sábado, 30 de abril de 2011

30.- Alucinando Foucault

Porto Alegre * Ano 5 # 1731

Um sábado que marca o ocaso de abril. Já vencemos um terço deste que, há não muito, era o ‘ano novo de 2011’. Se repetisse, uma vez mais, a máxima, tantas vezes presente aqui: Tempus fugit! algum leitor poderia deduzir que esclerosei. Ainda nesta quinta-feira o Jair, de ‘blogue que pensa: www.jairclopes.blogspot.com’ escreveu como comentário à blogada: 23- Um relógio quase fantasmagórico que em 23 de fevereiro, bateu recordes de visitas e também de comentários “o tempo não espera e não apressa, não divide nem soma, não vive, nem padece e a despeito de tudo ele simplesmente é!” Há aí um denso filosofar. Aos que chegaram aqui depois daquela edição, vale curtir uma visitação neste sábado.

Nesta manhã participo de mais uma edição de ‘Diálogos de aprendentes’ com uma turma de licenciandos em Física, da FACOS em Osório, liderados pelo meu colega e amigo José F. Cánovas de Moura.

Volta nesta edição sabatina a dica de leitura. No sábado passado houve forfait [aqui apenas uma provocação à lei que proíbe o uso de palavras estrangeiras (inócua, a meu juízo) de meu querido ex-aluno Deputado Raul Carrion], em decorrência de uma edição biblogal acerca de diferentes leituras para Páscoa.

O título que hoje se faz manchete tem marketing, digo ‘estratégia mercadológica’. No livro desta dica sabática, o filósofo Michel Foucault é personagem de uma ficção sobre as relações entre leitor e escritor. Eis a ficha do mesmo.

DUNCKER, Patricia Alucinando Foucault [Hallucinting Foucault Tradução de Duda Machado] São Paulo: Editora 34. 1998, 192 p. 14 x 21 cm, ISBN 85-7326-116-1(R$ 37,00 no sítio da Editora 34)

Bernardo Carvalho, escritor consagrado, que para mim evoca o gostoso ‘Mongólia’ é fulminante: “Alucinando Foucault é um romance de mistificação. Tudo nesse livro, a começar pelo título, diz respeito à criação de mitos. E o principal deles é aquele que pretende fazer os leitores acreditarem que os escritores são figuras especiais, extraordinárias e excêntricas, diferentes do resto dos seres humanos”.

Talvez haja um exagero, mas há que convir que Foucault está no título como Pilatos no credo. E título seduz e até vende. Foi o que aconteceu comigo no recesso pascoal. Encontrei-o na biblioteca da Gelsa. Gostei do livro; li com sofreguidão.

A trama é bem construída: dois importantes escritores franceses: Michel Foucault (1926–1984) e Paul Michel (1947-1993) são envolvidos na ficção tramada no romance de estreia de Patrícia Dunker (nascida em 29 de junho de 1951 em Kingston, Jamaica), professora de teoria literária e teoria feminista na Universidade de Wales, no Reino Unido.

Em Alucinando Foucault mais uma vez há um tênue limite entre o real e a ficção. Os dois escritores são reais. Agora ficção: um estudante faz sua tese de doutorado sobre Paul Michel. No auge de sua paixão pelo objeto de sua investigação descobre que este está internado há quase dez anos em um asilo para dementes na França. Sua namorada, uma germanista que pesquisa obras raras, por razões que se vem conhecer só no fim do livro, estimula-o (e o financia) para que ele vá encontrar Paul Michel no hospício. Estabelece-se – depois de uma rejeição inicial – uma relação muito bonita entre o estudante e o escritor. Gradativamente ele consegue tirar o escritor da loucura, conseguindo, não sem muitas dificuldades uma licença para que ele possa fruir uma temporada fora do asilo. Ao final desta, Paul Michel morre em um acidente de automóvel.

E Foucault? Ele é paixão secreta de Paul Michel, imaginado que os livros de um são resposta aos escritos de outros. Há memoráveis cartas (não sei se ficcionais) de Paul Michel para Michel Foucault.

Em Portugal, com o título de A Sombra de Foucault ~~Editora Gradiva ~~, o romance é muito elogiado pela crítica que destaca como uma “história de amor e de mistério roubada aos sombrios labirintos da memória. Um estudante de literatura inglesa resolve partir em busca de um escritor louco, iniciando uma viagem fatal que o levará de Cambridge aos pavilhões interditos de um hospício francês e às praias do sufocante do verão provençal. Empolgante e controversa, explora os limites da loucura e do desejo, reafirmando o poder desse amor obscuro que une o leitor ao escritor. Um livro notável apontado ao próprio âmago do ato criativo.”

Esta blogada não seria completa se não trouxesse uma referência à Editora 34, talvez a mais ‘simpática editora brasileira, que mesmo com uma história recente (foi fundada em 1992) tem um catálogo realmente precioso. Tenho satisfação de ter em minha biblioteca alguns de seus títulos, sempre em primorosas edições bem cuidadas.

O nome da Editora 34 e o quadrado impresso na primeira página de seus livros foi inspirado no “quadrado mágico” de uma famosa gravura de Albrecht Dürer, de 1514, que é citada no romance Doutor Fausto, de Thomas Mann. O quadrado mágico em questão é subdividido em 16 quadrados menores, com os números de 1 a 16 em cada um deles, e cuja soma em qualquer sentido — horizontal, vertical, diagonal — é sempre igual a 34. Embora sua origem seja incerta, sabe-se que o quadrado mágico surgiu em tempos remotos e aparece em diferentes culturas, como a chinesa, a indiana e a árabe. No caso da Editora 34, segundo informa a página da mesma, ele foi pensado como um símbolo de que existem vários caminhos possíveis para se chegar a um objetivo comum.

Desejo que a sugestão sabática seja aproveitada e que cada uma e cada um de meus amáveis leitores tenham um muito bom sábado. Um convite para nos encontramos, aqui, na abertura de maio.


18 comentários:

  1. Bom dia Professor!
    Interessante essa situação que o senhor traz e que é explorada no início do livro citado: o fato de "fazer os leitores acreditarem que os escritores são figuras especiais, extraordinárias e excêntricas, diferentes do resto dos seres humanos".
    Me fez lembrar as várias vezes em que encontrei com alunos meus em shoppings, ou festas, ou shows, ou qualquer lugar público, e eles me encararem com um ar de: "nossa!Professor também faz isso?!"
    Rsssssss!!
    Confesso que é mais um livro para fazer parte de minha biblioteca!
    =]
    Quanto ao quadrado mágico, é algo que me encanta!
    .
    Um ótimo e abençoado sábado!
    E que venha maio!
    .

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  2. Thaiza querida,
    obrigado por te encantares com a dica de leitura de hoje. Teu comentário acerca de como ‘nós somos quase ETs para nossos alunos’ faz-me lembrar meus primeiros anos de escola primária, em que fui aluno de freiras, estas nem podiam comer em nossa frente. Imaginava que elas não tomavam banho, não faziam xixi etc. Anos mais tarde aprendi que ainda na segunda metade do século 20 membros de certas ordens religiosas não podiam tomar banho completamente despidos. Imagina que ordens religiosas masculinas, tinham pinça nos banheiros para não tocarem com as mãos no pênis. Parece quase anedota.
    Um abençoado sábado para ti e para teu trio
    attico chassot

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  3. Caro Chassot,

    já havia conversado contigo sobre esse livro, mas lendo a resenha que fizeste aqui no blogue, parece mais interessante ainda.

    O que me chamou a atenção foi a tua observação de que o Foucault entrou como "Pilatos no credo Apostólico". Nossa moderna sociedade de consumo acaba estimulando essas coisas - "é preciso vender" e para tanto, no entendimento do mercado,"vale qualquer coisa". De outra época e com outra ideologia, acho que o coitado do Pilatos não apareceu muito mais depois da aprovação do credo (Concílio de Nicéia de 325).

    A respeito do comentário da Profa. Thaiza lembrei de um episódio: às vésperas do Natal, circulando pela Rua da Praia, ouviu alguém gritando, no meio da multidão, "professor!", "professor". A princípio não me importei. Depois, resolvi conferir: tratava-se de um ex-aluno que mais de 10 anos não o via. Ele morava agora em Bagé e me "atacou" para dizer que era Advogado e agradecia pelas minhas aulas de Educação Religiosa no Ensino Médio.

    Um abraço,

    Garin

    http://norberto-garin.blogspot.com

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  4. Caro Chassot,
    Como sempre, boas dicas de livros. Como não li os dois, coloquei-os na minha "cesta", como os saites de compras costumam dizer. Fico lisonjeado que uma frase minha tenha sido aproveitada no teu texto, parece que vez ou outra consigo me expressar de forma a agradar os que me leem. Abraços e bom fim de semana.

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  5. Emerson Arli Magni da Silva30 de abril de 2011 às 14:27

    Olá Mestre,

    Hoje participei da conferência junto a turma aqui em Osório. Quero agradecer seu incalculável conhecimento e ampliar um pouco a nossa troca de informações.
    Quando penso sobre a "extinção da humanidade" como foi exposto, lembro que a informação nos dias atuais, é de extrema importância, por ela estar diretamente ligada a controle, dados, forma, conhecimento, dando um certo dogma as pessoas que à possuem.
    Fazendo uma análise disto concordo com seu pensamento que podemos utilizá-la para modificar, ampliar ou até mesmo resolver problemas atuais e futuros, impedindo acontecimentos catastróficos que nós mesmos ou nossos netos, porque não, poderíamos vivenciar.
    Quero relatar ainda que, minha esposa é professora de português em duas cidades aqui no litoral, Imbé e Xangri lá, e já relatou que nesta semana estava discutindo a lei do então Deputado Raul Carrion com seus colegas e alunos. Gostaria de pedir para o senhor, se não for incômodo, para trocarmos pensamentos no que diz respeito a isso.
    Grato pelo tempo e paciência.

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  6. Estimado Emerson,
    (mando a resposta ao prezado Zeca, pois não tenho teu endereço),
    obrigado por tua participação esta manhã em nosso frutuoso ‘diálogo de aprendentes’.
    Acredito que tenhamos trazido questões muito relevantes e não foi sem razão que Ciência e religião estiveram tão presentes.
    Quanto a Lei Carrion, com a qual tua esposa está envolvida tua esposa, fiz uma ironia na abertura da edição de hoje.
    Considero-a inócua, mas não tenho condições de estabelecer um diálogo mais consistente;
    Muito obrigado pela parceria intelectual e uma boa jornada nesta tarde aí na FACOS
    attico chassot

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  7. Meu caro Garin,
    linda a história das pessoas que marcamos e também como somos quase ETs para nossos alunos como narra a Thaiza desde Goiânia.
    Uma boa curtida de sábado que nestas geografia e nublado
    attico chassot

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  8. Meu caro Jair,
    permita-me um pequeno alerta: os dois livros são o mesmo. Um edição brasileira e outro portuguesa.
    Teu filosofar sobre o tempo é dialético por tal abre o blogue de hoje,
    Uma boa curtida de tua ilha maravilhosa
    attico chassot

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  9. Liége Flores

    Olá Attico,
    Sou do curso de matemática da Facos e participei da conversa com o senhor hoje pela manhã. Considerei de extrema importância a troca de conhecimentos que a turma teve com o senhor, pois a ciência e religião são assuntos polêmicos, e não existem respostas concretas para todas as nossas dúvidas sobre esses dois assuntos, e suas colocações nos fizeram compreender melhor e nos deram uma visão mais ampla destes temas.
    Obrigada por sua disponibilidade!

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  10. Prof.
    A nossa aula de Iniciação a Física na manhã de hoje (30/04) na Facos foi mais uma vez gratificante devida a sua participação via Skype. Um bate papo bem descontraído e mais amigável. O pessoal estava mais a vontade. Esperamos encontrá-lo mais vezes, pois afinal de contas, nasceu uma bela amizade. Gremista ou Colorado? Um forte abraço.

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  11. Olá Professor Chassot,

    Estávamos na conferencia da aula do Prof. Zezinho hoje, e foi uma grande satisfação em participar desse Diálogo de Aprendentes.
    Sempre aprendemos com essa troca de informações, tornando nossas aulas mais produtivas com a colaboração de seu grande conhecimento, relacionando com as várias áreas, tanto da ciência como da religião.
    Gostaríamos de trocar conhecimentos mais vezes.
    Um ótimo final de semana!

    Alunas: Eliana, Janete.

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  12. Boa tarde querido senhor Attico Chassot.
    Sou Janaina da aula do professor Zezinho.
    Não lhe fiz nenhuma pergunta, mas as nossas aulas com a sua presença e muito interessante por que o senhor é uma pessoa muito inteligente, e quando o senhor esta falando me lembro de minha biza avó que era uma pessoa muito ligada com tudo da vida e não deixa as pessoas sem resposta para qualquer duvida.
    O que o senhor falou sobre espiritualismo, ela acreditava nisso muito, por que todos nós estamos na terra para fazer algo certo ou errado.
    O que o senhor acha sobre o que as pessoas falam que todos estão na terra para pagar ou para cumprir suas missões?
    Email para resposta janaasmoreira@gmail.com

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  13. Muito estimados Milena, Liege, Misael e Mario Sérgio,
    ~~ primeiro relevem responder numa mensagem os quatro comentários que vocês postaram aqui e também na blogada do dia 26. Etou neste fim de semana fazendo uma campanha de abstinência da internet ~~
    Que bom que vocês quatros adiram ao que já manifestara o Emerson: a validade de nossos encontros.
    Mais uma vez aprendi com os atentos e atenciosos alunos do curso de Matemática e/ou de Física da FACOS. Gremistas e colorados somos todos aprendentes;
    Tenham todos um bom resto de tarde,
    attico chassot

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  14. MILENA da FACOS escreveu
    30/04/2011 Olá, sou a Milene do curso de matemática da FACOS, onde tivemos a conversa de aprendentes hoje pela manhã. a manhã de hoje foi muito produtiva, pois suas informações contribuiram para meu aprendizado, já que a ciência é um assunto muito pertinente nos dias de hoje, ainda mais para nós acadêmicos que devemos sempre estar atualizados. Sua fala sempre esclarece minhas duvidas e enriquece meus conhecimentos, adimiro muito sua sabedoria e a sua simplicidade. Estou aprendendo muito nos nossos dialogos de aprendentes, e sei que levarei comigo essa experiência para a minha vida docente, caso eu realmente siga lecionando, afinal muitas são minhas duvidas nessa área, ser professora ou não? Estou me formando esse ano e ainda não decidi, que duvida cruel. Abraços até a próxima. (milenemachado31@hotmail.com)

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  15. ORLANDO da FACOS escreveu

    Olá professor.
    sou Orlando, aluno do professor zezinho.
    hoje pela manha tivemos uma conversa ótima sobre crenças e religiões. Eu particularmente acredito em Deus mas não freqüento igreja porque acho que isso é só um comércio que se aproveita da boa fé das pessoas carentes ou com problemas de depressão e etc.
    mas também a conversa mudou muito meu olhar e relação aos ateus pois por falta de informação acabei pensando uma coisa totalmente diferente.
    mas agradeço pela sua atenção com nossa turma e um grande abraço GREMISTA(brincadeira) e até a próxima.

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  16. Queridas Eliana, Janete e Janaina,
    ~~ e cada uma e cada um dos queridos alunos da FACOS que generosamente inundaram aqui de comentários tão queridos, que nem sei para quem já respondi ~~
    obrigado pelas queridas referências ao nosso querido encontro desta manhã. Acreditem que para mim também foi muito bom.
    Fiquei comovido que evoco a Janaina a figura de sua bisavó.
    Não acredito (e essa é uma resposta pessoal para a Janaina) que estejamos aqui para expiar faltas de vidas passadas.
    Na expectativa de um próximo encontro, um bom domingo que espero se diga a mesma frase de Iuri Gagarin em 1961: A terra (ou o Rio Grande do Sul) é azul;
    Com continuada disponibilidade
    attico chassot

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  17. Me interessou bastante, por enquanto meinha situação0 financeira não me permite comprar, mas muito obrigado por mais está dica!

    Henrique Veber

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  18. Meu caro Henrique,
    sugestões não são apenas para comprar, mas também para alertar à obra até para sugerir a bibliotecas a aquisição.
    Desejando que breve o poetar/filosofar de azo a uma situação financeira que permita comprar livros a mancheias,
    renovo minha admiração

    attico chassot

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