segunda-feira, 4 de abril de 2011

04.- Livros: artigos de luxo

Porto Alegre * Ano 5 # 1705

Quantos livros o leitor tem em sua biblioteca particular? Muito gostaria de saber a resposta, não no sentido de estabelecer comparações, mas para certamente constatar que o universo de meus leitores são pontos fora da curva na realidade que escrevo a seguir.

Abro espaço para uma edição deste blogue sobre o assunto se tiver retorno de meus leitores. No Memórias de um professor: hologramas desde um trem misto há um capítulo sobre aquilo que é meu bem material mais precioso: ‘minha biblioteca’. Está aqui uma provocação.

No aguardo de contribuições, ofereço uma notícia menos boa acerca do tema. A ela adito votos de uma excelente segunda-feira abertura de mais uma semana.

Sábado foi o Dia Internacional do Livro Infantil, então, recebemos no jornal Zero Hora uma revelação bastante triste: o Brasil lidera ranking de países em que os estudantes têm menos obras em casa.

Folhear as páginas de um livro pinçado ao acaso nas prateleiras de casa é algo bem menos corriqueiro no Brasil do que muitos de nós imaginam. Pelo menos é o que indica um levantamento do Movimento Todos Pela Educação, segundo o qual quase 40% dos estudantes do país vivem em lares onde as obras literárias são artigos raros: em média, não passam de 10 exemplares.

Divulgada em março, a pesquisa teve como base os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) de 2010, que envolveu 65 países ao redor do mundo.

O cenário brasileiro é considerado um dos piores. Se 39,5% das crianças e adolescentes disseram ter, no máximo, uma dezena de títulos em sua residência, outros 30,4% admitiram que o número não supera os 25. Somente 8,1% dividem espaço com mais de cem obras dentro da própria moradia.

Para efeito de comparação, em países como a Islândia, mais da metade da população estudantil conta com verdadeiras bibliotecas particulares, turbinadas por mais de uma centena de edições. Luxemburgo, um pequeno país encravado na Europa ocidental, entre a Bélgica, a França e a Alemanha, é o campeão “mais de 500 obras”: nada menos do que 15,7% de seus estudantes desfrutam dessa condição.


É evidente que a simples posse de livros não garante um desempenho melhor, especialmente naqueles casos – tão comuns – em que acabam cumprindo o papel de meros enfeites. Ainda assim, a pesquisa mostrou que os jovens que convivem com esses objetos tiveram resultados superiores nas provas do programa.

Educadores são unânimes ao afirmar que, crescer em uma família marcada pelas letras, é determinante para o desenvolvimento intelectual.

– Mesmo que a criança não saiba ler e que os livros estejam na estante apenas para bonito, só o fato dela ter contato já é importante para que comece a se familiarizar e, no futuro, desenvolver o hábito da leitura – ressalta a professora Tania Beatriz Iwaszko Marques, da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

A falta de livros nos lares brasileiros, para a diretora executiva do Todos Pela Educação, Priscila Cruz, tem explicação econômica e cultural. Econômica, porque se trata, em geral, de produtos caros – ainda mais em um país marcado pela pobreza. Cultural, porque a decisão de pagar por literatura nem sempre tem a ver com dinheiro. Tanto que muitos adolescentes preferem comprar roupa e muitos pais, gastar em futilidades. Abaixo algumas pouco honrosas posições do Brasil em cinco ranking quanto a posse doméstica de livros.

de 11 a 25 Livros (%)

1º Indonésia 37,7

2º Tunísia 33,76

3º Quirguistão 33,01

7º Brasil 30,4

26 a 100 Livros (%)

1º Eslováquia 39,05

2º Xangai - China 36,84

3º Letônia 36,28

63º Brasil 19,37

de 101 a 200 Livros (%)

1º Islândia 25,10

2º Finlândia 23,16

3º Coreia do Sul 22,94

64º Brasil 5,15

de 201 a 500 Livros (%)

1º Coreia do Sul 22,20

2º Liechtenstein 20,48

3º Islândia 20,32

64º Brasil 1,90

Mais de 500 Livros (%)

1º Luxemburgo 15,73

2º Hungria 14,67

3º Suécia 12,41

64º Brasil 1,09

Fonte:

Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) de 2010

10 comentários:

  1. Bom dia Professor!
    Sou uma dessas privilegiadas, que cresceu rodeada de livros [por causa de minha mãe, como já te contei uma vez]em casa, como aprendi a valorizá-los e usufruir da biblioteca da escola onde estudava.
    Hoje, continuo incansável [rssssss!]e insaciável por deixar meu cérebro sempre em funcionamento! Adoro uma boa leitura, seja para estudar, seja para distrair, seja para rir, para ficar tensa, enfim, pra mim, livros sempre foram melhores que filmes!hehehe!!E, graças a Deus, percebo que essa minha 'febre' tem refletido positivamente em meu filho, hoje com 5 aninhos, e que não 'dá piti' frente a uma loja de brinquedos, mas não sai de um shopping sem ao menos um livrinho ou um gibi em mãos!
    Rsssss!!
    Todos os dias, aliás, noites, temos que ler juntos, e ai de mim se for uma história repetida!
    kkkkkkkk!!
    Coincidentemente [ou não, pois não creio em coincidências, mas sim em providências], estav lendo esta sua postagem enquanto meu twitter abria' aqui, e recebi um twitt da UFG, o qual deixarei o link para o senhor; talvez o interesse, pois se trata de assunto em comum:
    http://200.137.221.78/SIEC/portalproec/sites/gerar_site.php?ID_SITE=3841
    O evento se chama: Banquete de Livros!
    Um forte abraço e um bom início de semana!
    p.s.:qualquer dia faço a contagem dos livros que tenho em casa, rsssss, mas só de vista, acho que ultrapassa uns 400...

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  2. Meu caro Mestre Chassot!
    Os maiores obstáculos com que nos deparamos, enquanto docentes de cursos técnicos da região metropolitana de Porto Alegre, e que nao deve ser muito diferente nas demais capitais do país, é a extrema falta de compreeensão do que leem nossos alunos e a grande dificuldade de construir algum texto razoavelmente elaborado falando daquilo que leram. Uma disciplina que tenho defendido sua inclusao nos cursos técnicos, é a Leitura e Interpretação de Textos, conteúdo que muitos diretores creem ser desnecessário. Mas, a falta dessa compreensão é que acarreta grandes dificuldades para nossa atuação. Abraço - JB. Aliás, ainda não tive a oportundiade de contar os títulos de minha Biblioteca. Mas não deve alcançar 10% do acervo chassotiano.

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  3. Muito querida Thaiza,
    realmente es uma privilegiada pelas consequências de teres um berço com livros.
    Apenas espiei o ‘banquete de livros’ da UFGO http://200.137.221.78/SIEC/portalproec/sites/gerar_site.php?ID_SITE=3841
    Pois estou em fugaz intervalo entre as aulas da manhã e da tarde. Mas quero vê-lo com vagar. Este ano dia mundial do livro seá no sábado de aleluia. Que tal se coelho ao invés de ovos trouxesse livros.
    Um boa semana para todos nós.
    attico chassot

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  4. Meu caro Jairo,
    bem posso inferir as dificuldades com leitura (e mais ainda com a escrita) de teus estudantes, pois o problema ocorre no ensino superior, inclusive nos cursos de pós-graduação.
    Esta disciplina que prognostica é fundamental e dela dependerá o êxito em muitas outras.
    Significativo que nem tu nem a Thaiza tem levantado o número de livros em seus acervos pessoais.
    Obrigado pelo prestígio a este blogue.
    attico chassot

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  5. Olá, Mestre, prezados leitores, quando dizemos que uma pessoa está alfabetizada significa que ela aprendeu a usar os livros, e, não somente juntar b com a . Infelizmente, a maioria das crianças sai da escola analfabeta funcional. Elas não adquiriram o hábito da leitura, o gosto pelos livros e pela aquisição do saber contido neles. Daí esses resultados dos estudantes brasileiros no PISA. A falta de incentivo à prática de leitura vinda também da mídia que incentiva a aquisição de outros objetos, faz com que os pais escolham ovos de chocolate, brinquedos, telefones celulares, roupas de marca, ao invés de um livrinho sequer.
    O pior, os livros das bibliotecas das escolas geralmente ficam literalmente às traças.
    Melhor qualidade na educação em todos os níveis, é o que precisamos!
    Abraços,
    Malu.

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  6. Muito querida colega Maria Lúcia,
    a dolorosa realidade é que também nas bibliotecas universitárias as moscas são talvez as mais assíduas visitantes.
    Lembras, ainda, os analfabetos funcionais... uma chaga por que parecem marcados pela enganação. Pensam que sabem, mas não sabem e não entende o que leem.
    Este ano o dia Internacional do Livro cai no sábado de aleluia... Se as pessoas se dessem livros ao invés de livros, seria uma verdadeira ressureição.
    Com alegria por saber-te parceira no fazer alfabetização científica.
    Um afago do
    attico chassot

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  7. Caro Chassot,
    Me permito discordar levemente da pesquisa que estabelece a "posse" de livros como um parâmetro válido para estabelecer o hábito da leitura. Levemente por que cresci num lar em que meu pai apesar de semi analfabeto era leitor contumaz e apaixonado, por livros, revistas e jornais. Como já confessei em comentário anterior sou aficcionado por leitura, leio mais de sessenta livros alentados por ano. Sei disso por que tenho anotado nos últimos 20 anos todos que li. Meu gosto e de meus irmão pelos livros foi a dileta herança que nosso pai nos deixou. Desde algum tempo já não os tenho em minha casa, entendo que devo pôr ao alcance de outras pessoas meus livros, costumo doá-los todos. Nos últimos cinco anos doei mais de 500 livros para bibliotecas de pessoas de terceira idade e particulares. Fico feliz quando vejo meus livros sendo lidos por pessoas que não teriam meios de adquirí-los. Acho válido perguntar se as pessoas que "possuem" livos, os leem realmente. "Ter" livros não é sinal de leitura, pode crer num leitor que realmente LÊ MUITO. Abraços, JAIR.

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  8. Muito estimado Jair,
    li emocionado teu comentário. Posso dizer que não tenho apego a bens materiais. Mas só há algo com que seu possessivo: meus livros. Tenho 3163 livros (suporte papel) todos cadastrado, com informação no qual dos cinco distintos ambientes estão, com indicação de prateleira e estante. Há um tempo contei de uma operação corrente no Japão onde se cortam os livros para digitalizá-lo. Chega me dar dó.
    Não tenho a generosidade que tens de doá-los. Já doei duas enciclopédias a uma escola. Mas, reconheço que com livros sou possessivo. É também com livros (e só com livros) que aflora meu lado consumista.
    Penso já em fazer uma doação a uma escola de toda a minha biblioteca, quando estiver menos capaz. Temo que não vá encontrar que queira. Podes imaginar quanto tua generosidade me comoveu.
    Quanto a tua afirmação de que ter livro não é índice de leitura: de acordo, livro é/era objeto de decoração(parece que isto está démodé). O índice é de não ter livro em casa.
    Esta semana (talvez quinta-feira) vou fazer uma blogada sobre minha biblioteca.
    A cada vez maior admiração por tua importante parceria intelectual

    attico chassot

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  9. Ave Chassot,

    Toda esta melíflua conversa me fez lembrar uma frase de Schoppenhauer: "Seria bom comprar livros se pudéssemos comprar também o tempo para lê-los." Adoraria ter tempo de ler todos os livros que compro.
    Minha biblioteca cresce e o tempo diminui... sábio Arthur...

    ...seguindo as orientações do "Poema em linha reta" do Pessoa confessarei uma vileza: compro mais do que leio... Pecadilho das traças gulosas... desafio a todos que o fazem a confessá-lo.

    Reitero meu comentário de há alguns meses sobre a insipidez gélida dos livros digitais. VIVAM AS LOMBADAS! VIVAM OS ÁCAROS E AS TRAÇAS! VIVAM AS PRATELEIRAS ABARROTADAS! VIVAM OS LIVROS COMPRADOS HÁ 2 ANOS AGUARDADANDO DEFLORAMENTO! VIVA GUTTENBERG!

    Com as excusas pela exaltação,

    Guy, o ácaro.

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  10. Meu caro Guy,
    ~~ e também Jairo, Jair, Maria Lúcia, Thaiza, gente preciosa ~~
    teu excelente comentário, que juntou-se a um grupo de distinguidos comentaristas [junto cópia deste comentário para cada uma e cada um] que fizeram essa blogada muito especial. Não conhecia a maravilhosa citação de Schoppenhauer: "Seria bom comprar livros se pudéssemos comprar também o tempo para lê-los." Realmente sempre compramos livros para ler quando... sei lá quando será este tempo.
    Estou pensando para esta semana uma blogada sobre minha biblioteca.
    Festejo tua presença que faz este blogue distinguido
    attico chassot

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