quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

15.- A DAMA DE FERRO



Ano 6 *** www.professorchassot.pro.br *** Edição 2023
No último domingo assisti, com a Gelsa e a Liba, a sessão de pré-estreia de A Dama de Ferro (The Iron Lady, Reino Unido, 2011). O cinema estava lotado. O filme estreia nesta sexta-feira no Brasil com previsão de sucessos de bilheteria.
Mesmo que tenha feito do título a manchete, o central nesta blogada não é comentar o filme. Lateralmente, registro que o mesmo me encantou não apenas quando se acompanha o desempenho de Meryl Streep na gradativa senilidade da personagem título, mas e, principalmente, a genialidade como o diretora Phyllida Lloyd rodopia no tempo alternando pareceria entre o marido morto e a mulher que fora poderosa que agora amarga solidão imersa na doença.
Parece não ser discutível que certas sessões de cinema, pela sofisticação das tramas, precisam ser preparadas, para melhor fruí-las. Mesmo que tenhamos sido coetâneos dos acontecimentos centrais do filme, não tinha presente alguns detalhes que facilitam melhor compreensão. Exemplo: não conhecia uma linha acerca com Denis Thatcher (10Maio1915 – 26JUNHO2003— um alto executivo da indústria petrolífera, que introduziu Margareth na política — o personagem masculino mais presente no filme.
Não é propósito, aqui e agora dar uma ‘aulinha’ de preparação do filme, até porque não tenho expertise em tatcherismo. Mas eis alguns tópicos ‘para ajudar a entender' o filme:
Denis Tatcher foi casado Margaret Kempson entre 1942 e 1948, mas nunca viveram juntos. Quando Denis voltou do exterior,  desmobilizado pelo término da guerra em 1946, sua esposa lhe disse que tinha encontrado alguém e queria o divórcio. O casamento sem filhos terminou nas primeiras semanas de 1948. Este primeiro casamento sempre foi ocultado inclusive dos filhos.
Em 1951 casa com Margareth Hilda Roberts, a futura Dama de Ferro. Casaram em uma igreja Metodista, pois como divorciado não poderia casar em uma igreja Anglicana. (FOTO DO CASAL em 1984) Tiveram uma filha e um filho gêmeos — Carol e Mark —, que nasceram em 15 de agosto de 1953.
Margaret Hilda Roberts nasceu em 13 de outubro de 1925 na localidade de Grantham, em Lincolnshire, Inglaterra. Seu pai era Alfred Roberts e sua mãe Beatrice Ethel. Passou sua infância em Grantham, onde seu pai era do dono de duas mercearias. Margaret e sua irmã mais velha, Muriel, cresceram ao lado de uma linha férrea. O pai de Margaret era ativo na política local, chegando a ser vereador e pregador metodista; foi o responsável pela criação estritamente metodista de suas filhas.
O filme — que não tem uma sequência cronológica — começa quando em 1979 Margaret Tatcher conseguiu que os conservadores ascendessem ao poder por ampla margem: converteu-se assim na primeira mulher a ocupar o cargo de primeiro-ministro do Reino Unido. Durante o seu governo conseguiu reduzir a inflação e melhorar a cotação da libra esterlina. No entanto, diminuiu a produção industrial, com o consequente incremento do desemprego, triplicado desde a sua subida ao poder. Proliferaram também as quebras de empresas e bancos.
Tudo isso se deveu à austeridade que acompanhou a sua administração, dado que o objetivo de reduzir a inflação era prioritário. Não obstante, durante seu governo a inflação dobrou entre 1979 e 1980 (de 10 para cerca de 20% ao ano.), e retornou aos dois dígitos no final de década de 1980.
Em meados de 1981 a economia do Reino Unido mergulhou numa profunda recessão. Quando o nível de desemprego atingiu o recorde de 3 milhões (era menos de 1 milhão na posse Thatcher), as críticas às suas políticas econômicas se multiplicaram. Em 1981, numa famosa carta ao jornal Times, 365 economistas conclamaram o governo.
Um destaque no filme decorre do fato que em 1982, Thatcher interveio energicamente na Guerra das Malvinas, vencendo a ditadura Argentina a quem impôs significativas perdas, o que foi um pretexto de ataque para a oposição socialista e a União Soviética. A sua atitude foi muito bem vista pela opinião pública britânica [destacada na capa do TIME], o que permitiu a Thatcher, nesse mesmo ano, obter a vitória eleitoral, apesar da recessão e do desemprego, desta vez com folgada maioria.
Em 1984 enfrentou graves conflitos sociais, em especial a greve dos mineiros, que reprimiu com dureza. Em outubro desse mesmo ano, durante um congresso do seu partido que se celebrava no hotel Brighton, rebentou uma bomba colocada por um grupo de republicanos irlandeses, atentado do qual saiu ilesa.
Como chefe de governo continuou a sua política neoliberal, a privatização de empresas estatais, da educação e meios de ajuda social, a luta contra o desemprego e a limitação das greves. Em 1987 ganhou de novo as eleições, mas nesta ocasião por uma margem muito mais reduzida. Thatcher recusou a união social e política do Reino Unido com a Europa e criou um imposto regressivo. o qual sofreu uma violenta e vitoriosa resistência popular  e a levou a perder o apoio de seu próprio partido. Não lhe restou outra alternativa para além da demissão. Em 1992, Margaret Thatcher deixou a Câmara dos Comuns, ganhando lugar na Câmara dos Lordes como Baronesa Thatcher de Kesteven (Na foto: estátua da Baronesa em Londres).
Hoje, com 86 anos, Margaret Thatcher vive reclusa, devido a problemas de saúde, pois sofreu vários pequenos derrames depois de deixar o poder. Em 2008, sua filha Carol revelou que a ex-titã da política britânica sofria de demência. A própria Thatcher está longe da vista pública há dez anos.
Esta aí uma sugestão de um bom filme para olhar um pouco de nossa história próxima. Com votos de uma muito boa quarta-feira a cada uma e cada um.

3 comentários:

  1. Caro Chassot,
    Essa sinopse da vida da Dama de Ferro é uma belíssima introdução para quem quiser entender o que se passou naquela quadra da história. Curioso é que acabei de ler (em espanhol) "Malvinas, um Sentimiento", de Mohamed Ali Seineldín, coronel do exército argentino que participou do chamado Conflito das Malvinas, livro que reflete todo o dissabor de um povo que admirava Thatcher ao mesmo tempo que abominava a ocupação das Ilhas. O autor mostra um misto de ressentimento e adoração pela anglofilia, parecendo refletir o que os demais militares da Argentina sentiam. De qualquer forma, em que pese o palavrão "neoliberal" tão mal empregado pelo governo FHC neste país, o governo Thatcher inovou ao privatizar empresas que, tal como acontece no Patropi, emperravam o desenvolvimento do Reino Unido. Pode-se dizer que existe uma economia pré Thatcher e pós Thatcher naquele pedaço do mundo. Abraços e parabéns pela bela blogada, JAIR.

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  2. Caro Chassot,
    ainda que seja metodista, não considero que tenha alguma proximidade com o pensamento neoliberal de Thatcher. É claro que a sua doença pode não ter qualquer relação com os seus anos no poder, mas que a gestão desgasta, isso é verdade.
    Obrigado: é uma boa dica de filme.

    Um abraço,

    Garin

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  3. Boa tarde, Mestre!
    Este sem dúvida está na minha lista, pois adoro filmes com conteúdo histórico, e pude ver no dia-a-dia daquela época a determinação daquela que foi chamada A Dama de Ferro, nome tirado de um aparato de tortura medieval.
    Uma das contradições na questão da Guerra das Malvinas foi justamente a identificação que os argentinos sempre tiveram com os hábitos e costumes inglêses.
    Ultimamente, parece que a atual governante do país vizinho quer trazer a questão novamente à baila, talvez, como Galtieri, para distrair a atenção popular de coisas mais importantes que não estão indo bem no continente.
    Abraços!

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