segunda-feira, 7 de novembro de 2011

07.- Linha direta com o 'esgoto'

Ano 6

www.professorchassot.pro.br

Edição 1922

Abertura desta edição não poderia ser diferente: um solene muito obrigado. Ontem, para usar uma maneira não mais usual de referir números, completei meia grosa de anos. Não estou referindo grosa na acepção de lima para desbastar madeira, couro, ferro ou o casco de cavalgaduras” objeto que fazia parte das ferramentas de meu pai, enquanto marceneiro que era, mas de ‘doze dúzias’. Recebi mais de uma centena de mensagens no Facebook, algo inédito para mim, pois estou desde março nesta rede social, telefonemas, torpedos, mensagens eletrônicas e manifestações aqui no blogue. A cada uma e a cada um meu reconhecido obrigado. Comoveram-me todas as manifestações.

Quem teve o privilégio de receber para almoço, junto com a Gelsa, filhas, filhos, genros, noras e netos, aditado por tantas manifestações de carinho, não pode deixar de se encantar de ter vivido sua data natalícia permeada de bem querer.

Postos os agradecimentos desejo trazer aos mens leitores a coluna do ombudsman da Folha de S. Paulo. Permito-me recordar que ombudsman – palavra sueca (que significa representante do cidadão), incorporada a português, através do inglês – que exerce o cargo, em órgãos de comunicação social ou em outras empresas, públicas ou privadas, destinado a receber e investigar queixas ou a estabelecer a comunicação entre a instituição e os seus utilizadores ou utentes [utente = que usa o tem o direito de usar]. A Folha foi o primeiro jornal a ter esta figura e a cada domingo há uma coluna que analisa o desempenho do jornal na semana.

A autora do texto trazido é Suzana Singer atual ombudsman (rigorosamente uma ombudswoman) – da Folha desde 24 de abril de 2010. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação. A coluna deste domingo está na esteira do assunto trazido ontem aqui e por tal cabe nesta segunda-feira.

A nata dos colunistas da Folha se mobilizou para responder aos comentários anti-Lula que surgiram na internet com a divulgação de que o ex-presidente tem câncer. Gilberto Dimenstein, Clóvis Rossi, Elio Gaspari, Eliane Cantanhêde, Hélio Schwartsman, Ricardo Melo e Barbara Gancia escreveram a respeito na semana que passou.
A onda foi percebida por Dimenstein, que disse estar envergonhado com as ofensas veiculadas. "A interatividade democrática é, de um lado, um avanço do jornalismo e, de outro, uma porta direta para o esgoto do ressentimento e da ignorância", escreveu.
Na mesma linha, Cantanhêde pediu aos internautas que "parem com isso!" e Clóvis Rossi, no seu blog no "El País", identificou um "brutal surto de preconceito, de origem social". O chargista Benett retratou o cérebro de um comentarista de blog com perversidade, rancor e ignorância.
A coluna da vergonha de Dimenstein teve repercussão impressionante: 7.760 comentários até sexta-feira, recorde na Folha.com.
A doença de Lula mostrou ser nitroglicerina já no sábado, quando a notícia saiu nos sites. Diante dos primeiros posts em tom agressivo, a Redação decidiu proibir todos os comentários. A partir de segunda-feira, foram liberados, mas passando antes pela moderação.
A Secretaria de Redação explica que censura os posts "que quebrem ou incitem à quebra de alguma lei, que incidam em calúnia, injúria ou difamação ou que sejam preconceituosos e racistas".
A reação dos colunistas provocou uma resposta de leitores que não se consideram "o tipo funéreo de paulista" que não aguenta "essa gente que lota os aeroportos e não quer trabalhar como empregada doméstica", como definiu Barbara Gancia.
"O Gilberto generalizou, disse que as pessoas queriam o mal para o Lula. Não é meu caso, sempre votei no PT e continuo votando, apesar de terem acontecido muitas coisas no governo dele com as quais eu não concordo", explica a engenheira Maria Marta de Castro Rosas, 53, do Rio de Janeiro, cujo filho se curou de uma leucemia há pouco tempo. Ela acha que o ex-presidente no SUS ajudaria a "alavancar a saúde pública no país".
O publicitário Sérgio Storti, 62, de São Paulo, ficou revoltado com a coluna de terça-feira de Schwartsman, que liga as manifestações de intolerância na internet a patologias do pensamento de grupo.
"Quem outorgou ao comentarista o título de juiz da humanidade? As pessoas estão se expressando da forma que lhes cabe e é permitido", escreveu Storti, que acha Lula um "desastre".
Seria preciso uma pesquisa com os internautas para entender quantos simplesmente destilam ódio pelo ex-presidente e quantos cobram dele uma suposta coerência política. É difícil separar o "joio do trigo no meio do barulho midiático", apontou acertadamente Ricardo Melo na quinta-feira.
Notável é a dificuldade dos colunistas de conviver com o seu novo público. No impresso, a reação ao que se escreve é escassa e pode demorar dias. O "Painel do Leitor" recebe, em média, 2.500 mensagens por mês. Já na Folha.com, foram mais de 200 mil comentários em setembro. Para opinar, o leitor do papel precisa entrar no e-mail e redigir um texto curto e objetivo se quiser vê-lo publicado no dia seguinte. Na internet, basta clicar abaixo da notícia e soltar os cachorros (tomando o cuidado para driblar algumas palavras ofensivas que estão nos filtros automáticos).
Os comentários on-line são mais agressivos, precários e, muitas vezes, insultuosos. Houve sim uma abjeta comemoração com a dor do ex-presidente. Mas é preciso passar a barreira da indignação e, com sangue-frio, tentar perceber tendências, entender comportamentos e vislumbrar o que passa pela cabeça de parte do público que nos lê.
Generalizar, julgar ou ofender, mesmo que de forma sofisticada ("face feia da natureza humana", "covardes escondidos atrás do anonimato para passarem por leões"), não ajuda em nada essa interação que o tempo das redes sociais impõe aos jornalistas.

7 comentários:

  1. Caro Chassot,

    pois é, tive um Bispo que dizia: "A democracia não é uma instituição perfeita, tem muita coisa errada e pode proporcionar os mais diferentes deslizes, mas ainda é a melhor forma de governo". Quem sabe, até para conhecermos a verdadeira "natureza humana" com relação a esse tipo de reação. Uma coisa tenho certeza: os que torcem pela recuperação do ex-presidente é em número esmagadoramente maior que essas manifestações de indignação.

    Um abraço,

    Garin

    ResponderExcluir
  2. Olá mestre Chassot!
    Passei aqui para dar um alô e compartilhar algo que me alegrou muito: já olhaste a página do google? A homenageada é nada menos que "Marie Curi". Um abraço carinhoso!!!
    Dirceu (Campo Grande-MS)

    ResponderExcluir
  3. Proessor Chassot,

    seu aniversário, faz remeter-me o primeiro encontro com seus ensinamento em Recife (2000) durante um congresso de Química acerca do assunto "Revoluções na ciência". E de lá para cá reencontros, como o que ocorreu com meus alunos. Sou muito grato! E quero partilhar contigo o quanto suas palavras (e seus livos) me influenciou e ainda me influencia no meu fazer educação.
    Parabéns por mais uma primavera!
    Amigo e companheiro, Dirceu (dicandongas)

    ResponderExcluir
  4. Caro Chassot,
    Pois é, eu também fquei indignado com esse assunto, mas, claro, não tenho a verve desses jornalistas que enquadraram sua indignação e produziram bons textos a respeito. Parabéns pela postagem e boa semana, JAIR.

    ResponderExcluir
  5. Meu caro Dirceu,
    obrigado por teu estar aqui.
    O Google poderia ter referido ser 144º aniversário do nascimento e 77º da morte Marie Sklodowska Curie (1867-1934)
    Um abraço com admiração
    attico chassot

    ResponderExcluir
  6. Boa noite, Mestre!
    Minhas felicitações pelo seu natalício!
    Eu seria o último a defender as posições políticas ou o governo de Lula, mas me deixam enojado certas manifestações grosseiras de ódio e rancor quando ele passa por momento tão crítico!
    Não creio que em nenhum país que eu conheça um ex-presidente deixaria de ter o melhor atendimento possível, fosse como fosse a saúde pública.
    Alguém me repassou um clip onde uma pessoa cheia de rancor deseja até mesmo a morte dele, e tenta justificar essa atitude, coisa que eu repudiei!
    Acho que todos devem ter liberdade para externar o que pensam, mas algumas coisa não deviam nem ser pensadas!
    Abraços!

    ResponderExcluir
  7. Muito estimado Leonel,
    com cópias para meus queridos e mais usais comentaristas Garin e Jair.
    Há dois momento nesta mensagem a um trio que me honra com leituras e comentários:
    1) neste fim de ano, devido ao assoberbamento de deveres acadêmicos, deixarei de responder a cada comentário postado. Adotarei o ‘modelo-jair’ que responde quando algo exige uma resposta. Talvez no final do dia, responda algo mais coletivo. Espero que não se sintam desconsiderados e continuem prestigiando.
    2) Adiro ao Leonel que fez um excelente síntese das discussão que vocês três bem assinalaram: Acho que todos devem ter liberdade para externar o que pensam, mas algumas coisa não deviam nem ser pensadas!
    Uma boa noite ao trio,

    attico chassot

    ResponderExcluir