quarta-feira, 30 de março de 2011

30.- ¿...e a usina nuclear de Fukushima?

Porto Alegre * Ano 5 # 1700

Foi-se José Alencar:
Em busca da eternidade...
Sua alma agora voa:
Nos ares da liberdade...
Sua luta foi exemplo:
Partiu e deixou saudade...

Gustavo Dourado

Mais uma postagem que ocorre na abertura de uma quarta-feira, quando regressei há não muito da aula de Conhecimento, Linguagem e Ação Comunicativa para a turma de Educação Física e Filosofia. Poderia fazer uma blogada só sobre a aula de hoje a noite, tala a riqueza de discussão.

A morte que enluta a abertura foi assunto na hora da rodinha. Foi significativo ver quanto ao lado de reconhecerem no ex-vice-presidente um guerreiro destemido exemplo de garra na luta pela vida, é também um ícone de quanto a Medicina de ponta está a serviço dos bem aquinhoados. Isso ensejou uma discussão sobre eutanásia e ortotánasia, que levou a comentários do filme “Mar adentro” (2004) e seu diretor Alejandro Amenábar levou a outro filme: Ágora e neste a história de Hipácia e desta chegamos a Giordano Bruno. Tudo isso foi apenas foi prelúdio para uma excelente discussão do texto diálogo de aprendentes. Mas isso será pauta para outra edição.

Já fui, não sem razão, questionado por mais de um leitor, porque este blogue não se comenta nada acerca das tragédias do Japão. É algo justificável esse questionamento a um blogue que se propõe fazer alfabetização científica.

Acerca das três maldições que assolam o Japão: terremotos, tsunami e acidente nuclear, provavelmente, é a radioatividade a mais perniciosa e assustadora. Então, sobre ela que se faz a edição de hoje.

Trago, marcado por esta omissão acerca do Japão um texto publicado em ‘Um blog que pensa www.jairclopes.blogspot.com editado por Jair Lopes desde Florianópolis. Agradeço ao distinguido leitor deste blogue a permissão para publicação. Também adito como sugestão de leitura eu prestigiado blogue.

No momento que o mundo está apreensivo com o que pode acontecer em decorrência dos vazamentos radioativos da usina nuclear de Fukushima no Japão, nunca é demais relembrar o quando pode ser perigosa essa forma de energia “domada” pelo homem para fins bélicos e pacíficos. Recordemos que as únicas bombas nucleares usadas contra populações civis foram aquelas lançadas pelos estadunidenses em Hiroshima e Nagasaki em 1945, com objetivo de colocar um término na guerra.Depois da guerra e, especialmente depois de 1949 quando a URSS explodiu sua primeira arma nuclear, os EUA passaram a investir pesado na fabricação dos artefatos atômicos. Sua principal fábrica de bombas era a Hanford Engineering Works, na margem esquerda do rio Columbia, no estado de Washington. Durante os 50 anos seguintes, Hanford liberou bilhões de litros de rejeitos radioativos no rio Columbia e deixou parte dessa matéria atingir o lençol freático. Calcula-se que a necessária faxina para esses 50 anos de irresponsabilidade nuclear deva durar 75 anos, custará em torno de 500 bilhões de dólares, e não haverá garantia que o resultado seja de limpeza total.

Desafiados pelos propósitos estadunidenses, os soviéticos construíram um enorme complexo de armas nucleares e fizeram a maior parte de seus testes no Cazaquistão. Despejaram seus dejetos no mar, principalmente no oceano Ártico. O centro de reprocessamento de combustível nuclear no oeste da Sibéria é o ponto mais radioativo do Planeta. O local contém 50 vezes mais plutônio que Hanford. O potencial de letalidade desses lugares é algo para ser equacionado ainda, não existem parâmetros, nem mesmo em Hiroshima e Nagasaki, para avaliar se algum dia essas áreas poderão ser ocupadas por seres humanos.

Numa inversão de uso aparentemente louvável, de uma força que havia sido criada para destruição, URSS, EUA e Grã-Bretanha, logo depois da guerra iniciaram construções de usinas nucleares para transformar energia térmica oriunda da fissão de átomos, em energia elétrica. Como veremos, grande pisada na bola. Hoje existem no mundo 437 usinas nucleares em operação, mas nenhuma delas é viável comercialmente, todas só sobrevivem com pesados subsídios. Um kilowatt-hora de energia nuclear custa em média 16 centavos de dólar, contra 7 centavos da energia de combustível fóssil e menos de 5 centavos da energia hidroelétrica. E não existe qualquer meio conhecido de se livrar das varetas de combustível nuclear depois de usadas, elas continuam “quentes” por milhares de anos.

Até quando uma usina, como Chernobil, “não dá certo” o custo de fechamento é altíssimo. Quando houve acidente naquela usina em 1986, a liberação de vapor radioativo foi centenas de vezes maior que a radiação das bombas jogadas sobre o Japão. Para “limpar” a área e a própria usina foram empregados 750 mil militares e operários comuns, provavelmente um terço dos quais recebeu doses tais de radiação que, ou desenvolveram câncer, correm o risco de desenvolvê-lo ou já morreram pela exposição à radioatividade. A quantidade exata de mortos é desconhecida e talvez jamais seja revelada, porque a Rússia esconde dados da opinião pública, mas sabe-se que os números são alarmantes. Além disso, houve grave contaminação de alimentos, água e ar em vários países da Europa. Até hoje, amoras vendidas no mercado de Moscou apresentam níveis de radiação muito elevados. Calcula-se que os efeitos da radiação de Chernobil serão letais por 24 mil anos ainda.

Não precisa ser físico nuclear ou algum cientista altamente qualificado para perceber que o Homo sapiens está, como um cego sem cachorro, pisando num terreno minado do qual ele não sabe onde começa nem onde termina. O homem enveredou por essa trilha apostando todas suas fichas em algo que ele “achava” que ia dar certo, errou e perdeu-se num labirinto mítico. O achismo não é uma ciência exata, o resultado dessa aventura poderá ser a contaminação de extensas áreas do Planeta as quais se tornarão inabitáveis por milhares de anos, e que deixarão uma humanidade que teima em se expandir em progressão geométrica, com espaço cada vez menor de onde tirar seu sustento; rios e águas subterrâneas impraticáveis e radiação cancerígena ao alcance de todos. Será que é esse o mundo que desejamos deixar para nossos netos, porque um dia “achamos” que havíamos domado o átomo?

O Homo sapiens e a natureza estão, mais uma vez, em rota de colisão. No caso da energia nuclear a opção humana inflige graves e irreversíveis danos ao meio ambiente. Se persistirmos nesse caminho estamos colocando em risco o futuro da humanidade. Mudanças de rumo são fundamentais para que possamos ver uma possibilidade de sobrevivência pela frente. Tomara que esse acidente de Fukushima sirva para que as autoridades se motivem a encontrar meios alternativos de produzir energia consumível sem recorrer à fissão de átomos. Não temos o direito de comprometer o futuro do Planeta porque achamos que a energia nuclear pode gerar energia para construir uma civilização cujo conceito é questionável, ou seja, porque achamos que civilização é igual a consumismo desenfreado. JAIR, Floripa, 25/03/11.

Resta aditar votos de uma muito boa quarta-feira a cada uma e cada um. Também sonhar com um novo encontro amanhã.

4 comentários:

  1. Caro Prof. Chassot,

    esta blogada de hoje me fez refletir sobre a expressão "maldição".

    Acostumado à teologia, o termo carrega sempre um sentido de "reprovação divina, com os castigos dela decorrentes" (Houaiss).

    Contudo, a maneira como te referiste ao episódio do Japão e, já te conhecendo de nossas aulas, percebi que teu comentário é no sentido do "...que tem conseqüências funestas; desgraça, calamidade" (Houaiss).

    Pois é, o episódio do acidente com a usina nuclear está ligado aos eventos naturais (quem não são maldição divina), mas as consequências de vazamento de materiais radiotivos se relacionam à falta de atenção à segurança do local.

    Nesse sentido, a "maldição" é a omissão de quem deveria cuidar do "divino", o humano que habita cada pessoa daquela região.

    Um abraço,

    Garin

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  2. Chassot,
    Entendo que publicação de texto de minha autoria em teu prestigiado blog é um "upgrade" de qualidade e público leitor. Obrigado!

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  3. Meu querido Mestre (na acepção hebraica de Rabi) Garin,
    somente um teólogo poderia fazer tão profunda exegese da palavra ‘maldição’ pinçada de uma blogada como faz meu preclaro colega de cátedra.
    Hoje, nós humanos fazemos em relação ao Planeta aquilo que diz o apóstolo Tiago (3, 10) “...de uma só boca procede benção e maldição.”
    O terceiro movimento de minha fala na noite de segunda-feira, na aula Magna do Colegiado Ampliado das Engenharias, Tecnologia e Artes do Centro Universitário Metodista do IPA, no auditório do Campus do DC Shopping, onde tentei responder: O que é Ciência afinal? tinha como mote ‘Para formar jardineiros para cuidar do Planeta’.
    Pretensiosamente oferecia caminhos de bênçãos ao Planeta. Os que propugnam energia nuclear como alternativa, lançam a maldição. O uso da energia nuclear é um bom exemplo da Ciência que se parece com o Golem. Não sem razão que no hebraico moderno golem significa "tolo", "imbecil", ou "estúpido".
    Este bate-papo blogueiro aumenta a expectativa de nossa próxima aula.
    Com admiração
    attico chassot

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  4. Muito estimado Jair,
    primeiro, uma vez mais obrigado por tua manifesta parceria intelectual autorizando que traga a cerca de meu 120 leitores diários, de vez em vez, teus textos que muito me agradam.
    Manter já há quase cinco anos um blogue diário só é possível quando me valho de textos de outros intelectuais como tu.
    O texto de hoje deve se constituir em uma preciosidade para nossos leitores.
    Com gratidão
    attico chassot

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