Ano 6*** Frederico Westphalen / Porto Alegre ***Edição 2068
Como na edição de ontem esta
é postada, quando recém deixei Frederico Westphalen, devendo chegar a Porto
Alegre por volta das 6h. Foi uma sexta-feira de três turnos que valeram a pena,
mesmo que imprensados entre duas noites a bordo.
Nas idas/vindas Hotel/URI/Hotel e também em uma circulada após o almoço encantou-me a decoração pascolina. Só na praça fronteira à catedral há mais de uma dezena de coelhos como o da foto. Há referência que em outras ruas ocorre o mesmo. Lojas e restaurantes também têm lindas produções na mesma direção.
Nas idas/vindas Hotel/URI/Hotel e também em uma circulada após o almoço encantou-me a decoração pascolina. Só na praça fronteira à catedral há mais de uma dezena de coelhos como o da foto. Há referência que em outras ruas ocorre o mesmo. Lojas e restaurantes também têm lindas produções na mesma direção.
Esta é uma edição para
encerrar março que teve um verão canicular e um outono, que já mostrou algo do
inverno. Houve um dia (14) que Porto Alegre teve cenas de que pareciam
ambientar um dilúvio. Para encerrar o mês, temos águas com gosto especial,
creditado às ‘algas de março’. Já que falo em estripulias climáticas, adiro ao
convite feito por uma das instituições onde trabalho, cuja proposta está ao
lado.
Antes da dica de leitura uma homenagem, muito bem humorada, como a situação exige e permite, ao mais ilustre brasileiro falecido na semana: Millôr Fernandes (1923 - 2012) foi um desenhista, humorista, dramaturgo, escritor e tradutor brasileiro. A espirituosa e criativa charge de Quinho.
Antes da dica de leitura uma homenagem, muito bem humorada, como a situação exige e permite, ao mais ilustre brasileiro falecido na semana: Millôr Fernandes (1923 - 2012) foi um desenhista, humorista, dramaturgo, escritor e tradutor brasileiro. A espirituosa e criativa charge de Quinho.
Na semana passada estive no
Mato Grosso e de lá trouxe a inspiração para nossa usual dica sabática de
leitura. Na capital e no Estado há muitas homenagens ao mato-grossense Candido
Mariano da Silva Rondon, mais conhecido como Marechal Rondon (1865-1958), o que
não é sem razão, quando até um dos 27 estados brasileiros — Rondônia — tem esta
denominação pelo mesmo motivo: um descente de indígena. Que chega a mais alto
patente do exército brasileiro por sua incondicional defesa dos índios.
Lembrei, então, de um livro
que li em 2007: O Rio da Dúvida que narra, de maneira primorosa, a história de
uma grande aventura de 4,5 meses [dezembro de 1913–abril de 1914] de Cândido
Rondon e Theodore Roosevelt, que colocam no mapa um rio que, apesar de seus
1600 quilômetros e de sua importância na cartografia da América, permanecia
desconhecido.
Faço de uma resenha que já
havia publiquei em Letras & Livros e em Leia Livro — de quem recebo
notícias que voltará a circular — a dica deste sábado que despede este março
que soube ser multifacetado.
MILLARD, Candice. O Rio da
Dúvida: a sombria viagem de Theodore Roosevelt e Rondon pela Amazônia [Original
inglês: The River of Doubt: Theodore Roosevelt’s Darkest Journey]. Tradução:
José Geraldo Couto. Posfácio: Marta Amoroso. São Paulo: Companhia das Letras, 2007,
305p. ISBN 978-85-359-1072-8
Theodore ‘Teddy’ Roosevelt (1858-1919) foi o 25º
vice-Presidente e o 26º Presidente (1901-1909) dos Estados Unidos [não
confundir Franklin Delano Roosevelt (1882-1945), 32º presidente dos EUA, com
quem não tinha parentesco]. Quando Teddy perdeu para Woodrow Wilson (28º
Presidente) as eleições para um terceiro mandato (com um interregno depois do
segundo mandato) de presidente dos Estados Unidos, num escapismo à depressão
que a derrota lhe impingiu envolve-se em uma expedição de quase sete meses pela
América do Sul (1913-14) dos quais os 4,5 últimos meses em companhia do
Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon.
A expedição foi cuidadosa montada (com muitos erros
pela inadequação na seleção de material não apropriada à Amazônia) nos Estados
Unidos em um ambiente marcado por uma pirotecnia noticiosa. Roosevelt, que fora
mais jovem presidente estadunidense, adorava publicidade e gostava de
colecionar fatos que o colocassem em evidência: primeiro presidente originado
de uma metrópole, único que tinha sido cowboy, primeiro a viajar de aeroplano
(dos irmãos Wright) e de submarino etc. Espírito aventureiro, ele já havia
realizado safáris na África e explorado o interior ainda bravio da América do
Norte. Teddy tinha orgulho de ser conhecido como ‘bravo como um alce macho’.
Agora, para amargar as frustrações da derrota
eleitoral, Roosevelt escolheu um desafio ainda maior: mapear, no coração da
selva amazônica brasileira, um rio turbulento e sinuoso, de percurso ainda
ignorado, chamado na época de Rio da Dúvida, por conta do total desconhecimento
a respeito dele. Surgiu assim a Expedição Roosevelt-Rondon, cujo comando seria
dividido entre o ex-presidente estadunidense e o então coronel Cândido Rondon,
o maior desbravador do interior do Brasil, responsável pela expansão da rede
telegráfica nacional. A expedição amazônica, oficialmente, tinha como objetivo
coletar de amostras de flora e fauna para o museu de história natural estadunidense.
Após se envolver com populações indígenas
desconhecidas como os temidos Cintas-largas, companheiros de viagem
traiçoeiros, animais e doenças quase imbatíveis, peixes carnívoros, insetos
agressivos, corredeiras e quedas d’água o ex-presidente conseguiu, aliado à
experiência do militar brasileiro, retornar vivo ao seu país, depois de estar
quase à morte, vitimado por inflamação em uma perna que exigiu intervenção
cirúrgica na selva. Deixa na cartografia brasileira seu nome no Rio Roosevelt,
com 1600 quilômetros, que nasce no estado de Rondônia, que em seu percurso,
atravessa uma parte do Mato Grosso, entrando a seguir, no estado do Amazonas,
onde se torna um afluente do Rio Madeira. Oficialmente, o IBGE o denomina de
Rio Roosevelt; a maioria dos estadunidenses, entretanto, usa o nome completo,
Rio Theodore Roosevelt, ou apenas Rio Theodoro.
Roosevelt como resultado da expedição escreveu, em
1914, o livro Through the Brazilian Wilderness (Pelas Selvas Brasileiras, Ed.
Capo Paperback). Este é uma das dezenas de fontes que Candice Millard – uma
jovem escritora estadunidense (nascida em 1967) jornalista e editora da Revista
National Geographic – serve-se para escrever seu primeiro livro.
A autora, fruto de exaustiva investigação que a trouxe
à Amazônia, faz relatos minuciosos sobre a fauna, a flora e os povos indígenas
da região explorada que dão cores muito vivas àqueles que acompanham o relato
às quase trágico da expedição marcada por um drama humano intenso em que
sobressaem as gigantescas e contrastantes figuras de Roosevelt e Rondon. As
narrativas trazidas, mesmo que tenhamos que acompanhar detalhe de uma longa
jornada, são muito instigantes. Recomendo entusiasmadamente a leitura.
Adiciono a esta resenha um agradecimento muito
especial: se Rondon e Roosevelt colocaram no mapa um rio antes desconhecido de
1600 quilômetros, minha ex-aluna de doutorado Maria Luiza – que quando em 2007,
me despedia da Unisinos, generosamente me presenteou “O Rio da Dúvida” dizendo
em um cartão que ‘nosso contato [de um semestre] foi intensivo e de grande
proveito para mim’ – colocou no meu universo um tema do qual nada conhecia e
que valeu muito a pena. Assim esta resenha traz meu agradecimento e uma
homenagem para Professora (agora, já doutora) Maria Luiza Bredemeier.