segunda-feira, 23 de maio de 2011

23. Desfazendo preconceitos

Ano 5

Porto Alegre

Edição 1754

Começamos mais uma semana, Ela quase despede maio. O fim de semana para mim foi curto. Quase só o domingo, mas densamente curtido em queridos envolvimentos familiares, leituras de jornais e respostas a mensagens de três dias.

A primeira edição de Alfabetização científica: questões e desafios para a Educação ocorreu em 2000 – portanto antes de 11 de setembro de 2001, já havia extenso capítulo Islamismo: vencendo (pré)conceito. Então, claro que muito menos que depois de 11S e agora era preciso despirmo-nos de preconceitos. Nesses dias em que – devido a sanha belicista estadunidense – se reacendem ódios Oriente versus Ocidente vale repensarmos um pouco o Oriente.

Como parte do pensamento orientalista, a mulher árabe foi representada como um ser inferior e exótico; portanto, há mitos a serem desfeitos Nestes necessários novos olhares, desejo dar voz duas mulheres. Elas são Soraya Smaili, professora livre-docente da Escola Paulista de Medicina e diretora cultural do Instituto da Cultura Árabe e Marcia Camargos, jornalista com pós-doutorado em história pela USP e autora de "O Irã sob o Chador". Eis excerto de texto das duas intelectuais.

O mundo árabe passou por inúmeras mudanças no último século, desencadeadas segundo padrões civilizatórios do Ocidente, que fez sua partilha e colonização e contribuiu para a implantação de ditaduras e para o controle da região e do petróleo. Esses regimes "aliados" promoveram opressão e pobreza.
Sofrendo as consequências da política repressora, a mulher árabe passou a ser vista por meio das lentes de profundos estereótipos. Como parte do pensamento orientalista, foi representada como um ser inferior, exótico e submisso. Portanto, há mitos a serem desfeitos.
O primeiro deles é o de acreditar que todas as mulheres árabes são muçulmanas reprimidas, obrigadas a usar o niqab, o chador ou a burca. [As fotos a seguir estã
o nesta ordem]

Trata-se de uma visão equivocada. Nem todas as árabes professam o islamismo, e mesmo dentre estas a burca não é de uso corrente, muito menos compulsório.

É, na verdade, uma vestimenta típica de lugares específicos e não remonta ao islã. Diversificado, o mundo árabe guarda características próprias conforme a região. Por isso, há mulheres no Líbano, na Síria e na Jordânia que usam o véu e muitas outras que não o fazem.
Outro mito recorrente é o de que a mulher árabe não tem voz, não luta por seus direitos e terá sempre que se recolher ao cárcere do lar.
Os fatos recentes mostram que o levante árabe de 2011 espelha um movimento pelo fim da opressão, por dignidade e direitos humanos.
Como tal, inclui as mulheres.
No Egito e na Tunísia, elas se engajaram na luta pela democracia, formaram comitês populares, convocaram passeatas, entraram diretamente nos confrontos. As TVs exibiram imagens marcantes de mulheres de todos os tipos clamando pelo fim das ditaduras. E o movimento continua.
No entanto, o mais absurdo de todos os clichês é o de que a mulher árabe não tem direitos sexuais ou de locomoção. Precisamos separar religião de tradições tribais antigas, anteriores ao islã.
Práticas arcaicas como a mutilação genital são combatidas por organizações femininas nesses países e foram condenadas pelo islã. As árabes lutam pelo direito de ir e vir e por postos de trabalhos dignos, como as mulheres do mundo todo.
Aliás, a cultura árabe milenar preconiza o direito sagrado de expressão das mulheres. Isso não quer dizer que a opressão não ocorra. Contudo, não podemos continuar cristalizando uma visão distorcida. As mulheres árabes desempenham papel fundamental na organização social e encontram-se no epicentro das transformações.
Assim como os homens, elas estão sedentas por liberdade e irmanadas com os movimentos internacionais na luta por direitos universais. O momento é de mudanças, e estas também pertencem às mulheres árabes.

Pensando que talvez mais do remover niqab, chador ou burca, precisamos remover preconceitos. Este desvelar mexe em posturas históricas, Certamente vale desvelar-se. Uma muito boa segunda-feira a cada uma e cada um aditada ao convite de nos lermos, amanhã.

8 comentários:

  1. Bom dia Professor!
    o.0
    Eu era uma destas que acreditava que a grande maioria[nao diria todas]das mulheres arabes utilizavam este tipo de vestimenta!
    Ainda tenho muuuuuuito a parender!
    =]
    Como sugerido, la esta:
    http://quimilokos.blogspot.com/2011/05/historia-da-quimica-de-lavoisier-ao.html
    Um abençoada segunda-feira!

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  2. Inesquecível Chassot,
    Aprendi um pouco mais sobre estas mulheres e sobre niqab, chador e burca.
    Abraços com saudades!

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  3. Caro Chassot,

    nada como ouvir quem tem autoridade para falar e aí acertaste no centro do alvo: ouvir as mulheres árabes falando sobre sua condição social e humana.

    De repente, com algumas poucas diferenças, as lutas são quase as mesmas, pois por aqui, pelo nosso ocidente "altamente" civilizado, certos hábitos entranhados em nossa cultura, continuam reprimindo as mulheres em nome de "dignidades".

    Uma boa semana e parabéns pela tua blogada de hoje.

    Garin

    http://norberto-garin.blogspot.com/

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  4. Viva Joélia,
    reapareceste depois de muito tempo. Isto é bom.
    Lembrei de ti quando relatei a experiência de ‘Diálogos de Aprendentes’. Olha a blogada de quarta-feira dia 18.
    Pensei em fazer algo parecido com teus alunos que estudam meus textos.
    Fico feliz que a blogada de hoje aditou informações.
    Um afago com saudades
    attico chassot

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  5. Muito querida colega Thaiza,
    cada uma e cada um de nós tem muito a aprender.
    Obrigado pela colocação da obra de Maar no ‘Quimilokos.
    Um afago carinhoso do
    attico chassot

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  6. Meu estimado parceiro Garin
    obrigado.
    Tens razão. Muitas vezes fizemos imagens equivocadas. Os abismos somos nós que fizemos.

    attico chassot

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  7. Caro Chassot,
    Esse imbróglio em como as mulheres devem ser tratadas remonta ao início da civilização e não é hoje que vai ser resolvido a toque de caixa. Cada povo, de acordo com suas idiossincrasias, age de forma diferente dos demais. Em que pese nós do Ocidente estarmos convencidos que nosso tratamento de gêneros é o "mais correto" e, nesse sentito, querermos impor nossos costumes àqueles povos que agem de modo diferente, cabe-nos sermos mais críticos em relação a culturas que viveram e evoluiram sob condições diferentes das nossas. Além disso, a exploração da mulher como símbolo sexual que a TV e o cinema fazem, talvez seja tão ou mais pernóstico do que cobrir corpos e rostos com a burka. Claro que essa é apenas minha opinião e, como tal, tão descartável como qualquer outra. Abraços, JAIR.

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  8. Meu caro Jair,
    pareceu-me genial tua interrogação: ¿O que avilta mais: uma burca o usar a mulher como símbolo sexual?
    Uma estada em terras estadunidenses
    attico chassot

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