sábado, 19 de março de 2011

19.- A quem interessar possa

Campinas * Ano 5 # 1687

Esta postagem ocorre desde a Casa do Professor Visitante da Unicamp - www.funcamp.unicamp.br/cpv/ – Cheguei aqui às 17h de ontem e às 5h30min, parto para o aeroporto de Viracopos, para voltar a Porto Alegre.

A sexta-feira, como anunciara ontem foi plena. Pela manhã, por 4 horas seminário de História e Filosofia da Ciência. Ter a parceria do Prof. Garin traz novas dimensões ao seminário. Ontem as discussões acerca do racionalismo da razão foram iluminadas por Paul Tilich. Almocei com meu filho Bernardo, que queridamente, me levou ao aeroporto. O voo Porto Alegre/Campinas foi direto e pontual: 1h20min, onde consegui dormir recuperando a manhã. O aeroporto de Viracopos está a 13 km de Campinas e a 36 km da Unicamp. Fui atenciosamente conduzido pelo seu Adélcio, que há 27 anos trabalha na Unicamp.

À noite por mais de 2 horas falei para um auditório muito atento de quase 100 pessoas, na primeira aula inaugural em 11 anos so Curso de Licenciatura Integrada em Química e Física, da UNICAMP. No prelúdio trouxe fragmentos de minha história de professor e depois em três movimentos mostrei uma leitura ao avesso: das disciplinas a indisciplina. Talvez, a melhor avaliação, foi a que eu ouvi de uma jovem caloura, ao autografar para ela um exemplar do A Ciência é masculina? Estava pensando em trocar para o bacharelado em Química, depois desta palestra sei que quero ser professora.

Os alunos do Diretório Acadêmico me presentearam com uma caneca do curso. Após as atividades participei com os colegas Derval, Maria Inês e Maurício de uma janta, que com muito boa conversa se espraiou até as beiradas deste sábado..

É sabido pelos meus leitores de há mais tempo – e uma vez mais repito aqui pelo gostoso incremento de leitores que este blogue vem tendo neste março, que aos sábados – já há mais de dois anos – é momento de dica de leituras. Assim, mesmo que de maneira exótica, cumpro a pauta.

Trago, pela primeira vez, comentário sobre um livro de poesias. O exotismo não para neste ineditismo. Ocorre que sou um muito mau leitor de poesia. Não sei ler poesia. Não tenho explicação para o meu quase analfabetismo poético. Talvez uma desforra às musas que me negaram o dom de cultuá-las. Mas. adiro ao senso comum que recomenda não dizer ‘desta água não bebo’. Hoje, vou poetar – oh pretensão descabida – acerca do livro que é titulo da manchete: A quem interessar possa.

VEBER, Henrique Martins et alii. A quem interessar possa. Ilustração Daiane de Ramos Irschlinger. Canoas: Educação. Do Autor, 2010, 64 p. il ISBN 978-85-911424-0-8

Os autores do livro são quatro jovens do bairro Guajuviras de Canoas, provavelmente a área da região metropolitana de Porto Alegre na qual seus habitantes mais se envolvem em ações concretas em busca da paz. E talvez tenham sobradas razões para fazê-lo. Cristiano Kretzmann, Daiane de Ramos Irschlinger, Henrique Veber e André Luís de Paula Lima – este falecido em 2008, com 23 anos – amealharam 42 poemas e fizeram A quem interessar possa.

Agora a explicação fulcral para este livro estar aqui: o poeta Henrique Veber, 23 anos (que está na foto de Claiton Dornelles com o livro, junto com Daiane, também autora e ilustradora da obra), é meu aluno no curso de Filosofia no Centro Universitário Metodista do IPA. No ano passado participou comigo na disciplina de estágio supervisionado e este ano, nas noites de terças-feiras é um questionador muito perspicaz em Conhecimento, Linguagem e Ação Comunicativa.

O poeta-filósofo descreve seus textos com uma linguagem mais existencial. "Além de expressar meus sentimentos busco falar da condição do ser humano e sua relação com o outro" assinala num refletir raciocinado, como soem serem os filósofos. Em outro momento o Henrique disse "Sou poeta do Realismo Romântico. Escrevo poesia para escarnar a angústia, para expressar o que penso e sinto, para através da linguagem tentar compreender a mim e os meus semelhantes. Eu escrevo poesias para me manter vivo. Em determinados momentos escrever me ajudou a superar traumas e algumas crises."

Mas há algo mais que me encantou e que me fez desejoso de destacar: A publicação do livro contou com recursos do Microcrédito Cultural, do município de Canoas. O Programa Microcrédito Cultural é um instrumento de democratização dos acessos públicos à cultura, que por meio de seleção pública (edital), concede incentivos não reembolsáveis para artístico-culturais. O objetivo principal é fomentar a economia da cultura local e dar incentivo aos artistas canoenses, principalmente os iniciantes. Temos que nos exultar com a iniciativa da Prefeitura de Canoas; diferente daquela em que Maria Bethania conseguiu R$ 1,3 milhões para seu blogue.

Aqui, como contrapartida ao incentivo público os autores estão disponíveis para a realização de bate-papos com estudantes do Ensino Médio. Os autores disponibilizaram 100 exemplares para escolas públicas da cidade. As instituições de ensino interessadas em agendar oficinas de leitura podem ligar para os escritores e marcar: os telefones são (51) 9170-4265 e 9262-4775.

Devo dizer que consegui ler algumas poesias, Gostei. Cheguei a imaginar que estou aprendendo. Que sábado – que para mim começa com o retorno à Morada dos Afagos – seja muito agradável a todos.

9 comentários:

  1. Bom dia Professor!
    Gosto de estar aqui no teu blog aos sábados para apreciar tuas dicas!
    ^^!
    Adoro poesia! Já me aventurei a escrever algumas, cheguei a separar material que dá para formar dois livros [dá para acreditar?!rssss!], mas nunca consegui publicá-los.
    Adorei a dica de hoje!Vou procurar por aqui na cidade[ou na net!].
    Vou aproveitar este momento de dicas e perguntar ao senhor se conhece o "Os homens do fim do mundo", de Peter D. Smith?! Estou ensaiando comprá-lo há um tempinho, me parece bom, mas caso o senhor saiba algo dele para falar...
    Um mol de abraços, mestre!
    E um doce e abençoado final de semana ao senhor e aos seus!

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  2. Fabiana Burgos Takahashi Garcia19 de março de 2011 às 09:35

    Prof. Chassot! É com enorme satisfação que lhe parabenizo! Assisti ontem sua palestra, e, preciso dizer o quanto saí mais "alfabetizada"! Para mim, ler os seus textos sempre foram um enorme prazer, mas vê-lo falar foi realmente especial, pela sua demonstração de amor à educação, seu enorme conhecimento e sua enorme simpatia. Agradeço suas contribuições a esta "nova escola" que a cada dia é diferente. Sou professora-formadora e mestranda do Instituto de Geociências da UNICAMP, e se antes me declarava apaixonada pelo que faço, hoje, após suas belíssimas palavras, me declaro amante da educação, e também da ciência "tão masculina". Devo dizer ainda que sou daquelas que pouco segue receitas, mas devo ressaltar de que da "melhor receita para o educador" serei sempre adepta, afinal também concordo que "ensinar menos", escutar e aprender mais é o que devemos fazer.
    Saudações,Fabiana Burgos T Garcia

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  3. Muito querida Fabiana,
    se ter estado na Unicamp na noite de ontem tivesse tido paga material, qualquer que esta fosse, seria superada por tuas palavra. Assim, antes de mais nada obrigado pela maravilhosa gratificação que me concedes.
    Fico feliz pela parceria intelectual no fazermos alfabetização científica.
    O ensino de Ciências da Terra tem sido tão descuidado na Educação Básica. Lembro um texto que uma vez escrevi “Geologia da Libertação’.
    Feliz com teu comentário,
    um afago do

    attico chassot

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  4. Muito querida Thaiza,
    não te imaginava poeta. As musas não me são próximas. Já tentei... diferente de ti, não teria material para uma blogada.
    Vou enviar-te um livro do Henrique.
    Quanto a “Os homens do fim do mundo" não conhecia. Livros catastrofistas não me atraem. Este todavia, pelo que li, tem muito haver com as ameaças nucleares que vem do Japão. Agora é um calhamaço. Hoje não temos mais tempo para tal.
    Obrigado por seres minha leitora.
    attico chassot

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  5. Pois é!Filha de mãe que estudou Letras e depois Direito, aprendi a apreciar a literatura desde cedo, e vez por outra aventuro-me na escrita.hehehe!!
    Não imaginas a felicidade que fiquei pelo exemplar do livro!!Ganhei meu final de semana!
    =]
    Um foooorte abraço!!

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  6. Muito querida Thaiza.
    Que bom que meu afago alegrou teu fim de semana.
    Tu já imaginaste quando puder autografar para ti o Memórias de um professor: hologramas desde um trem misto.
    Um afago do
    attico chassot

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  7. "Nossasenhoradabadia"!!!
    =D
    Já estou explodindo de felicidade desde agora!
    hehehe!!!

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  8. Caro professor Áttico fiquei deveras contente de teres gostado das poesias que lestes no livro, e fico muito grato que tenhas indicado ele aos leitores de seu blog, terça-feira nos falamos na aula. Abraços!!!!!!

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  9. Meu caro Henrique,
    fico contente que tenhas apreciado a blogada sabática.
    Com admiração e até a aula de amanhã
    attico chassot

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