sexta-feira, 28 de outubro de 2011

28.- Ainda sobre testes que empobrecem a educação

Ano 6

PORTO ALEGRE

Edição 1912

Uma sexta-feira que sabe a fim de semana e a fim de mês. Neste fim de semestre letivo estas paradas são vitais. Evoco a chamada do SINPRO (Sindicato dos Professores) propondo uma greve para um domingo. Ratifico para o próximo. Assim, antecipo já aqui votos de que, após uma fruída sexta-feira, cada uma e cada um temam um curtido e repousante fim de semana.

Há os que atribuem a Lorde Kelvin (1824–1907) a afirmação: ‘só se pode falar daquilo que se pode medir’ Na edição desta quarta-feira, dia 26, apresentamos aqui o posicionamento de um prêmio Nobel (de Economia em 2000, por sua contribuição na criação de métodos estatísticos) mostrando que a ênfase em testes empobrece a qualidade da educação na Escola.

Havia prometido uma continuação para o dia seguinte, mas as evocações trazidas ontem catalisadas com a chegada à Porto Alegre do jornal Metro, fazem que nesta sexta-feira traga a parte final da matéria com o professor da Universidade de Chicago James Heckman. Os créditos da produção que segue estão na blogada antes referida.

Folha Essas habilidades não captadas em testes podem ser ensinadas em escolas, ou é algo que se aprende só em casa?
James Heckman - Famílias têm um papel importante. Pais ensinam aos filhos essas habilidades encorajando-os, estabelecendo limites ou dando exemplos de bom comportamento. Mas há intervenções específicas desenhadas para ensinar crianças pequenas que as ajudam a ter foco na execução de tarefas e a trabalhar com os colegas de modo organizado e disciplinado.
É o caso do programa pré-escolar Perry, iniciado nos anos 60 no Estado de Michigan com alunos pobres de três e quatro anos. As crianças vão para a sala de aula e aprendem a planejar uma tarefa, a desenvolvê-la em grupo e a avaliar o resultado com os colegas. Num trabalho, mostramos que adultos que participaram desse projeto na infância se envolveram menos em crimes, tiveram rendas maiores e ficavam menos tempo desempregados se comparados a pessoas com as mesmas características que não participaram do programa.

Folha Sabe-se que o cuidado nos primeiros anos de vida é muito mais importante do que se pensava para o desenvolvimento humano. Isso significa que crianças pobres que não se beneficiaram de uma intervenção adequada até os seis anos serão casos perdidos?
Seria insano achar que a trajetória de um ser humano vai se resumir ao que foi feito nos primeiros anos de vida. Nunca defendi que as intervenções feitas após esse período da vida são inúteis ou que devemos parar de investir em programas para quem não teve essa oportunidade quando criança. O meu ponto é que uma política adequada para a primeira infância fará todas as intervenções posteriores mais efetivas. O custo-benefício de uma intervenção nos primeiros anos de vida é muito mais vantajoso do que tentar remediar mais tarde. Mas há muito que pode ser feito, especialmente no desenvolvimento de habilidades não cognitivas que terão impactos na vida adulta, mesmo após os dez anos.

Folha Ao enfatizar o cuidado nos primeiros anos de vida, não há risco de sobrecarregarmos ainda mais as mulheres, que dedicam mais horas que os homens para educar os filhos?
Creio que as evidências sobre a importância do cuidado adequado nos primeiros anos e seu impacto na vida adulta valorizam e reconhecem ainda mais o trabalho que hoje, de fato, é feito principalmente pelas mulheres. Mas ninguém está dizendo que elas têm que ficar em casa cuidando dos filhos, até porque há estudos mostrando que o aumento da escolaridade e da participação das mulheres no mercado de trabalho tem impactos positivos no desenvolvimento infantil.

6 comentários:

  1. Caro Chassot,

    a propósito do índice de violência entre crianças e adolescentes, ouvi ontem, na CBN, um comentário de Gilberto Dimenstein sobre uma pesquisa apontando a relação entre o consumo de refrigerantes e o índice de violência. Para mim foi surpreendente, pois sempre se pensou que esse tipo de comportamento estava ligado ao consumo de bebidas alcoólicas.

    Um abraço,

    Garin

    Para conferir: [http://cbn.globoradio.globo.com/comentaristas/gilberto-dimenstein/2011/10/26/CIENTISTAS-SUGEREM-POSSIVEL-LIGACAO-ENTRE-CONSUMO-DE-REFRIGERANTES-E-VIOLENCIA.htm]

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  2. Bom dia professor.
    Encaminhei a entrevista para meus colegas Educadores da Casa onde trabalho a noite: ser a referencia imediata de crianças ainda em idade de formação pode ser um instrumemto no combate a pobreza e desigualdade, oxalá a coordemações destas casas se deram conta disso e estão investindo na qualificação de seus educadores, abandonando aos poucos o perfil de monitor.
    Mais que disciplina e bom comportamento, urge que ampliem seu capital cultural.

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  3. Caro Chassot,
    Um assunto importante como esse deve ser encarado com seriedade pelas autoridades que têm competência para atuar na área de educação, ao mesmo tempo, as famílias podem e devem ficar atentas aos estímulos que terão influência no desenvolvimento de seus rebentos. Abraços, JAIR.

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  4. Meu caro Garin,
    para mim esta é uma surpreendente surpresa [a redundância foi para ser enfático]: refrigerante e violência. Vou ver a matéria.
    Na expectativa do shabath

    attico chassot

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  5. Muito querida Marília,
    folgo em saber que matéria trazida por este blogue colabore com a Educação no teu local de trabalho.
    Obrigado por seres leitora aqui e um bom fim de semana

    attico chassot

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  6. Muito estimado Jair,
    que bom que nossas teses de que emoções não se mede com balanças, fitas métricas ou com testes ganhem espaços.
    Um muito bom fim de semana,

    attico chassot

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