sexta-feira, 26 de outubro de 2012

26.- COMO SE CONSOME JORNAIS



Ano 7*** WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR ***Edição 2277
Há um pouco mais de uma semana (QUA17OUT) contei aqui de uma experiência de uma conversa de almoço na UNICAMP onde eu era o único que lia (ou assinava) jornal em suporte papel. Senti-me da ‘idade da pedra’. A curiosidade levou-me querer saber quem lê os quase 700 jornais diários pagos que circulam no Brasil. Na página da Associação Nacional de Jornais [www.anj.org.br] há informações preciosas e assim não as trago aqui. No meu imaginário, por exemplo, seria um hábito masculino. Não! É praticamente igual o percentual entre homens e mulheres.
Nos meios jornalísticos é quase senso comum apontar a imprensa como um 'grande poder' dentro do Estado. É quase indiscutível a sua importância atual. Dificilmente se pode avaliar todo o seu prestígio.
Carlos Heitor Cony, no meu juízo um dos mais categorizados cronistas hodiernos — diz que em realidade, é missão da imprensa continuar a educação do povo até uma idade avançada. Se aceitarmos isso, há que convir quanto ele falha nisso. A manipulação acerca do desfecho da novela na semana passada é um exemplo de deseducação (Contracapa da Ilustrada da Folha de S. Paulo, 21SET12).
Para Cony (idem), “os leitores de jornais podem ser divididos em três grandes grupos: 1º, o dos que acreditam em tudo que leem; 2º, o daqueles que já não mais acreditam em coisa alguma; 3º, o dos que submetem tudo o que leem à crítica para chegarem a um julgamento seguro.
O primeiro grupo é muito mais numeroso que os outros. Compõem-se da grande massa do povo e, por isso mesmo, da parte intelectualmente mais fraca da nação. Não pode ser designado por classes, mas pelo grau de inteligência.
A esse grupo pertencem todos os que não nasceram para ter pensamento independente ou não foram educados para isso e que, em parte por incapacidade e em parte por falta de vontade, acreditam em tudo que lhes é apresentado em letra de fôrma. A essa classe também pertencem os preguiçosos que podem pensar mas, por mera indolência, agradecidos, aceitam tudo o que os outros pensam, na suposição de que esses já chegaram a essas conclusões com muito esforço.
Para toda essa gente, que representa a grande massa do povo, a influência da imprensa é fantástica. Eles não estão em condições, por falta de cultura ou por não o quererem, de examinar as ideias que se lhes apresentam. Assim, a maneira de encarar os problemas do dia é quase sempre resultado da influência das ideias que lhes vêm de fora.
Essa situação pode ser vantajosa quando os esclarecimentos que lhes são dados partem de uma fonte séria e amiga da verdade, mas constitui uma desgraça quando têm sua origem em pulhas e mentirosos.
O segundo grupo é muito menor quanto ao número. Em parte é composto de elementos que, de começo, pertenciam ao primeiro grupo e que, depois de amargas decepções, passaram para o lado oposto, e não acreditam em mais nada que lhes seja apresentado em forma impressa. Esses têm ódio a todos os jornais, não os leem ou irritam-se contra tudo o que neles se contém, convencidos de que neles só se encontram mentiras e mais mentiras. É difícil manobrar com esses homens, porque para eles a própria verdade é sempre vista com desconfiança.
O terceiro grupo é de todos o menor. Compõe-se dos espíritos de elite que, por naturais disposições intelectuais e pela educação, aprenderam a pensar com independência, que, sobre todos os assuntos, se esforçam por formar ideias próprias e que submetem todas as suas cuidadosas leituras a um crivo pessoal para daí tirar consequências.
Esses não lerão nenhum jornal sem que as ideias recebidas passem por um exame. A situação do editor não é nada fácil.
Para os que pertencem a esse terceiro grupo, o erro que um jornal possa perpetrar oferece pouco perigo e é de muita significação.
No decurso de sua vida, eles se acostumaram a ver, com fundadas razões, em cada jornalista, um patife que, só por exceção, fala a verdade. Infelizmente, o valor desses tipos brilhantes jaz apenas na sua inteligência e não no número, o que constitui uma infelicidade em uma época em que a maioria e não a sabedoria vale tudo!"

Um comentário:

  1. Acrescentaria ao relato do Mestre um comentário que acredito expressivamente inerente. A imprensa é parte da cadeia capitalista. Nem tudo que é bom, culto e verdadeiro é venal. Ai começa a derrocada. Na caça insana ao lucro manipulam-se verdades, se torcem os fatos, fabricam-se escândalos. E ao povo o "pão e circo" é o providente santo Graal. É impressionante constatar como as fofocas sobre a vida particular das personalidades da telinha mágica interessam tanto a um grande segmento da população. Nas manifestações culturais como a música o quadro é o mesmo, bastam grunidos, movimentos eróticos e está pronta uma melodia de sucesso nacional e até mundial. Basta olhar uma criança ensaiando ainda os primeiros passos, ao ouvir tais melodias balança o corpinho reconhecendo a canção. Caminhamos a passos largos para uma bestialidade mundial.

    Abraços

    Antonio Jorge

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