas sentidas. Minha noiva não quer trocar o tórrido Nordeste pelo gélido Sul!”
Estava com muita vontade de participar da conversa. Gostaria de saber da tese da Michaella. Anunciara que seu nome era com ch e não com k e dois eles, ao trocar telefones com Bruno. O trânsito ficara menos denso e em menos de 45 minutos chegávamos ao destino de Michaella. Bruno anunciou que desceria junto, pois era muito perto e a lamentavelmente a duração da viagem não teve o tempo estimado. Havia assuntos que não concluíram. Entregaram a seu Silvino cada um uma nota de 10 reais, como participação deles no custo da viagem.
Desci para despedir-me dos dois e dar meu cartão, dizendo que éramos vizinhos e estava disponível de uma e de outro para alguma ajuda. Anunciei que, como estudioso de História e Filosofia da Ciência interessava-me pelos estudos de Michaella. Ela deu-me seu correio eletrônico.
Quando deixamos os dois, seu Silvino e eu tivemos a mesma impressão: pareciam dois pombinhos conversando na Miguel Tostes onde nasce a Dona Laura. Talvez nascesse ali uma linda história de amor.
Qualquer dia vou enviar uma mensagem para saber da ‘tese’...

2 comentários:

  1. Muito querido Mestre!
    Adorei a historia de amor de minha quase xará. Como a ‘filósofa das religiões’ tenho que fazer sempre alertas acerca da escrita de meu nome.
    Torço para que ela fique com Bruno.
    Se isso ocorrer o senhor deverá ser o padrinho do casamento, pois foi o Cupido.
    Um bom sábado e parabéns pela linda história.
    Michaela

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  2. Limerique

    Seja no táxi, ônibus ou avião
    Sempre é local tempo e ocasião
    Para encontros fortuitos
    As vezes curto circuitos
    Que afloram nos jovens uma paixão.

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