sábado, 31 de dezembro de 2011

31.- UMA HOMENAGEM QUE APAGA O HOMENAGEADO


Ano 6 *** Porto Alegre *** Edição 1977
Último dia do ano: dia de balanços e de fazer planos. Inaugurar agenda. Não faço isto aqui. Mas há um destaque que o 2011 merece. É o ano da Carolina, minha sétima neta, nascida em 30 de novembro. Festejei seu nascimento aqui na edição do dia 1º deste mês. Hoje, quando este blogue encerra o mês e o ano, celebro-a como símbolo da esperança. Das tuas fotos trazidas, uma do último sábado na festa de natal na Morada dos Afagos; em outra, ela está curtindo um banho com a Maria Clara, sua feliz irmã. À Clarissa e ao Carlos a gratidão pela generosa perpetuação da vida.
Hoje é dia de São Silvestre. Há que convier que a homenagem ao santo, colocando sua celebração litúrgica no último dia do ano, paradoxalmente, apagou a memória do homenageado. Este desapareceu à medida que seu nome cresceu.
Pelo menos na cultura brasileira falar em São Silvestre é falar na corrida (ou nas corridas, pois agora vi que há também: São Silvestrinho) que ocorre na tarde do último dia de cada ano. Há também anúncios de ‘bailes de São Silvestre’ ou de ‘réveillon de são Silvestre’. Lembro também de um hotel com este nome, que já me hospedei em Passo Fundo. São Silvestre é topônimo de bairros e distritos no Brasil e freguesia em Portugal.
Mas, ¿e o santo? Aposto um doce, como se dizia em priscas eras, que a maioria dos meus leitores não conhece uma figura muito importante na história do mundo cristão dos primeiros séculos. Confesso que, até desenhar esta edição, não sabia muito mais que Silvestre fora um papa. Há outro (Silvestre II) que foi papa de 999 a 1003, num dos ápices do milenarismo no mundo ocidental. Mas como papas já são quase três centenas... qual o destaque do ‘santo do dia’?
Defendo a tese que não devemos apenas espiar o mundo, mas adentrar nele. Assim convido meus leitores a fazer isso.
São Silvestre I foi o 33º Papa, por 21 anos, entre 31 de janeiro de 314 até 31 de dezembro de 335 [por isso sua celebração é hoje], durante o reinado do imperador romano Constantino I, que determinou o fim da perseguição aos cristãos, iniciando-se a Paz na Igreja. Constantino entra na História como primeiro imperador romano a professar o cristianismo, na sequência da sua vitória sobre Magêncio na Batalha da Ponte Mílvio, em 28 de outubro de 312, perto de Roma, que ele mais tarde atribuiu ao Deus cristão.
Silvestre I foi um dos primeiros santos canonizados sem ter sofrido o martírio. Como papa Silvestre I enviou emissários para presidirem ao sínodo de Arles (314) e ao Primeiro Concílio de Niceia (325), convocados por Constantino, a sua ausência é motivo de debate, provavelmente deve-se ao seu estado de saúde. Durante o seu pontificado a autoridade da Igreja foi estabelecida e se construíram alguns dos primeiros monumentos cristãos, como a Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém, e as primitivas basílicas de Roma (São João de Latrão e São Pedro), bem como das igrejas dos Santos Apóstolos e de Santa Sofia em Constantinopla.
Segundo a tradição, acerca da conversão de Constantino, conta-se que na noite anterior à batalha contra Magêncio, antes referida,  sonhou com uma cruz, e nela estava escrito em latim: In hoc signo vinces”["Sob este símbolo vencerás"]
De manhã, um pouco antes da batalha, mandou que pintassem uma cruz nos escudos dos soldados e conseguiu uma vitória esmagadora sobre o inimigo. Esta narrativa tradicional não é hoje considerada um fato histórico, tratando-se antes da fusão de duas narrativas de fatos diversos encontrados na biografia de Constantino pelo bispo Eusébio de Cesareia.
Só após 317 é que ele passou a adotar clara e principalmente lemas e símbolos cristãos, como o "chi-rô", emblema que combinava as duas primeiras letras gregas do nome de Cristo ("X" e "P" superpostos). No entanto, já quando da sua entrada solene em Roma em 312, Constantino recusou-se a subir ao Capitólio para oferecer culto a Júpiter, atitude que repetiria nas suas duas outras visitas solenes à antiga capital para a comemoração dos jubileus do seu reinado, em 315 e 326.
A sua adoção do cristianismo pode também ser resultado de influência de sua mãe Helena. Esta, com grande probabilidade, havia nascido cristã e demonstrou grande piedade no fim da sua vida, quando realizou uma peregrinação à Terra Santa, localizou em Jerusalém uma cruz que foi tida como a Vera Cruz e ordenou a construção da Igreja do Santo Sepulcro, substituindo o templo a Afrodite que havia sido instalado no local — tido como o do sepultamento de Cristo — pelo imperador Adriano.
Assim é no papado de Silvestre I que a o cristianismo se torna hegemônico no Império Romano (leia-se mundo ocidental). É também quando a igreja se transmuta de perseguida em perseguidora, assunto usualmente apagado. Uma boa pedida para uma blogada.
E, agora, quando nos lermos de novo, já será 2012. Assim, até o próximo ano.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

30.- DE UM DIÁRIO DE VIAGEM



Ano 6 *** Porto Alegre *** Edição 1976
Esta é uma edição muito especial. Hoje, e nas próximas sextas-feiras, este blogue publicará relatos do ‘Diário de viagem’ do Professor Guy Barros Barcellos, atualmente nos Estados Unidos. Em julho, foi deste blogue que viajamos à Ilha Mauricio, através dos óculos do Mestrando em Educação em Ciências e Matemática – PUCRS. Na primeira das ‘memórias estadunidenses’ teremos justificada a paixão por museologia do fundador do Museu da Natureza da Escola ULBRA São Mateus.
Agora uma boa sexta-feira (que não existirá para os samoanos) em companhia de um dos usuais comentaristas deste blogue. E amanhã veremos como a homenagem apagou homenageado.
Abro este relato agradecendo ao meu amigo e guru científico Mestre Chassot pelo convite de participar neste egrégio blogue com meus relatos de viagem durante minhas andanças pelas terras de Margareth Mitchell e John Pemberton.
Aos 27 dias do mês de dezembro visitei o Fernbank Museum of Natural History, localizado em Atlanta (capital do estado da Georgia e cidade do “E o Vento Levou”). Este formidável museu e centro de Ciências foi idealizado por uma mulher além de seu tempo, a naturalista Emily Harrison (figura 1). Quando criança sua atividade favorita era explorar uma floresta urbana – uma das maiores do mundo, com 65 acres de mata nativa – localizada nos arredores de sua casa. Por existirem muitas samambaias (ferns, em inglês) às margens do riacho que cortava o bosque passou a chamar a floresta de Fernbank (margem das samambaias). Em 1880 este passou a ser o nome oficial. Não constarão fotos da floresta neste relato por estarmos no inverno e a floresta ser decídua.
O mais surpreendente é que ela criou, no meio do século XIX, uma escola na floresta. Ensinava jovens e crianças sobre os animais e as plantas. Fazia alfabetização científica e ambiental na prática e se preocupava em preservar este local para as gerações futuras em uma época em que poucos pensavam nisso! Em 1938, junto do biólogo Dr. Woolford Baker da Emory University, Miss Harrisson liderou um grupo de 15 naturalistas que tornaram-se fideicomissários da floresta. Através de convênios com escolas da região construíram em 1967 o Fernbank Science Center (figura 2).
Ao entrarmos no museu nos deparamos com um imenso esqueleto de Argentinossaurus e outro de Giganotossaurus (figura 3). Vale lembrar que o piso é todo feito de um arenito altamente fossilífero, causador de uma vexaminosa cena: andei quase rastejando por todo museu, muitas vezes chamando os olhares de visitantes mais contidos, para tirar fotos da fauna que se espalhava sob meus pés. Perguntei à minha mãe se deveria continuar, logo respondeu que eu era biólogo e tinha esta licença poética. Valeu uma bela foto de um amonita, com textura da concha e suturas das câmaras (figura 4). O próprio logotipo do museu é um amonita, a sua forma espiralada é muito significativa, pois lembra a Via Láctea e a dupla hélice do DNA. 
O museu possui 4 telas IMAX ® onde apresenta variados documentários científicos de alta qualidade, possui um centro de pesquisa científica e educacional, ampla coleção de moluscos e fósseis, além da área de exposição permanente com excelentes dioramas contando a história biogeológica da Georgia.
No entanto, o que motivou minha visita nesta ocasião foi a bem construída e necessária exposição temporária sobre Charles Robert Darwin (figura 5), ícone máximo da biologia. Em um país com sérios problemas de intolerância à teoria evolucionista – na região onde a situação é mais grave, a ponto de ter ouvido certa vez de uma atlantense: “Não aprendi evolução na escola. Aqui não falamos neste assunto” – o Fernbank irreverentemente se coloca como Darwinista. A exposição mostra manuscritos originais do cientista, contextualiza a Ciência na Inglaterra vitoriana (figura 6), constrói uma fidedigna réplica de seu escritório (figura 7), apresenta fatos e fotos de sua vida pessoal (figura 8) e afirma que a “teoria” da Evolução é um fato.


Mostra didaticamente que o ser humano é um animal, descendente dos primatas (figura 9) e denuncia e critica um selo de advertência: “Este livro contém material sobre evolução. Evolução é uma teoria, não um fato...” (figura 10) colocado em livros de biologia no condado de Cobb. Posteriormente isto foi considerado inconstitucional e foi ordenado que removessem os selos, o problema é remover o selo da mente das pessoas. Somente através da educação e do diálogo... A exposição encerra com um lindo diorama de orquídeas e um grande letreiro com o parágrafo que encerra a “Origem das espécies”: “Há uma grandeza nesta visão da vida... De um ancestral comum inúmeras formas de vida, das mais belas e mais maravilhosas foram e estão evoluindo”.
Resta-nos evoluir também.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

29.- UMA VEZ MAIS A QUASE MAGIA DE CALENDARIOS



Ano 6 *** Porto Alegre *** Edição 1974
A blogada de hoje está na esteira da edição de ontem. Há pelo menos duas razões para tal. Uma, a notícia insólita de algo que ocorrerá amanhã e outra colaborações de leitores à postagem de ontem.
A notícia: Os habitantes do arquipélago de Samoa, no oceano Pacífico, vão "perder" um dia de suas vidas amanhã "pulando" a sexta-feira. Aqueles de nós que já fizeram viagens que envolvam troca de fuso vivem sensações de ‘perda’ ou ‘ganho’ de tempo. Mesmo que isto é aparente, não raro nos baratinarmos. Se eu for hoje para Manaus, quando eu chegar lá terei que atrasar meu relógio em duas horas, logo ‘ganhei’ duas horas.  Quando volto, devolvo e se eu não voltar aparentemente ‘ganhei para sempre’ estas duas horas.
Muito comum conversarmos no skipe com pessoas e que estejamos em datas diferentes. “Aqui é sexta-feira, dia 30!” diz um; ou outro poderá dizer: “Estou na quinta-feira, dia 29!” Poderá acontecer que alguém saia de um local no domingo, dia 1º de janeiro e chegue ao seu destino no sábado, dia 31 de dezembro do ano anterior.
Isto está relacionado com a Linha Internacional de Data (LID), também chamada de Linha Internacional de Mudança de Data ou apenas Linha de Data; Ela é uma linha imaginária na superfície terrestre que implica uma mudança de data obrigatória ao cruzá-la. Ao cruzar a linha de data de leste para oeste soma-se um dia e ao passar de oeste para leste subtrai-se um dia no calendário.

Por conveniência, a linha de data foi posicionada no globo terrestre do lado oposto ao Meridiano de Greenwich [Meridiano que passa sobre a localidade de Greenwich (no Observatório Real, nos arredores de Londres, Reino Unido) e que, por convenção, divide o globo terrestre em ocidente e oriente, permitindo medir a longitude. Serve de referência para calcular distâncias em longitudes e estabelecer os fusos horários. Cada fuso horário corresponde a uma faixa de quinze graus de longitude de largura, sendo a hora de Greenwich chamada de Greenwich Mean Time (GMT)], mas localiza-se, na verdade, próxima ao meridiano 180. Há discrepâncias no seu desenho a fim de atender a diversos fatores geopolíticos, satisfazendo territórios que de outro modo se posicionariam parcialmente a leste ou oeste.
A linha de data é um argumento central no livro A Ilha do Dia Anterior, de Umberto Eco, que mostra um protagonista repousando num navio próximo a uma ilha do outro lado da Linha Internacional de Data. Incapaz de nadar, o personagem incorre em especulações físicas, metafísicas e religiosas acerca da Linha de Data.
"Meia-noite de sexta-feira, aqui no navio, é meia-noite de quinta-feira na ilha. Se da América para a Ásia viajas, perdes um dia; se, no sentido contrário viajas, ganhas um dia: eis o motivo por que o [navio] Daphne percorreu o caminho da Ásia, e vós, estúpidos, o caminho da América. Tu és agora um dia mais velho do que eu! Não é engraçado?"  
Antes de Eco, o fenômeno da mudança de data foi explorado por Júlio Verne em "A Volta ao Mundo em Oitenta Dias" [comentado aqui nesta semana, ante a dificuldade de mandar a tempo um parecer] em que Phileas Fogg retorna a Londres após uma viagem ao redor do mundo. Viajando no sentido contrário de Fernão de Magalhães, o viajante pensa estar num dia posterior à data verdadeira.
É esta a explicação para que vai ocorrer amanhã: os habitantes do Estado Independente de Samoa, no Oceano Pacífico, vão “perder” um dia de suas vidas, “pulando” a sexta-feira. O pequeno país de 2.831 km² na Oceania vai mudar de fuso no calendário, migrando para o outro lado da chamada Linha Internacional da Data, que marca a mudança de um dia para outro. 
 A modificação visa colocar o país em sintonia com os importantes parceiros comerciais Austrália e Nova Zelândia. No fuso horário tradicional, quando é sexta-feira para os 180 mil habitantes de Samoa, já é sábado na Nova Zelândia.
No fuso horário tradicional, o arquipélago, por exemplo, "perde" dois dias uteis, porque quando é sexta para os 180 mil habitantes de Samoa, já é sábado na Nova Zelândia, por exemplo. Isso porque o arquipélago está à oeste da linha imaginária da data, enquanto os seus vizinhos de continente estão à leste.
A configuração internacional de fusos horários deixa o arquipélago na bizarra situação de estar mais próximo de Brasília em comparação com os vizinhos de continente.
Tomando como exemplo o horário de 20h34 desta quinta-feira na capital brasileira, já são 9h43 da sexta-feira na capital australiana, 11h44 do mesmo dia em Auckland, na Nova Zelândia, mas ainda é meia-dia e meia desta mesma quinta-feira em Apia, capital do arquipélago. Feita a mudança, o país deve ficar somente três horas a frente dos australianos e apenas uma dos neozelandeses.
Agora, depois de uma explicação, a uma notícia no mínimo insólita [um pais ter seu dia de amanhã suprimido] algo das contribuições dos leitores às análises do convencional do tempo e dos calendários:
#1) o polímata Paulo Marcelo Pontes desde Recife sugere o sítio http://www.superdicas.com/milenio/calendar.asp que tem excelentes dados de vários calendários atuais e inclusive de alguns históricos, como o ‘calendário da revolução francesa’. Há explicações sobre calendários: sideral, solar, lunar, lunissolar  e também sobre os dias da semana.
#2) o teólogo gaúcho Norberto Garin escreve: “quem quiser caminhar um pouco mais na reflexão sobre o tempo enquanto convenção social/humana, pode dar uma olhada no livro de Norbert Elias, "Sobre o Tempo", ZAHAR, 1998 (tem uma edição em e-Book) - é o melhor material que já li sobre esse tema”.  Encontrei este em http://pt.scribd.com/doc/35119709/Norbert-Elias-Sobre-o-Tempo, mesmo sendo uma edição com muitos comentários de um leitor muito crítico em apenas uma espiadela encontrei frutuosos comentários.
#3) já o sociólogo Daniel Cardoso de Curitiba, traz uma sugestão fílmica:  recentemente saiu no cinema trata-se de "O preço do amanhã" em inglês "In time" que teve o roteiro escrito pelo mesmo autor do filme "Truman show". Este filme traz maravilhosas reflexões acerca do tempo, como um fenômeno social.
Um comentário como encerramento: Edições como esta em que se traz contribuições de leitores, a meu juízo, respondem a função disseminar o conhecimento eu poderia ser atribuída a um blogue, Temos que convir que, mesmo com a fantástica agilidade dos robôs googleanos, estas dicas dos leitores são muito preciosas.
A propósito: amanhã teremos uma edição que se fará com contribuição de um leitor. Aguardem e, até então.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

28.- CALENDARIOS: TAMBÉM SÃO CONVENÇÕES



Ano 6 *** Porto Alegre *** Edição 1973
No último dia 25, um comentarista deste blogue, recém chegado à Atlanta em férias, adita à edição natalina, um comentário com uma boa dose de irreverência: “Mestre, que o aniversariante de hoje, Isaac Newton, nos ilumine com sua sabedoria. Um abraço estadunidense, Guy”.
Eis excertos de minha resposta: [...] não só mudas o foco da celebração, como ainda não aderes ao calendário da Igreja romana, pelo qual Newton nasceu em 5 de janeiro de 1643. Nunca é demais recordar, para ratificar a tua opção de aniversariante a ser celebrado em 25 de dezembro, o epitáfio de Newton: ‘A natureza e as suas leis jazem ocultas na noite. Deus disse: Que Newton exista! E tudo se fez Luz!’ [...]”
Na manhã de ontem, ao esteirar buscava um assunto para a próxima blogada, mesmo com a severa advertência da Márcia, minha personal trainee, que sabe quando viajo ao invés do tríplice controlar: passo, respiração e postura de ombros; pensei na provocação do comentário antes referido. Certamente, no dia 12 de fevereiro, o biólogo que neste natal celebrou Newton, não evoca o aniversário de Darwin. Aliás, por pouco que Darwin não concorre com o Dia dos Namorados (são Valentin, 14 de fevereiro) do Hemisfério Norte. Claro que o concorrente de Newton é de outra categoria, até porque que na discutível lista das 100 pessoas que mais influenciaram na história humanidade, segundo pesquisa do cientista estadunidense Michael Hart, publicada no livro "The one Hundred” (London: Simon & Schuster, 1996), Newton e Jesus tenham posições de muito destaque. Reproduzo, como curiosidade, os 20 primeiros nomes [Lista completa comentada em A Ciência é masculina? É, sim senhora!, 2011, 5ª edição, p. 115 a 119]
Um comentário pertinente é o porque há duas datas para o nascimento (o mesmo para morte) de Newton, como se pode ver nos dois selos: um do Reino Unido e outro da ex-República Federal da Alemanha (que com a República Democrática Alemã formaram ‘duas Alemanhas’ independentes de 1949 a 1990). Há muitos eventos nos séculos 16 a 18 que tem datação por dois calendários.
Primeiro uma correção, a minha resposta: falei que outra data para o aniversário de Newton era 5 de janeiro de 1643, na verdade ao somar 10 dias a 25 de dezembro, esqueci-me que dezembro tem 31 dias, assim 25/12 + 10 dias = 04/01.
Mas porque esta adição de 10 dias. O calendário hoje mais universalmente usado é ‘calendário gregoriano’ que foi promulgado pelo Papa Gregório XIII a 24 de fevereiro do ano 1582 para substituir o calendário juliano (este promulgado por Júlio César em 46 a.C e reformado por Augusto d.C). Gregório XIII reuniu um grupo de especialistas para reformar o calendário juliano e, passados cinco anos de estudos, o produto foi o calendário gregoriano, que foi sendo implementado lentamente em várias nações (há países que não o aplicam como Israel, Irã, Índia, Bangladesh, Paquistão, Argélia e outros). Foram omitidos, então dez dias (de 5 a 14 de outubro de 1582). Oficialmente o primeiro dia deste calendário foi 15 de Outubro de 1582.
Comentei, aqui em 12NOV2001, quando da dica de leitura de livro onde Santa Tereza d’Ávila é personagem, que ela morreu às 9 horas da noite de 4 de outubro de 1582. Foi sepultada no dia seguinte: 15 de outubro (pois justamente aí estão os 10 dias, supressos em 1582, quando começa vigorar o calendário gregoriano. As pessoas nascidas, por exemplo, em 10 de outubro de 1581, só tiveram sua data de aniversário celebrada a primeira vez, quando fizeram dois anos, em 10 de outubro de 1583.
O calendário gregoriano foi promulgado pelo papa (da Igreja Católica), quando as igrejas reformadas (com marcas nacionais) recém surgiram: luterana, 1517, anglicana, 1540, por exemplo. Assim na Alemanha, nos países escandinavos, onde o luteranismo se tornou a religião de Estado ou do Soberano e no Reino Unido (sede do anglicanismo) se continuou com o calendário juliano sem a supressão dos 10 dias, para ostensivamente não acatar o papado, que funcionava no mundo ocidental com poderes quase como da ONU. (Vale recordar o Papa como árbitro das demandas internacionais).
O mundo cristão oriental que professava o credo ortodoxo (Rússia, Turquia, Grécia, Egito, por exemplo, separados de Roma desde 1054, explicitamente por não reconhecerem a autoridade do Papa, evidentemente que também seguram com o calendário juliano até o século 19. Muitos cristãos ortodoxos seguem usando este calendário. Agora pelos ajuste de anos bissexto a diferença é treze dias. Assim hoje 28 de dezembro é 15 de dezembro em vários países.
Mas voltemos à data do nascimento de Newton. Referi-la pelo calendário juliano tem dois charmes: um, os biógrafos narram que Isaac Newton nasceu prematuro no dia de Natal; outro, referir 1642 (e não 1643) permite-nos uma linda associação: no ano que morreu Galileu Galilei nasceu Newton.
Por fim, dizermos que hoje para uns 15 de dezembro e para outros 28, mostra que os mais diversos calendários são apenas convenções. Assim, falando apenas para cristãos (e relevem-me islâmicos, judeus, chineses...) um bom 15/28 de dezembro.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

27.- CARA & COROA


Ano 6 *** Porto Alegre *** Edição 1972
Duas ‘notícias brasileiras’ se transformam em manchetes. Uma, ainda pré-natalina, aquela que chamo de 'cara’. Outra, na esteira da ressaca desta segunda feira, coloquei na ‘coroa’. Ambas, duas faces da medalha Brasil, fazem a blogada de hoje.
Cara mereceu desconfiança, questionamento, descrédito ao Censo 2010, até proposta de questionamento do significado de ‘favelização’. Talvez as moradas – havia escrito casas, mas retifiquei – de mais de 10 milhões de brasileiros poderiam ser adequados cenários à ‘presépio vivo’.
Coroa ascendeu e acendeu o ufanismo. Acredito que quase surgiram os dísticos do período da ditatura tipo ‘Brasil: Ame-o ou deixe-o’. Agora temos que superar a França e a Alemanha. Até a Copa talvez superemos o Japão. Bom, depois só fica faltando a China e os Estados Unidos.
Veja os dois lados da mesma medalha. Não vou fazer uma discussão de qual das duas têm mais significados. Apenas permito-me um alerta. Cara se faz mais angustiante, não pelo número absoluto, mas sim por este ter quase dobrado em dez anos.
CARA
COROA
País tem 11 milhões de pessoas em favelas

Dados do Censo 2010 revelam que 11,4 milhões de brasileiros, o equivalente à população da Grécia, vivem em áreas ocupadas irregularmente e com carência de serviços públicos ou urbanização, como favelas, palafitas, grotas e vilas. São 6% dos habitantes do país. Dez anos atrás, IBGE havia contado cerca de 6,5 milhões de pessoas morando em favelas no país ou 4% do total, em "aglomerados subnormais", denominação usada pelo instituto.
É o retrato mais preciso já feito dessas áreas, e mostra que o problema é concentrado nas regiões metropolitanas, mas espalhado por todos os Estados. Dez favelas têm população maior que 40 mil pessoas, superior a 86% dos municípios brasileiros.
Não é possível saber quanto do aumento na década se deve à expansão das áreas irregulares e quanto se deve ao aprimoramento da metodologia de pesquisa, como o uso de imagens de satélite.
Em 2010, foram localizadas 6.329 favelas em 323 municípios. Ficam de fora do levantamento áreas precárias, mas regularizadas, ou irregulares, mas sem precariedade.
A pesquisa revelou também que o quadro mais grave de moradia está na região metropolitana de Belém (PA), onde 54% da população vive em favelas e similares.
No caso de serviços básicos, o que mais diferencia as favelas das áreas de ocupação regular das cidades é a proporção de casas com coleta adequada de esgoto.

As seis maiores economias:
1º Estados Unidos // 2º China // 3º Japão // 4º Alemanha 5º França 6º Reino Unido Brasil
O Brasil deve superar o Reino Unido e se tornar a sexta maior economia do mundo ao fim de 2011, segundo projeções do CEBR (sigla em inglês para Centro de Pesquisa Econômica e de Negócios).
Segundo a consultoria britânica especializada em análises econômicas, a queda do Reino Unido no ranking das maiores economias continuará nos próximos anos, com Rússia e Índia empurrando o país para a oitava posição.
O estudo repercutiu na mídia britânica. O jornal "The Guardian" atribui a perda de posição à crise bancária de 2008 e à crise econômica que persiste em contraste com o boom vivido no Brasil na rabeira das exportações para a China.
O "Daily Mail", outro jornal que destaca o assunto nesta segunda-feira, diz que o Reino Unido foi "deposto" pelo Brasil de seu lugar de sexta maior economia do mundo, atrás dos Estados Unidos, da China, do Japão, da Alemanha e da França.
Segundo o tabloide britânico, o Brasil, cuja imagem está mais frequentemente associada ao "futebol e às favelas sujas e pobres, está se tornando rapidamente uma das locomotivas da economia global" com seus vastos estoques de recursos naturais e classe média em ascensão.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

26.- O LOBO E O CORDEIRO



Ano 6 *** Porto Alegre *** Edição 1971
Última semana de 2011. Este ano, por Natal cair em domingo, temos uma semana completa para despedir o ano. Completa mas não plena, pois o recesso acadêmico entre 23/12 e 02/01 é uma gostosa tradição sempre muito bem fruída.
Ainda na meia tarde deste sábado, enviei a última ‘divida acadêmica’ de 2011. O prefácio de um livro produzido pelo Programa de Pós-Graduação em Educação e Ensino de Ciência na Amazônia da Universidade do Estado do Amazonas. [É verdade que, no mesmo sábado, chegou de uma editora de revista, talvez preocupada como eu, em limpar agenda para terminar mais leve o ano, um pedido de parecer a um artigo.]
Compus um prelúdio ao livro “O ensino de ciências e a conservação dos recursos hídricos” que considero uma sinfonia para as águas composta com maestria Adriana Araújo Pompeu Piza, uma paulista que armou sua rede na Amazônia, e sob a batuta Augusto Fachín Terán, um pesquisador que sabe transgredir fronteiras. Abro o prefácio com a conhecida fábula que a muitos leitores evocará seus estudos escolares iniciais.





Sem nenhuma referência à mesma discorro sobre o livro e depois de três páginas trago o conto, como transcrevo a seguir:
Mas, pergunta-se um leitor mais atento: e a fábula “O Lobo e o Cordeiro” que está na portada deste prelúdio? O que tem a ver com este livro este pequeno conto moral escrito no século 17, na França, por Jean de La Fontaine (1621-1695), considerado o pai da fábula moderna?
Este conto talvez nem seja da autoria de La Fontaine, pois além de compor suas próprias fábulas, também reescreveu em versos franceses muitas das fábulas antigas de Esopo e de Fedro (alguns autores chegam a afirmar que La Fontaine não passa, o mais das vezes, de mero tradutor das obras de Fedro). Fedro [cujo nome completo era Caio Júlio Fedro (latim: Gaius Iulius Phaedrus)] foi talvez um fabulista romano nascido na Macedônia, Grécia que tenha vivido na mesma época que se diz que Jesus viveu na Palestina. Pode ter sido ele o autor trouxe para abrir o prelúdio a um livro que fala de água. Mas, por que, aqui e agora, esta historieta que fala de lobos que só estão em nosso imaginário, que, talvez, tenha mais de dois mil anos?
Simplesmente porque os lobos continuam cada vez mais ativos usurpando – como na fábula – água que é e deveria ser sempre ‘um bem publico’! O livro da Adriana e do Augusto parece dizer: ‘cuidado com os lobos! Eles querem a nossa água!”
São lobos aqueles que inculcam na população que água servida a população por empresas públicas tem pouca qualidade. Recordemos que antes não se comprava água em supermercados como hoje. Isto não passa de uma manobra para depois privatizar a água.
Também são lobos empresas multinacionais que oferecem o aluguel de um purificador de água pelo qual se passa a pagar a cada mês ‘apenas’ R$ 66,90. Desacredita-se o fornecimento de água das empresas públicas (onde elas ainda existem), e depois se oferece uma engenhoca por mais que um décimo de salário mínimo mensal. Estes lobos estão ávidos de abocanhar cordeiros.
São lobos hodiernos produtores de arroz que mesmo quando a seca deixa os rios abaixo dos níveis que permite a coleta de água para fazê-la potável a uma população sedenta desviam o curso das águas para fazer irrigação de suas lavouras.
São lobos, que se apresentam travestidos com peles de ovelhas, as ‘papeleras’ que dizem fazer reflorestamento, mas plantam matos de eucaliptos fazendo primeiro um deserto verde, onde não pousam nem pássaros para depois deixar tocos em um solo de foi retirada toda água.
São lobos as agroindústrias que usam uma poção mágica – o agrotóxico – espalhando-a nas margens dos rios e arroios contaminando águas fluviais que são fontes de abastecimento de humanos, de animais e de plantas, inclusive de irrigação de hortaliças.
São lobos as indústrias que descartam em arroios seus dejetos contento materiais tóxicos, mesmo sabendo que estes arroios são tributários de rios piscosos e que abastassem estações de tratamento de água para vilas e cidades.
São lobos homens e mulheres que usam água tratada para lavar calçadas ou automóveis fingindo inocentemente desconhecer o preço da mesma.
Parece que está justificado porque abri este prelúdio com fábula talvez bimilenar. É com ela que, entusiasmadamente, convido a cada uma e cada um adentrarem neste O ensino de ciências e a conservação dos recursos hídricos” que Adriana Araújo Pompeu Piza produziu em parceria com Augusto Fachín. Neste texto eles nos dizem: Acautelai-vos dos lobos. Vale apenas nos abeberarmos das propostas que uma e outro fazem para com água qualificarmos o ensino das Ciências em Manaus, na Amazônia, no Brasil e na América Latina.
Repito usem este livro para mitigar a sede de transformar o ensino de Ciências que Adriana e Augusto têm. Vale apena usar água para fazer alfabetização cientifica.
Porto Alegre, quase no ocaso de 2011.

domingo, 25 de dezembro de 2011

25.- FELIZ NATAL


Ano 6 *** Porto Alegre *** Edição 1970
Provavelmente, cada uma e cada um dos leitores recebeu muitas mensagens natalinas. Se comparado há tempos próximos, os cartões em suporte papel quase desapareceram.
 Lembram que comprávamos cartões, formulávamos votos em caprichosa caligrafia, subscritávamos envelopes (ação que hoje quase evoca tempos medievos), escolhíamos selos... Depois as mensagens eletrônicas fizeram velhas as operações antes listadas. Mas também os cartões eletrônicos claudicam. Talvez o temor de vírus.
Por se dizer, com adequação, que natal é uma festa familiar, cabe aqui um registro muito pessoal: a Gelsa e eu recebemos, no anoitecer do chuviscoso e frio dia de ontem nossos filhos, noras, genros e netos. Tivemos a alegria de termos, junto com a Liba, as quatro filhas e dois filhos. Na foto a Gelsa e eu estamos com nossos sete netos: Maria Antônia (1999), Guilherme (2005), Maria Clara (2006), Antônio (2007), Pedro (2009), Felipe (2010), Carolina (com 25 dias, no meu colo). Foi uma linda celebração familiar, mesmo que a instabilidade do tempo determinasse a transferência da celebração do jardim para a sala.
Dentre as mensagens que recebi destaco uma:
"Não há nada de quixotesco nem romântico em querer mudar o mundo. É possível. É o ofício ao qual a humanidade se dedicou desde sempre. Não concebo melhor vida que uma dedicada à efervescência, às ilusões, à teimosia que nega a inevitabilidade do caos e à esperança."
 Nesta mensagem atribuída à Gioconda Belli, escritora nicaraguense, nascida em 9 de dezembro de 1948, se fazem os votos deste blogue nesta data festiva a cada uma e cada um de seus leitores.

sábado, 24 de dezembro de 2011

24.- NOITE FELIZ: A VÉSPERA É MAIOR QUE A FESTA



Ano 6 *** Porto Alegre *** Edição 1969
Esta foi/é sempre uma noite muito especial. Parece ser a única data em que a véspera supera a festa.
Em minha infância passava-se o dia montando o presépio, que ocupava a metade da sala. A árvore ou pinheirinho não era muito valorizado. Ele era colocado numa lata de transportar querosene, com água à qual se adicionava um comprimido de ‘melhoral’, se dizendo então, que a árvore ficaria viçosa até o dia de Reis, 6 de janeiro.
A montagem do presépio se procurava reproduzir Belém, e o vilarejo palestino ganhava as mais diferentes e exóticas interpretações, onde havia além de lago (uma gamela com água ou um espelho, onde nadavam patinhos de celuloide), igrejas cristãs, fogueira (uma lâmpada revestida por celofane vermelho, recoberta com carvões) e céu estrelado. Uma ou duas leivas formavam o gramado onde pastavam ovelhinhas. Só os mais velhos – e eu era o mais velho – tinham autorização para ajudar nestas montagens. As crianças só veriam à noite, quando o Papai Noel chegava.
Então ocorria uma humilhação repetida a cada ano: a hora de cantarmos ‘Noite feliz’. O Papai Noel, só muito mais tarde vim a saber, era o seu José, padeiro em Porto Alegre, pai da Nuchi, vizinha da casa da frente, que dizia que a profissão do pai era confeiteiro. Ele era exigente quanto â letra e à melodia. Éramos todos péssimos cantores.
Eu ficava encucado com algumas palavras. Achava ‘eisnalapa’ uma palavra linda. A situação ficava mais difícil. Quando minha queria evocar sua infância e tentava nos ensinar.
Na reprodução das duas versões (português e alemão) meus votos de muitas alegrias pelas festas a cada uma e cada um dos estimados leitores deste blogue.

Noite Feliz

Noite feliz! Noite feliz!
Ó Senhor, Deus de amor!
Pobrezinho nasceu em Belém;
eis, na lapa, Jesus, nosso bem:
dorme em paz, ó Jesus!
Dorme em paz, ó Jesus!

Noite feliz! Noite feliz!
Ó Jesus, Deus da luz!
Quão afável é teu coração
que quiseste nascer nosso irmão
e a nós todos salvar!
E a nós todos salvar!

Noite feliz! Noite feliz!
Eis que, no ar, vêm cantar,
aos pastores, os anjos do Céu,
anunciando a chegada de Deus,
de Jesus Salvador!
De Jesus Salvador!

Stille Nacht!
Stille Nacht! Heilige Nacht!
Alles schläft. Einsam wacht
Nur das traute heilige Paar.
Holder Knab’ im lockigten Haar,
Schlafe in himmlischer Ruh!
Schlafe in himmlischer Ruh!

Stille Nacht! Heilige Nacht!
Gottes Sohn! O! wie lacht
Lieb’ aus deinem göttlichen Mund,
Da uns schlägt die rettende Stund’.
Jesus! in deiner Geburt!
Jesus! in deiner Geburt!

Stille Nacht! Heilige Nacht!
Wo sich heut alle Macht
Väterlicher Liebe ergoß
Und als Bruder huldvoll umschloß
Jesus die Völker der Welt!
Jesus die Völker der Welt