sábado, 8 de setembro de 2012

08.- Y LA IGLESIA INVENTó A LA MUJER



Ano 7*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2229
A blogada sabatina, com sabor de feriadão, abre com a comemoração de dois aniversários em meu clã. Hoje o meu precioso neto Felipe, filho da Ana Lúcia e do Eduardo faz dois anos. Aniversaria também a Tatiana, que com meu filho André, brindou-me com o Pedro, um neto querido. A um e outra, afagos prenhes de votos de muitas felicidades.
Sempre me pergunto o que determina a eleição da leitura de um livro: obrigação acadêmica / sugestões de amigos / resenhas / visita a livrarias (e, aqui as físicas levam vantagem sobre as virtuais). Curto visitar livrarias. Sou muito sugestionado pelas capas e orelhas, especialmente quando estas oferecem informações sobre a obra e seu autor.
E são as minhas leituras que determinam, de maneira mais usual, as ofertas de pistas de leituras que há mais de quatro anos marcam as edições sabatinas deste blogue.
Trago hoje um livro que adquiri há menos de dois meses em Buenos Aires, cidade onde para mim as livrarias se fazem ícones.
Comprei, por mirada ao acaso, então, Y la Iglesia Inventó a la Mujer, da italiana Michela Murgia. Não tinha nenhuma referência. A capa (a arte e o texto) que determinou minha escolha. Em algumas leituras de viagens vi que fizera uma boa escolha. Lateralmente, devo dizer — não sem lamentos — que cada vez leio menos em suporte papel. Hoje se a internet não funciona em um ônibus não me causa dissabor, pois assim leio livros (de verdade).
Mas eis a dica sabática de leitura.
MURGIA, Michela; Y La Iglesia Inventó a la Mujer [original italiano: Ave Mary. E la Chiesa invento la donna. Tradução para o espanhol, Teresa Clavel Lledó.] Barcelona/Buenos Aires: Salamandra. Coleção: Reflexiones. 1ª ed. Espanha, maio de 2012; 1ª ed. Argentina julho de 2012. 192p. 220x138x012mm. Ilustração de capa: a Virgem rezando de Sassoferrato (The National Galery, Londres/ Scala, Florença. ISBN: 978-84-9838-457-4
Michela Murgia nasceu em Cabras, na Sardenha em 1972, onde vive. Diplomou-se em uma escola técnica e realizou estudos de teologia.
É autora de um livro de viagens (um guia atípico sobre a ilha de Sardenha) e de um diário tragicómico de um emprego onde esteve durante um mês.
Seu livro Acabadora (ISBN 978-85-7962-128-3. Alfaguara / Objetiva, lançado 2012) colocou-a solidamente no panorama literário italiano como uma das vozes mais originais e interessantes a surgir nos últimos anos.
Accabadora (em italiano) lançado na Itália em 2009 onde ganhou seis prêmios literários. Accabadora é um termo da Sardenha para um anjo de misericórdia, que atende a doentes crônicos e moribundos, agindo como uma espécie de parteira para eternidade em vista. O Accabadora nesta novela é Bonaria Urrai, uma costureira incapaz de ter filhos.
Y la Iglesia Inventó a la Mujer tem em sua quarta capa este texto (numa tradução livre) assinado pela autora: “Tinha que ajustar contas com Maria, mesmo que em realidade este livro não é sobre Maria. É um livro sobre mim, sobre a minha mãe, sobre minhas amigas e suas filhas, sobre minha padeira, minha professora e minha carteira. Sobre todas as mulheres que conheço e reconheço. Dentro estão todas as histórias das que somos filhas e também dos que são filhos nossos homens: aqueles que nos querem lindas e caladas e, acima de tudo os outros. Este livro é também para eles, e eu escrevi consciente de que essa história não vai deixar ninguém de fora, se decidimos sair juntos" Michela Murgia.
Ainda na quarta capa está algo como: Este é talvez o livro mais pessoal de Michela Murgia, que depois do sucesso de Accabadora transformou esta história original, metade ensaio, metade testemunho íntimo, que foi recebido com entusiasmo pela crítica e está situado entre os livros mais lidos na Itália nos últimos meses.
Com especial destaque para a figura de Maria de Nazaré, modelo de pureza e perfeição, Murgia discute como a imagem da mulher, que prevalece hoje, foi formada ao longo do tempo a partir do imaginário católico.
Com seu conhecimento de teologia e sua extensa atividade como animadora paroquial, Murgia meticulosamente expõe os vários elementos que contribuíram para convalidar uma visão simplificada e marginal figura das mulheres, a partir de parábolas dos Evangelhos ou fragmentos de encíclicas papais até a grande arte clássica, anúncios de TV ou artigos de revistas femininas.
Do ponto de vista de uma mulher. cuja trajetória pessoal e intelectual está ligada a pensar sobre religião, Michela Murgia acrescenta sua contagiosa curiosidade e excepcional talento para narrar histórias, cujo resultado é este belo texto que surpreendente e instiga a reflexão.
Acrescento que, na católica e conservadora Itália, e o mesmo adito para a Espanha, um livro como este é mais impactante. Com algum conhecimento da religiosidade do Brasil, me permito afirmar que, muitas situações analisadas no livro, por exemplo, o valor da virgindade (física) há muito seguem outros paradigmas. O mesmo vale sobre a coabitação de namorados ou noivos, antes do casamento religioso, diferente da pressão publica sofrida pela autora.
O livro mesmo que muito repetitivo, às vezes e cansativo em outras, vale para quem deseja entender um pouco o poder da Igreja (católica romana) na formação cultural do Ocidente.

4 comentários:

  1. Limerique

    Prossegue o mestre a essa altura
    Tratando os leitores com candura
    Sábado indica o que ler
    Com elegância e saber
    Conduz-nos nos caminhos da leitura.

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  2. Além da ótima dica sabática, achei interessante o comentário do Mestre quando diz "pois assim leio livros (de verdade). Tenho esta mesma impressão, não consigo abrir mão da palavra tipografada, do contato com o papel, o manuseio das páginas. Do fechar momentâneamente o livro ainda com os dedos marcando a leitura e remeter o pensamento ao tempo e espaço pela ponte estabelecida pelo autor. Tenho certeza de que a obra desta escritora em muitas generosas reflexões nos propiciará a sua leitura.

    abraços

    Antonio Jorge

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  3. Olá!!!! Querido mestre, muitas são as reflexões... a leitura, as marcas em nós por estarmos num mundo Católico, em transição - diga-se de passagem,a voz de uma mulher a partir da Europa, o diálogo amoroso e qualificado...
    Um forte abraço!!!!!
    Sandra

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  4. Sandra querida,
    mesmo não estando identificada a Sandra e não tendo endereço na mensagem, imagino, pelo teor do comentário sejas tu.
    Obrigado e saudades de nossas aulas,

    attico chassot

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