segunda-feira, 18 de junho de 2012

18.- QUEM JÁ LEU ULYSSES?



Ano 6*** www.professorchassot.pro.br  ***Edição 2147
O fim de semana / o domingo se esvai. É quase hora de preparar um blogue para edição desta segunda-feira. Há uma esterilidade intelectual. Não vou culpar a fadiga de sábado (uma noite de viagem + uma manhã de Seminário no Centro Universitário Metodista do IPA + algaravia gostosa trazida por sete netos à Morada dos Afagos), pois o domingo plúmbeo ensejou gostoso descanso marcado por leituras de jornais.
Se anunciasse que o assunto seria comentar as ligações sigma ligante e antiligante em uma molécula de hidrogênio perderia uma leva de leitores no primeiro parágrafo. A propósito, hoje é o ‘Dia do Químico’, mas relevem-me os colegas, mas hoje o professor de Química, que fui por dezenas de anos, se transmutou num professor de Ciências. Logo, a celebração da data não se faz pauta.
Como tenho leitores queridos em Rondônia, poderia destacar que lá hoje é feriado estadual. Mas não é o trabalho dos químicos na mineração da cassiterita que determina o feriado. Hoje é o dia do evangélico e lá é uma dos poucas unidades da federação aonde os católicos não são hegemônicos.
Se tivesse condições intelectuais e anunciasse que tema de hoje seria a ‘parrésia segundo Michel Foucault [Na retórica, parrésia é descrita como franqueza, confiança ou ousadia para falar em público] certamente teria muitos leitores, pois os estudos foucaultianos estão cada vez mais em alta. Mas não saberia escrever mais que duas linhas.
A propósito de nos sentirmos excluídos de tema, a cada 16 de junho me sinto fora de comemorações que acontecem no mundo inteiro: o Bloomsday: um feriado comemorado em 16 de junho na Irlanda em homenagem ao livro Ulysses, de James Joyce. É o único feriado em todo o mundo dedicado a um livro, excetuando-se a Bíblia.
O Bloomsday é comemorado na Irlanda e pelos amantes da literatura com diversos eventos oficiais e não oficiais. Também é comemorado todos os anos em vários lugares e em várias línguas. Em comum entre os muitos dedicados entusiastas e simpatizantes envolvidos nestas comemorações há o esforço por relembrar os acontecimentos vividos pelos personagens de Ulysses pelas dezenove ruas da cidade de Dublin.
O livro relata a odisseia do personagem Leopold Bloom durante 16 horas do dia 16 de junho de 1904 e é considerada um dos marcos da literatura contemporânea ocidental.
Há certa controvérsia sobre quando o Bloomsday começou a ser de fato comemorado. Alguns especialistas indicam 1925, três anos após o lançamento do livro, outros que foi na década de 1940, logo após a morte de James Joyce, enquanto a hipótese mais aceita indica que foi em 1954, na data do quinquagésimo aniversário do dia retratado em Ulisses.
Hoje o Bloomsday é uma efeméride inserida no calendário cultural de vários países que não é nem um pouco restrita ao círculo dos leitores das cerca de 900 páginas da obra Ulisses.
James Joyce [em desenho assinado pelo torno Constantin Brâncusi (1876-1957)] escolheu o dia 16 de junho para ser imortalizado em sua obra porque foi nesse dia em que fez sexo pela primeira vez com sua futura companheira Nora Barnacle, à época uma jovem virgem de vinte anos, apesar de a imprensa irlandesa publicar que nesse dia eles "caminharam juntos" pela primeira vez.
Ulysses, de James Joyce, talvez seja o romance mais seminal do século 20. Seguramente é das histórias mais completamente humanas já registradas em um livro, em um texto de ficção. Publicado há 90 anos, continua provocando reações variadas tanto de estudiosos e críticos especializados quanto do leitor comum (que é quem faz em última instância a fortuna literária de qualquer autor).
Este é um ano particularmente importante para quem se interessa pela obra de James Joyce. Além dos 90 anos da edição original de Ulysses (1922) e dos 130 da data de nascimento de James Joyce (1882), comemora-se também o fato auspicioso de toda a obra dele estar agora em domínio público, 70 anos após a sua morte (1941). Os herdeiros de Joyce eram extremamente zelosos de sua obra e dificultavam seu uso direto ou adaptado em qualquer tipo de manifestação artística e/ou cultural. A realidade jurídica de não haver mais direitos de copyright sobre a obra de Joyce é uma espécie de libertação e está sendo celebrada com alegria em todo o mundo.
Somando-se a essas efemérides, eis que a língua portuguesa ganhou recentemente uma nova tradução completa, a de Caetano Galindo, publicada pela Penguin/Companhia das Letras. Esta tradução encontrou nas prateleiras das livrarias duas outras, que continuam sendo regularmente publicadas e lidas. A primeira delas é a de Antônio Houaiss, publicada em 1966. A segunda, a de Bernardina da Silveira Pinheiro, de 2005.
 Fiz o propósito de superar essa nódoa em meu currículo. Vou tentar ler Ulisses. Tenho um ano um ano para vencer quase um milhar de páginas, de um texto que sei ser hermético. Vou tentar. Cobrem-me em 16 de julho de 2013!
Quinto dos temas pré-estabelecidos pela ONU para a RIO+20





5 Acesso à água e às instalações sanitárias Dois milhões de pessoas, a maioria crianças, morrem anualmente por doenças causadas pelo consumo de água não potável e pela falta de instalações sanitárias. Além disso, 884 milhões de pessoas não têm acesso à água potável de qualidade e mais de 2,6 bilhões não dispõem de infraestrutura básica. O acesso à água potável e limpa e às instalações sanitárias é um direito humano.

3 comentários:

  1. Caro Attico,
    embora tenhas te transmutado em Professor de História e Filosofia da Ciência, não deixas de pensar a partir da Química. Não há como não te enviar um abraço especial pelo Dia do Químico.

    Garin

    ResponderExcluir
  2. Apesar do apelo literário da obra de James Joyce, não pude deixar de encantar-me pelo comentário sobre Foucault. Recentemente ao apresentar seminário na Universidade Candido Mendes sobre um de seus livros o "Vigiar e Punir" lembrei a garotada que este filósofo sofreu o peso do preconceito por toda sua vida por ser homossexual. Demonstrei-lhes também que o preconceito tem no mínimo a idade da escrita e citei oportunamente o "nosso" "A ciência é masculina? É sim senhora!" do mestre Attico Chassot. Fiquei muito admirado com a repercussão positiva em meio a garotada. O que me fez pensar, nem tudo está perdido. Em tempo parabéns pelo Dia do Químico!

    Antonio Jorge

    ResponderExcluir
  3. Caro Chassot,
    Primeiro parabéns pelo Dia do Químico, pois, embora você já não dê mais aulas, tua formação continua vitaliciamente.
    Quanto ao "Ulisses", vou confessar, tentei lê-lo naquela tradução do Houaiss, mas não consegui. Diga-se que na época eu eram bem jovem e não tinha tanta vivência em leituras, e isso pode ter atrapalhado. Entretanto, li em algum lugar mais tarde, que aquela tradução tinha cometido milhares de "pecados" linguísticos que prejudicaram a estória. Talvez agora, com nova tradução e eu, leitor menos bisonho, consiga gostar do livro. Abraços literários, JAIR.

    ResponderExcluir