quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

22.- LEITURAS ACERCA DA COREIA DO NORTE


Ano 6 *** Porto Alegre *** Edição 1966
A abertura desta edição é para desejar feliz verão para meus leitores do hemisfério sul e para os do hemisfério norte um feliz inverno. Há 3,5 anos, ao fazer semelhantes votos quando do início do inverno no hemisfério sul, fui alertado por uma leitora equatoriana que desejasse ventos frescos àquelas e aqueles que têm o sol inclemente todos os dias do ano. Assim estes são meus votos: – ventos frescos – para os leitores de Guayaquil, Belém, Manaus, Araguaína, Boa Vista e todos de geografia próxima linha do Equador.
Aqui nos últimos dias, ainda em dita primavera, estamos tendo temperaturas equatoriais. Assim também para nós que venham ventos frescos e a chuva tão necessária.
Ontem abortei a pauta para dar voz ao Sassa. Trago, aqui e agora, algo sobre os acontecimentos que ativaram o Planeta, no começo desta semana com anúncio de que o “líder supremo” da Coreia do Norte, Kim Jong-il, morrera. A foto reproduz uma cena de norte-coreanos chorando ao receber a notícia.
Durante 14 anos, ele cultivou como poucos o culto à própria personalidade. Enquanto seu povo morria de fome nas ruas nos anos 90 – quando 1 milhão de pessoas pereceram –, ele nadava em gigantescas piscinas em seu palácio. Nos anos 2000, a cada arroubo belicista – como os testes com armas atômicas e rusgas com o Japão e a Coreia do Sul – o mundo prendeu a respiração com medo de uma guerra nuclear.
Seu filho Kim Jong-un, o sucessor, é um mistério – como quase tudo na Coreia do Norte, onde poucos jornalistas conseguiram entrar. Até sua idade precisa é desconhecida: teria 28 ou 29 anos. Especialistas acreditam que tenha nascido entre o final de 1982 e o início de 1983, mas, por parecer muito jovem, o governo parece ter optado por determinar seu nascimento em 1982, sem mencionar dia ou mês.
Filho da terceira esposa de Kim Jong-Il, uma dançarina de origem japonesa morta em consequência de um câncer, teria sido educado na Suíça entre 1998 e 2001 com o pseudônimo Pak Un. De volta à Coreia do Norte, ele se graduou em 2007 na Universidade Militar Kim Il-sung e estaria casado desde 2010 com uma garota de 20 anos, com quem teria uma filha. O retrato de Un, porém, junto com seu pai, aparece em todos os prédios da nação. Torres, outdoors e até mesmo montes rochosos estampam sua imagem.
Eis dez ‘pílulas norte-coreanas, que circulam nestes dias na imprensa.
  •    *1.- Se o grande líder estiver na capa de um jornal, dobrá-lo em local que está sua foto, pode causar detenção, a quem cometeu o desrespeito.
  • *2.- A taxa de fertilidade da Coreia do Norte vem caindo desde de 1984 – de 2,81 para 2,03 filhos por mulher.
  • *3.- Com um PIB estimado de US$ 28 bilhões, sua economia é menor do que a de países como Etiópia e Gana. A fome é alarmante.
  • *4.- Por causa da grande fome, o governo decidiu estimular criatórios de avestruz nos anos 90.
  • *5.- É o terceiro país que mais aplica a pena de morte, atrás apenas da China e do Irã, segundo a Anistia Internacional. Cerca de 60 pessoas foram executadas em 2010.
  • *6.- É o país mais corrupto do mundo, segundo o índice de corrupção de 2011 da organização Transparência Internacional.
  • *7.- Tem um dos exércitos mais populosos do mundo – 1,1 milhão de pessoas. Cerca de 5,7 milhões são reservistas da Guarda Vermelha (milícia do Partido Comunista).
  • *8.- Ao mesmo tempo em que é um país pobre, é também uma potência atômica. Porém, com apenas duas ogivas nucleares, o que o coloca em desvantagem – a Rússia, por exemplo, tem 13 mil, e os EUA, 9,5 mil.
  • *9.- Coreia do Norte e Coreia do Sul travaram uma guerra de 1950 a 1953. O Norte invadiu o Sul, com apoio de China e URSS. Um armistício pôs fim ao conflito, mas a paz nunca foi assinada. Os dois países estão tecnicamente em guerra. Pyongyang foi destruída pelos americanos no conflito, e reconstruída pelos russos.
  • *10.- Na Copa de 2010, a seleção norte-coreana perdeu por 2 a 1 para o Brasil. Nenhuma partida era exibida ao vivo. O jogo contra o Brasil foi veiculado no dia seguinte – apenas o primeiro tempo, quando estava empatado.

Vale conhecer um depoimento do diplomata Ricardo Primo Portugal*, publicado na Zero Hora desta terça-feira. Sua leitura parece ser menos radical que as pílulas acima.
Vivi cinco meses em Pyongyang, a partir do início de 2010, trabalhando na Embaixada do Brasil naquela capital, antes de ser removido para o novo Consulado-Geral em Cantão, no sul da China. Talvez uma das maiores surpresas para o estrangeiro que chega ao país é a aparente leveza da vida cotidiana dos cidadãos, a presença de uma inesperada característica lúdica e bem-humorada no povo de um país que nos acostumamos a encarar com preconceito, a partir dos noticiários, como um lugar extremamente pesado e infeliz.
Pyongyang é dividida pelo Rio Taedong, que tem passeios públicos nas margens. Essas ramblas são enormes e largas, acompanhando a quase totalidade do rio, e são um passeio preferencial da população. Nelas se veem casais de namorados sentados em pontos mais reservados, estudantes reunidos ou sozinhos com seus livros. No inverno, as águas do rio congelam, e em certos pontos, em dias de sol, veem-se grupos de amigos pescando em buracos circulares cortados no gelo.
Há uma verdadeira paixão pelos esportes. Os norte-coreanos são bastante habilidosos, por exemplo, no futebol, esporte no qual o Brasil exerce uma atração especial.
No interior, há penúria em certas áreas. Em Pyongyang, há várias falhas de luz por dia. Embaixadas, hotéis maiores e prédios públicos utilizam geradores por causa disso. À noite, a partir das 22h, a cidade fica toda às escuras, exceto pelos grandes monumentos, que dispendem muita energia em iluminação, chafarizes gigantescos etc.
As comunicações são bastante restringidas. O norte-coreano típico não tem quase informação do que se passa no mundo exterior. Há poucos anos, eles passaram a ter acesso a telefones celulares. São distribuídos em modelos simples por uma empresa estatal, são muito caros e só têm alcance dentro do país. Os celulares vendidos para os coreanos não são os mesmos que para os estrangeiros. Isto é: os celulares de um estrangeiro e de um coreano não conseguem se comunicar entre si.
A internet existe, mas é precária e concentrada em instituições – universidades, escolas, organismos públicos. E a banda larga é bastante restrita.

* Ricardo Primo Portugal é gaúcho de Porto Alegre. Aos 49 anos, é escritor e diplomata e vive há oito anos na Ásia. Publicou DePassagens (Ameop, 2004), Arte do risco (SMCPA, 1992), entre outros livros.

2 comentários:

  1. Caro Chassot,

    mesmo diferente da versão das pílulas, o comentário do Ricardo não acrescenta grandes luzes sobre a vida social dos norte-coreanos. O que normalmente se descobre é que o índice social não é muito animador apesar do 'socialismo' praticado.

    Um abraço,

    Garin

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  2. Caro Chassot,
    Outra "pílula Coreana": O ditador Kim Jong-il era baixinho (menos de 1,60m) e, por isso, usava saltos altos. Um repórter coreano teve a ousadia de fotografá-lo de modo que os sapatos fossem visíveis. Kim Jong-il mandou matá-lo. Simples e eficaz. Abraços efusivos pela morte desse Hitler moderno, JAIR.

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