segunda-feira, 3 de setembro de 2012

03.- O DIREITO A BEM MORRER



Ano 7*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2224
Esta semana, quando o Conselho Federal de Medicina baixou resolução acerca da ortotanásia, uma atenta leitora deste blogue, por telefone, disse-me que isso era assunto para uma blogada. Como o tema tem sido recorrente aqui, pensava no fim-de-semana festejar a a decisão do CFM.
Havia muito a fazer (em minhas ausências se acumulam jornais em suporte papel) que minguava o tempo para escrever algo mais consistente. Fui agraciado com O fim da metafísica, de Hélio Schwartsman publicado na Folha de S. Paulo, no dia 31AGO12. Assim, este renomado, articulista uma vez mais é oferecido aos leitores deste blogue. Subscrevo a defesa que faz texto a seguir, até porque eu não teria competência de produzir algo tão pertinente. As ilustrações as inseri.
A função do médico é preservar a vida do paciente, de modo que qualquer conduta que vá contra esse princípio é condenável. Essa é uma ideia simples, cativante e errada. O mundo é um lugar bem mais complexo e nuançado do que sugerem nossos esquemas mentais.
É mais do que bem-vinda a resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) que faculta a pacientes registrar em seus prontuários os procedimentos aos quais não querem ser submetidos. Em tese, isso lhes permitirá evitar intubações, choques elétricos e outras técnicas invasivas que podem prolongar a agonia do doente terminal. É uma medida necessária, mas que chega com décadas de atraso e apenas arranha o problema das decisões de fim de vida.
A dificuldade maior é que as fronteiras entre a ortotanásia (não aplicar tratamentos fúteis, atitude que o CFM aprova) e a eutanásia (quando o médico toma medidas que aceleram o óbito, legalmente considerada um homicídio) são tudo, menos claras. Frequentemente, a fim de evitar que o paciente sinta dor, faz-se necessário elevar o uso de sedativos. Só que uma sedação mais profunda favorece o surgimento de complicações fatais. Se as drogas utilizadas forem da classe dos opioides, elas podem provocar diretamente uma parada respiratória. Em que medida o médico precipitou a morte? E, se não o faz, é legítimo deixar o paciente sofrer?
Tentar responder a esse tipo de questão é um exercício metafísico que até pode ser intelectualmente estimulante, mas que não produzirá critérios inequívocos de decisão.
Minha sugestão é que abandonemos toda metafísica e estabeleçamos de uma vez por todas que cada qual é dono de sua própria vida, podendo dela dispor como preferir. Isso significa que, se quiser, o paciente deve ter o direito de receber doses letais de sedativos e analgésicos. O bonito dessa solução é que, ao não impor crenças externas a ninguém, maximiza a liberdade de todos.

5 comentários:

  1. Limerique

    Deixar o paciente a sua própria sorte?
    Ou induzir eventos que lhe causem morte?
    Àquele terminal doente
    Que já quase nada sente
    Desligue aparelhos que lhe dão suporte.

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  2. Limerique

    Paciente com existência assistida
    Reverte-se em grana garantida
    Então, não desligar
    É modo de ganhar
    Mas devemos dispor da própria vida.

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  3. A medicina aliada a eletrônica e a informática avançou muito em seus procedimentos. Só que cada vez mais o material humano é visto como uma peça. Os médicos não se referem a um paciente como por exemplo o "sr. Carlos do leito x" e sim "aquela hérnia do leito x". Então somos simples organismos os quais são esmiuçalhados em inúmeros procedimentos invasivos os quais na relação custo benefício deixam muito a desejar. Quem não já sofreu com uma endoscopia? Ou pior ainda uma "broncoscopia". Num agravante deste horror, caso o paciente tenha problemas respiratórios a analgesia não é recomendada, então a endoscopia é feita com o paciente totalmente lúcido e propenso a dor e o desconforto. Em pleno século XXI a medicina mostra-se em relação ao respeito a dignidade do ser humano, tão atrasada quanto da época das sangrias.

    abraços

    Antonio Jorge

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  4. Limerique

    Tratamento não é sacerdócio
    Para hospital doença é negócio
    Mantendo sinais vitais
    Dos doentes terminais
    Da sanidade médico vira sócio.

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  5. Boa tarde, Mestre!
    Uma questão difícil e polêmica!
    Difícil para um leigo definir até que ponto se está tentando realmente salvar uma vida ou prolongando inutilmente o sofrimento de alguém sem chances. Atualmente, é possível manter as funções vitais quase indefinidamente, em casos onde sem os meios artificiais, seria uma morte rápida.
    E isto pode fazer com que os interesses comerciais se confundam com os humanitários...
    Uma diária numa UTI pode ser bem cara...
    Abraços!

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