terça-feira, 29 de outubro de 2013

29.— MAL EDUCADOS & UMA NOITE INSONE


ANO
 8
LIVRARIA VIRTUAL em
www.professorchassot.pro.br
EDIÇÃO
 2575


Quando empunhamos uma bandeira e encontramos parceiros, ganhamos uma injeção de ânimo. A violação à nossa causa pode ser estímulo a não esmorecermos em nossa defesa. Na última noite na qual o sábado se transmutou em domingo, os convivas de um fino restaurante do bairro onde moro resolveram antecipar o carnaval. Avançaram na madrugada, desrespeitosamente, com um barulho ensurdecedor.
Na edição do dia 10 deste mês, ao clamar por silêncio, ou melhor, por menos barulho, nas academias de ginástica, trouxe uma entrevista com o renomado pesquisador Iván Izquierdo, do Centro de Memória da PUCRS, da qual retomo um breve excerto: “O ruído constante traz impactos mentais. O barulho extremo era uma forma de tortura nas prisões, por exemplo. O barulho que nos distrai, que nos impede de perceber o que está acontecendo, pode ser fatal. É perigoso. É uma das grandes causas de estresse. E estresse se morre”.
Na Folha de S. Paulo deste domingo, o crítico de arte e poeta Ferreira Gullar, em sua crônica semanal recordou uma tragédia recente: “Não faz muito tempo, um cidadão de mais de 60 anos invadiu o apartamento acima do seu, aqui no Rio, e matou a tiros o casal que morava ali; em seguida, suicidou-se. E qual foi a causa dessa tragédia? Barulho, excesso de barulho”. Todos concordamos que se trata de um caso extremo, mas não deixa de ser indicativo do alto nível de ruídos de todo tipo que atormenta nosso cotidiano.
O barulho parece fazer parte da cultura brasileira, pelo da população urbana. Tenho uma relação de trabalho em uma cidade gaúcha, que exige que viaje para lá durante a noite. Mais de uma vez fui impedido de uma ‘descansadinha’ após o almoço, porque é natural que um carro de som, faça propaganda móvel pelas ruas centrais. E quem reclama é, no mínimo, um chato.
E tanto isso é verdade, ou seja, que o barulho é parte de nossa cultura, que Ferreira Gullar, na crônica antes referida destaca “que os órgãos oficiais não apenas se omitem no combate à poluição sonora, como, pelo contrário, ajudam a poluir. Quer um exemplo? As sirenes dos carros de bombeiros e dos carros de polícia. Quando qualquer um desses veículos passa em frente a minha casa, corro e fecho as janelas, além de tampar os ouvidos. São sirenes absurdamente estridentes, que soam numa altura alucinante e sem necessidade, sem razão plausível. A finalidade dessas sirenes é abrir caminho, no trânsito, para esses veículos. Ou seja, basta que os motoristas que estão à frente do carro da polícia a ouçam para que ela cumpra sua função. Não é necessário que todas as pessoas num raio de centenas de metros tenham de ser atordoadas por tais sirenes, nem quem está a várias quadras de distância nem muito menos quem está em seu apartamento, vendo televisão, conversando ou dormindo”.
Realmente há que concordar com Ferreira Gullar: eu não preciso saber que uma ambulância célere está pedindo passagem ou que o caminhão dos bombeiros está correndo em uma avenida que nem posso ver. Não vejo, mas os ouço. O pior é quando temos a seleção musical, usualmente de gosto díspar do nosso, do jovem que estaciona seu carrão em nosso quarteirão.
Talvez valesse conscientizar-nos que: menos barulho possa significar mais saúde.

3 comentários:

  1. Limerique

    Nos centros urbanos nossa audição
    É submetida à constante agressão
    Um mal que se esconde
    Mas, isso vem de onde?
    Simples, vem da falta de educação.

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  2. Prezado Mestre Chassot, compartilho sua indignação pois sinto-me revoltado com a atual crise de valores que vivemos. Nossa juventude retrocedeu em seus festejos com suas manisfestações equiparando-se aos rituais indígenas, com direitos a gritos, argolas pelo corpo, cabelos coloridos, vestes exóticas ou nenhuma veste, muito batuque etc.. Tudo para afastar os "maus espíritos". Só que para esses silvícolas citadinos do século XXI os maus espíritos somos nós simples mortais que perdemos o nosso direito a uma vida normal. E não são só jovens mal educados, afinal eles crescem e ficam adultos como tal. E no compasso do desgovêrno em que vivemos, é como o senhor bem disse, somos apenas os chatos.

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  3. Grande Mestre Chassot,
    — menos barulho significa mais saúde —
    ao paladino da Educação em Ciências se associa, há um tempos, o defensor de nossos direito a uma saúde mental onde o barulho desnecessário deve e pode ser exorcizado. O poemeto do Jair deveria ser afixado em todod os restaurantes. O que diz o Antônio nunca tinha me ocorrido: somos nós ‘ditos chatos’ que somos expulsos nestes rituais satânicos(= barulhentos).
    Conte com minha pareceria nesta campanha:
    menos barulho significa mais saúde.
    Mirian

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