segunda-feira, 28 de maio de 2012

28.- PARECE QUE NÃO SEI MAIS FÍSICA!



Ano 6*** www.professorchassot.pro.br ***Edição 2126

Estudei Física durante três anos no curso científico (denominação de uma das modalidades do ensino médio); sabia mecânica, estática, dinâmica, cinemática e os problemas de ótica e eletricidade do Salmeron eram parte de meus domínios na preparação do vestibular. Durante minha licenciatura em Química tive dois anos desta ‘matéria’ e mesmo sendo um ensino totalmente asséptico — era uma Física sem graxa —, tinha-me por competente no assunto; ainda repousam na minha biblioteca dois volumes do Halliday & Resnick e dois do Sienko. Tempos depois, estudei um semestre de especialização em Física Moderna no livro do Beiser, que também jaz na minha estante intocável há muito.
Na docência, no mestrado e no doutorado Aristóteles, Copérnico, Galileu, Newton, Einstein... são parceiros muito presentes que me encantam nos meus divagares acerca de História e Filosofia da Ciência. Aliás, eles, então, quase nada participaram de minha aprendizagem. Hoje quando leio alguns textos de Física, me sinto incompetente. Muitos assuntos são muito diferentes do que aprendi, há quase meio século.
Neste último domingo de maio, Hélio Schwartsman, em um artigo publicado na p. A-2 da Folha de S. Paulo, confortou-me. Talvez meu desconforto intelectual seja partilhado por algum outro leitor. Assim, para ele transcrevo o texto referido, com votos de uma boa semana.
Quão real é a física? Não são poucos os que acusam a física contemporânea de estar criando um universo de abstrações matemáticas intestáveis. Para esses críticos, a disciplina estaria se aproximando perigosamente da metafísica e da religião.
Acaba de ser lançado no Brasil o excelente "A Realidade Oculta"#, em que Brian Greene, um dos profetas dessa nova física, defende sua filosofia. Greene descreve de modo quase compreensível nada menos que nove versões de multiverso, isto é, da ideia de que existem realidades paralelas.
De acordo com alguns desses modelos, há mundos em que diferentes versões de você leem agora esta mesma coluna; em outros, seu eu alternativo está lendo a coluna, mas ela fala de escultura. O número de realidades pode ser infinito, ou, ao menos, absurdamente grande, abarcando todas as possibilidades concebíveis que não violem as leis da física.
Em outros modelos, universos paralelos brotariam como bolhas de sabão, resultado de flutuações quânticas submetidas à inflação cósmica. Combinações desses nove tipos não estão descartadas. Algumas propostas são tão complexas que até religiões parecem mais lógicas.
Dá para acreditar nessas coisas? Essa é a polêmica entre realistas e instrumentalistas. Para os primeiros, a resposta é sim. Universos paralelos existem e devemos crer neles porque é aonde as equações nos levam. Lembram que não havia ideia mais estranha que a de que a Terra se move em altíssima velocidade pelo espaço. Afinal, o que vemos é o Sol cruzando os céus e não sentimos movimento algum. Foi a matemática de Copérnico que nos levou ao paradigma heliocêntrico, hoje inconteste.
Já para os instrumentalistas, a realidade é, no fundo, incognoscível. Tudo o que a ciência pode oferecer são previsões corretas e é a elas que devemos nos ater. Em termos rigorosos, não sabemos ao certo nem se a matemática e a lógica são reais.
Façam suas apostas.
#GREENE, Brian. A realidade oculta - Universos paralelos e as leis profundas do cosmo [Original: The hidden reality] Tradução: José Viegas Filho. Capa: Mariana Newlands. 16.00 x 23.00 cm. 456p. 698 g. R$ 59,00. São Paulo: Companhia das Letras ISBN 978-85-3592-080-2

6 comentários:

  1. Caro Attico,
    creio que em futuro bem próximo a ciência e a tecnologia podem trazer a luz essas respostas com mais clareza.

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  2. Caro Chassot,
    Minha formação em mecânica me fez estudar física e trabalhar com física sempre. Não me considero, portanto, leigo no assunto, mas desde que formulou-se conceitos de mecânica quântica a partir de cálculos de cientistas como Werner Heisenberg, Max Planck, Niels Bohr, Erwin Schrödinger, a coisa ficou feia, como você disse, parece que eles estão falando de religião ou bruxaria. Um dia destes escutei um físico famoso dizer que existe apenas cinco ou seis pessoas no Planeta que entendem a física quântica, então não estamos sós (você e eu), fazemos parte da maioria que está longe de compreender esses conceitos prá lá de enigmáticos. Abraços físicos, JAIR.

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  3. Caro Chassot,
    há, cada vez mais, proximidade entre os físicos e os filósofos. É por isso que acho que a física está no caminho certo. Quando às dúvidas sobre a possibilidade do conhecimento, isso já é uma antiga questão posta pela Teoria do Conhecimento e que tenho andado bastante propenso a crer.
    Um abraço,

    Garin

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  4. Caro Mestre:
    Parece haver momentos em que as deduções do cálculo ficam difíceis de serem intrpretadas no contexto da física.
    Esta questão de haver incontáveis universos, cobrindo todas as possibilidades não utilizadas na "nossa" versão é abordada pelo polêmico Fred Hoyle no seu livro TEN FACES OF THE UNIVERSE (meu preferido).
    Mas, é claro que não existe uma conclusão definitiva, pela impossibilidade de uma comprovação experimental.
    Será que tudo o que se deduz pelas equações pode ser realmente tomado ao pé da letra no universo físico?
    Para que isto fosse verdade, seria preciso que todas as variáveis fossem conhecidas e consideradas no cálculo. E eu creio que a nossa ciência ainda está longe de conhecer todas as variáveis...
    A imprevisibilidade que envolve os eventos quânticos é um exemplo.
    Sabemos de percentuais e de possibilidades da ocorrência de eventos, mas não somos capazes de dizer qual vai ocorrer e quando!
    Enquanto isto, algumas afirmações vindas do meio científico podem soar como dogmas religiosos...dependem de fé, pois não temos como comprova-las!
    E, volta e meia, caem por terra teorias antes tidas como "definitivas"!
    É fascinante o quanto ainda temos por descobrir!
    Abraços!

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  5. Muito apreciado Mestre Chassot,
    parabéns pela sua oportuna transcrição do texto do Hélio Schwartsman, que não conhecia.
    Continue nos alertando destas preciosidades.
    Sinto-me como o senhor: parece que meus conhecimentos de Física são de outra galáxia.
    A admiração do
    Leonardo Jungmeister

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  6. Puxa nove multiversos!

    Multiverso teria base bíblica? Gênesis diz: "...criou Deus oS céuS.." plural, de vários universos? Não sei ...
    É fácil ser físico teórico e filosofar como o Hawking, eu quero ver comprovar.

    Nenhuma lei natural poderia explicar a violenta explosão/expansão (Big Bang) de uma suposta inatividade eterna. Um universo eternamente inativo é fisicamente impossível, pois teria que estar no zero absoluto. A matéria no começo poderia ser qualquer coisa; menos fria. Se estivesse; nenhum evento inicial teria ocorrido; ...e ainda formando vários universos?????

    Não há provas empíricas heurísticas dos multiversos. Mas podem ser peças de uma mesma CASA (Universo). Digamos que estamos no quarto, mas não vemos a cozinha, a sala, a varanda ...mas é apenas uma Casa, um Universo.

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