quinta-feira, 12 de julho de 2012

12.- COLECIONISMO: ALGO OBSESSIVO ou MANÍACO?


Ano 6*** WWW.PROFESSORCHASSOT.PRO.BR ***Edição 2171
A semana passada por cinco dias o assunto aqui foi ‘o escrever’. A publicação da segunda-feira, dia 2, A escrita e o cuidado de si de Antonio Ozaí da Silva catalisou uma tríade acerca de diários na terça, quarta e quinta feira. Encerrava na quinta-feira, afirmando que escrever diários é uma forma de colecionismo.
Na sexta-feira, dizia que este um tema que me faz atávico, e já então pretendia me espraiar nele. Mas, eis que surge uma notícia mancheteada, a rodo, no mundo inteiro: Avanço da Ciência: partícula de Deus, enfim e o colecionar, então postergado, ganha espaço, agora.
Em 2005 ocorreu, numa promoção do Grupo Interdisciplinar História e Filosofia da Ciência, o I Colóquio Internacional Espírito do Colecionismo - ciência, cultura e arte. Foi publicado, então, um número temático ‘colecionismo’ da revista Episteme. Tenho neste número dois artigos: em um[i], defendi os diários como uma forma de colecionismo; ele foi construído a partir de texto seminal mais antigo[ii].
No outro[iii], defendo que poucos dos móveis de uma coleção têm um catalisador tão forte quanto o amor. Talvez colecionar cartas de amor seja uma das formas mais genuínas de colecionismo, fazendo associação a uma mania obsessiva. Pois é o meu encantamento com a coleção de Cartas a Nelson Algren: um amor transatlântico, 1947-1964, livro que analiso no artigo, do qual falei aqui na dica sabática de 16JUN2012. Ser Simone de Beauvoir a autora destas cartas explica meu entusiasmo.
Lateralmente devo referir que fiz uma comunicação sobre o que está na nota 1, tendo com ouvinte muito atento, o conferencista que me sucederia no plenário: José Mindlin (São Paulo, 8 de setembro de 1914 — São Paulo, 28 de fevereiro de 2010) empresário e então, talvez, o mais importante bibliófilo brasileiro, que com seus 91 anos encantou a muitos com sua lucidez e perspicácia. Tive o privilégio de receber uma manifestação escrita dele em meu diário, que valorizou o ‘meu’ colecionável.
Assim, agora tento mostrar um pouco de meu viés de colecionista que fui/sou/serei. Por tal, está justificada a eleição do tema da edição de hoje.
¿Quem dos leitores, pelo menos uma vez na vida, não foi filatelista? O dicionário da Língua Portuguesa Priberam [www.priberam.pt] não registra colecionismo. O dicionário eletrônico Houaiss, define assim colecionismo: prática de colecionar objetos de certo tipo, por gosto, passatempo, obrigação profissional etc. e tem a palavra datada pela primeira vez em 1980 (sic). Talvez, nessa dicionarização, o inusitado seja obrigação profissional, até porque sempre associamos a prática de colecionar a passatempo ou um deleite pessoal, ou como estudam alguns, fazendo associação a uma mania obsessiva. Aceitando a acepção posta como obrigação profissional, um museólogo ou um arquivista, por exemplo, são praticantes do colecionismo. Seriam então esses e outros profissionais enquadrados como portadores de uma mania obsessiva?
Logo, falar em mania de colecionar pode admitir discussões desde a acepção “hábito extravagante; prática repetitiva; costume esquisito, peculiar; excentricidade” até aquelas definições caracterizadas como psicopatologia que dizem ser “quadro mórbido caracterizado por um humor alegre e otimista desmotivado, acompanhado de sentimentos de bem-estar físico ilimitado, de uma superestima e uma necessidade de atividade globalmente aumentadas, com frequência gerando comportamentos incontrolados e desinibidos, aumento de excitabilidade e de irritabilidade, agitação psicomotora”, mesmo sabendo que na psicopatologia está abandonada a acepção de mania como “todo e qualquer estado de excitação psíquica”. No texto referido na nota 2, disponível em www.ilea.ufrgs.br/episteme, faço uma análise destas acepções do colecionismo como mania, que poupo meus leitores aqui.
A blogada desta quinta-feira se alonga e minhas evocações de colecionismo ainda afloram férteis. Para não arengar, ponho, por ora, ponto final, com o afianço de em outro momento continuar.
i CHASSOT, Attico. Escrever diários como uma forma de colecionismo. Episteme. v.10. n.20 p.55-70, 2005. ISSN: 14135736
ii CHASSOT, Attico. Sobre a arte de escrever diários. Entrelinhas, ano 1, n. 1. p.11-15, março de 2001
iii CHASSOT, Attico. O amor como catalisador de colecionismo. Episteme. v.10. n.20 p.80-85, 2005. ISSN: 14135736


4 comentários:

  1. Caro Chassot,
    pois eu nunca colecionei selos. Minhas correspondências sempre foram com pessoas próximas e as cartas vinham seladas com selos comuns. Entretanto, por algum tempo, colecionei dinheiro. Não como um certo compatriota que deseja ser o mais rico do mundo, mas de notas antigas. Confesso que minha coleção não passou de uma centena de notas. Faz mais de dez anos que não as manuseio. Um dia pretendo passá-las aos filhos para que façam o que quiserem. De fato, não tenho vocação para o colecionalismo, mas admiro quem consegue preservar determinadas coisas que constituem acervo importante, tanto do ponto de vista da história, quanto afetivo.

    Um abraço,

    Garin

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  2. Caro Chassot,
    Sou colecionista. Sou numismata, coleciono canetas tinteiro, relógios de pulso e já colecionei garrafas de cerveja e até orquídeas. Espero não ser obsessivo, gosto de minhas coleções mas não perco o sono por elas. Abraços colecionistas, JAIR.
    PS - Você, pelo que sei, é muito apegado a seus livros, não será um colecionista por isso também?

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  3. Acredito que o o que nos impele a colecionar seja a necessidade de preservar o passado distante. Ao contemplarmos uma peça antiga estabelecemos uma ponte no tempo e no espaço viajando, ainda que momentaneamente a época e lugar de onde a peça é oriunda. E mesmo que não conheçamos sua história nosso imaginário junta os fragmentos de nossas poucas informações do tema e criam instantaneamente um mundo mágico levando o colecionador a sonhar e divagar. Cada ítem tem uma recordação, tem uma vida, a do próprio objeto e a de como foi adquirida nascendo assim duplas recordações.

    abraços

    Antonio Jorge

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  4. Sempre gostei de fazer coleções.

    Quando era menor, eu colecionava borrachinhas de todas as cores, tamanhos e até cheiros! Ainda coleciono figurinhas, cartas de baralho e gibis... Sempre foi uma ótima distração para mim, às vezes dedico horas cuidando delas.

    Adorei o texto!

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