sábado, 18 de fevereiro de 2012

18.- GABRIELA MISTRAL



Ano 6 *** www.professorchassot.pro.br *** Edição 2026
Um sábado para dicas de leituras inserido em um tríduo momesco pode ser diferente — será de uma autora e não de um livro —, mesmo que guarde em relação às duas dicas anteriores uma isonomia chilena: dia 4 (Los secretos del Imperio de Karadima) e dia 11 (Pablo Neruda), hoje trago outro nome andino: Gabriela Mistral.
Contei aqui, quando relatei minha viagem ao Chile, que no dia 15 de janeiro, eu que nunca havia visto uma medalha de Premio Nobel, naquele dia me encantava com duas: pela manhã a de Gabriela Mistral com o original do respectivo diploma, em uma capela que lhe é dedicada no Museo de Arte Colonial San Francisco, pois ela doou todos seus bens à ordem franciscana para ser destinado a educação de menores. À tarde, na Chascona — como contei aqui no sábado passado — o diploma e medalha de Pablo Neruda.
Antes de destacar Gabriela Mistral [pseudônimo escolhido de Lucila de María del Perpetuo Socorro Godoy Alcayaga (Vicuña, 7 de abril de 1889 — Nova Iorque, 10 de janeiro de 1957), foi uma poetisa, educadora, diplomata e feminista chilena] permito-me inserir uma curiosidade.
Com quase 570 milhões de habitantes, a América Latina tem apenas 16 ganhadores do prêmio Nobel em mais de 100 anos de história e mais de 800 prêmios dado. Enquanto isso, apenas a África do Sul tem nove Nobel.
A grande maioria dos latino-americanos ganhou o Nobel de Literatura e da Paz, e apenas 5 foram laureados nas Ciências (Medicina ou Química). Nenhum ganhou nas categorias de Física ou de Economia. Os argentinos têm se mostrado os mais eficiente na região: têm cinco Nobel, sendo o primeiro em 1936. A chilena Gabriela Mistral, vencedora em 1945 foi a primeira mulher na região a merecer o prêmio. Desde 1995, a região não fora galardoada com no Nobel quando em 2010 o peruano Mario Vargas Llosa, recebeu o de Literatura. O vencedor anterior era mexicano Mario Molina por seu trabalho na descoberta do buraco na camada de ozônio decorrente do uso de CFCs (clorofluorcarbonetos).
Depois desta inserção, retomo o destaque sabático. Gabriela Mistral, filha de Juan Jerónimo Godoy, professor e de Petronila Alcayaga, costureira e bordadeira, cresceu entre as canções de sua mãe, que viriam a ser um elemento importantíssimo em sua poesia, e a ausência do pai que logo abandonou a família.
 Alfabetizada por Emelina, irmã mais velha - filha de outro casamento de Petronila, que dava aulas numa escola rural - dedicou-se aos estudos e tornou-se professora primária. Na escola rural de Parral foi seu aluno o menino Neftalí Reyes Basualto, neto de um latifundiário, mais tarde conhecido pelo pseudônimo Pablo Neruda.
Em 1914, após o suicídio do noivo, começou a escrever poesia. Foi premiada nos Jogos Florais Chilenos pelos seus sonetos sobre a morte e, para concorrer, escolheu o pseudônimo Gabriela Mistral em homenagem ao escritor provençal Frédéric Mistral e ao italiano Gabrielle D’Anunzio. Ao seu primeiro livro de poemas, Desolação (1922), seguiram-se Afeto (1924), Podando (1938), Imprensa (1954) e outros.
Em 1922 é convidada pelo Ministério da Educação do México a trabalhar nos planos de reforma educacional daquele país. O Prêmio Nobel em 1945, transformou-a em figura de destaque na literatura internacional e a levou a viajar por todo o mundo e representar seu país em comissões culturais das Nações Unidas. Depois de receber o Prêmio Nobel, representou o Chile como diplomata em Nápoles, Madri, Lisboa e Rio de Janeiro, e atuou em várias instituições de ensino superior na Europa e na América Latina. Gabriela Mistral foi cônsul no Brasil no anos 40 e viveu em Petrópolis
A notoriedade a obrigou a abandonar o ensino para desempenhar diversos cargos diplomáticos na Europa. Tida como um exemplo de honestidade moral e intelectual e movida por um profundo sentimento religioso, a tragédia do suicídio do noivo (1907) marcou toda a sua poesia com um forte sentimento de carinho maternal, principalmente nos seus poemas em relação às crianças. Em sua obra aparecem como temas recorrentes: o amor pelos humildes, um interesse mais amplo por toda a humanidade.
Durante muito tempo, foi considerado um escândalo falar do relacionamento de quase dez anos entre Gabriela Mistral e Doris Dana na foto. Mas, ao morrer em 2006 aos 86 anos, Doris tradutora e crítica literária, amiga, secretária, última companheira guardava em 168 caixas, entre outros documentos, 250 cartas de amor recebidas durante o tempo em que viveram juntas. Doris Dana acompanhou Mistral até seus últimos dias e ficou encarregada de cuidar dos bens deixados pela companheira.
O material, cedido pela sobrinha de Doris, foi organizado por Pedro Pablo Zegers, famoso intelectual chileno e responsável pelo Arquivo do Escritor da Biblioteca Nacional do Chile. As cartas e outros documentos revelam aspectos de Doris, de sua juventude, beleza e forte personalidade que seduziram uma das maiores figuras literárias do século 20.
A Editora Lumen publicou as cartas em 2009, com o título, “Niña errante: Cartas a Doris Dana”. O livro causou muitas controvérsias porque desnuda e expõe a figura de “Mãe da Pátria”, até hoje, ligada à memória de Gabriela. A devoção comum pelo escritor alemão Thomas Mann foi o ponto de partida para o poderoso vínculo que uniu as duas mulheres excepcionais, começado como uma relação de aluna e professora - Doris era 31 anos mais nova que Gabriela. Segundo Jaime Quezada, presidente da Fundación Prêmio Nobel Gabriela Mistral, as cartas demonstram o fervor, ternura, amor e paixão que existiu entre as duas mulheres, desde outubro de 1948.
Não conheço o livro, mas esta para mim passa a ser a dica de leitura. Um muito bom sábado a cada uma e cada um.

2 comentários:

  1. Caro Chassot,
    Mais uma blogada sumarenta, para usar suas próprias palavras. A dica de leitura está devidamente anotada e, tenha certeza, vou procurar tudo que a web oferecer com respeito a essa excepcional mulher. Abraços, JAIR.

    ResponderExcluir
  2. Amigo Chassot,
    fica uma questão bastante pertinente: os continentes americano (latino) e africano (menos a do Sul) não possuem expressões na área das ciências, sejam naturais ou humanas (não gosto dessa distinção), ou haveria certo preconceito com a parte de baixo da linha do Equador?
    Um abraço.

    ResponderExcluir