segunda-feira, 7 de março de 2011

07. – ¿Que beleza é fundamental?

Porto Alegre * Ano 5 # 1677

Estamos em uma segunda-feira feriado. Primeiro algo de ontem. Parte do domingo carnavalesco foi gasta na elaboração do prelúdio do livro que celebra meu 50tenário de professor. Por uma linda tessitura de fadas, devo entregar o livro pronto, na editora do Centro Universitário Metodista do IPA, para cumprir um edital, no dia 14, data imediata à celebração dos 50 anos de professor. Neste prelúdio discuto o significado de escrever memórias, baseado em teorizações de Walter Benjamin.

Como, por gostosa parceria tive leitores que sugeriram e que vetaram nomes. Trago aqui seis sugestões que estão pintando como prováveis. A ordem é o de surgimento dos nomes, sem manifestar (ainda) preferências. Acolho outras sugestões ou votação ou veto nos nomes:

1) Trem misto” lembrando aquele trem de carga que teve um vagão que levava uma família em seu bojo, tema de um dos capítulos.

2) Armarinhos, secos & molhados” em uma exótica adição de algo que sempre me encantou: essas vendas interioranas.

3) Memórias de um mestre-escola” lembrando o que mais fiz enquanto alfabetizador na linguagem das Ciências.

4) Memórias de um mestre-bloguista” na transição do dito ‘velho’ do nome anterior para algo ‘pós-moderno’.

5) “Memórias de um professor: das heterotopias às utopias” baseado em teorizações de Michel Foucault, da qual trago algo no prelúdio.

6) Memórias de um professor: miradas holográficas desde um trem misto” elaborando e completando um pouco a sugestão um.

Nesta segunda-feira, como ontem trago um texto que foi publicado no sempre apreciado no blogue da "Revista Espaço Acadêmico" em 22 de fevereiro. A autora é Rosangela Angelin é militante feminista e Doutora em Direito na Universidade de Osnabrück – Alemanha.

Com votos de uma excelente segunda-feira, que legalmente, como também amanhã, não feriado, como entende com acerto com acerto (e desagrado) o prefeito de Panambi, que deseja no trabalho hoje e amanhã o funcionalismo municipal, ofereço: Quando o “belo feminino” se torna um pesadelo e uma obrigação.

A Beleza é, em sua própria essência, algo muito relativo. Prova disto, é que os padrões de beleza modificaram-se no decorrer da história da humanidade. Dentro deste contexto, a mulher continua sendo o alvo mais visado da “estética” corporal dominante em nossa sociedade. A maior propagação dos “modelos de beleza” ocorre através dos grandes meios de comunicação social, os quais reforçam os ditames do consumismo capitalista, construindo um padrão de “beleza” dado como obrigatório.

A corrida desenfreada para as academias de ginástica e para a medicina estética, o uso de produtos dietéticos para emagrecer, a anorexia e a bulimia, revelam uma espécie de “ditadura da beleza” à qual a maioria das mulheres se condiciona em busca de um corpo “perfeito”. Antes considerada um atributo da natureza, a beleza passou a ser encarada como uma questão de “conquista” e, nesta lógica, é necessário investir muito dinheiro e tempo a fim de se alcançar a aprovação da sociedade. A beleza, ou melhor, a feiúra, acabou gerando um lucrativo mercado no mundo capitalista. Com muita propriedade, a escritora americana Noemi Volf afirma, em seu livro O mito da beleza, que a beleza é um sistema monetário assim como o ouro. É o último e o melhor sistema de crenças que mantém a dominação masculina intacta. Assim, o capitalismo usa as mulheres ‘bonitas’ como isca para a venda dos seus produtos, lucrando com a discriminação das consideradas ‘feias’ que buscam o maior número de produtos possíveis para compensarem sua ‘feiúra’.”

A figura da mulher é exposta e explorada como um “objeto”. Os grandes meios de comunicação social vêm desempenhando um papel decisivo, através de revistas, jornais, comerciais, novelas e programas em geral, contribuindo, desta maneira, com a afirmação de um padrão de “beleza”. Um exemplo a ser considerado, são os programas de televisão, principalmente os humorísticos, onde as mulheres são apresentadas, em sua grande maioria, como figuras bonitas e atraentes, porém, imbecis, desprovidas de idéias e vontades. Constantemente, em contraste a esta figura, encontra-se uma mulher feia. Esta, por sua vez é apresentada como uma pessoa chata e desinteressante, embora, algumas vezes dotada de certa inteligência. Estes estereótipos reforçam a idéia de que são os “dotes físicos” de uma mulher que realmente importam.

A discriminação do corpo da mulher também ocorre, de uma forma específica, através da maioria dos concursos de beleza, onde somente as mulheres jovens e que se enquadram nos padrões estéticos impostos, podem participar. Com este intuito, estas mulheres são avaliadas por meros critérios físicos. Analogicamente pode-se comparar os concursos de beleza com as mostras de gado, realizadas em muitos estados do Brasil, onde os animais desfilam na frente dos jurados e juradas que adotam critérios para a avaliação física destes, como por exemplo, o tamanho e a textura dos pernis, das paletas, a postura e desenvoltura do animal e, no caso das vacas, seus úberes.

Lamentavelmente, este exemplo evidencia a forte discriminação da mulher como ser humano, ditada pelo mundo masculino e, muitas vezes, aceita pelas próprias mulheres. A ideologia de “beleza física” acaba gerando uma inversão de valores, nos quais a busca por um corpo perfeito, é considerada um sinônimo de aceitação social, geralmente confundida com a felicidade.

Embora as mulheres, ao longo de muitos anos, com muita luta e persistência, tenham conquistado direitos e se afirmado em vários espaços da sociedade, lamentavelmente, ainda é “normal” continuarmos sendo vistas e consideradas pelos contornos físicos de nossos corpos, o que evidencia um empobrecimento da capacidade de olhar o ser humano. Como afirma Maria Rita Kehl, “a maior beleza está no corpo livre, desinibido em seu jeito de ser, gracioso porque todo ser vivo é gracioso quando não vive oprimido e com medo. É a livre expressão de nossos humores, desejos e odores; é o fim da culpa e do medo que sentimos pela nossa sensualidade natural; é a conquista do direito e da coragem a uma vida afetiva mais satisfatória; é a liberdade, a ternura e a autoconfiança que nos tornarão belas. É essa a beleza fundamental.”

9 comentários:

  1. Caro Chassot,

    Fiquei um pouco pensativo sobre os títulos sugeridos. No começo, tinha ido pela plausibilidade e estava com o "Memórias de um mestre-escola", mas depois refleti um pouco e acabei mudando de opinião. O "Amarinho, secos & molhados" pareceu-me mais condizente com o propósito do livro, que será um tom mais intimista, feito quem conversa numa roda de bar ou de um armarinho (por aqui chamaríamos bodega).

    Grande abraço.

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  2. e as escolas discursam que "todos somos bonitos a nossa maneira", e elegem os gatos e gatas do ano. Que descerviço!

    este assunto sempre traz a tona o meu ranço com algumas ditas feministas, que idolatram as grandes expoentes mas não se admiram mutuamente.

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  3. Muito querido Paulo Marcelo,
    bodega também é uma boa sugestão. Seria como desacralizar a Academia.
    Desejo-te saúde para o carnaval de tua Ó...linda,
    com agradecimentos
    attico chassot

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  4. Olá Attico,
    Gomes Megs comentou seu status.
    Megs escreveu: "hummm, acho que o "amarinho" e o "mestre-escola" são nomes instigadores... Aquele tipo que revela sem contar tudo. Meu voto ficou empatado. Bjus"

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  5. Gomes Megs,
    gosto muito destes dois nomes. Traduzem um tom intimista que o livro tem.
    Obrigado pela parceria,
    attico chassot

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  6. Rony Química escreveu:
    "Olá novamente! Morei no interior por 15 anos... e o título" Armarinho, Secos & Molhados" me leva a resgatar um pouco de minha história. Adorava entrar na venda do seu Seno e ficar admirando as coisas que tinham lá. Um mundo mágico de coisas feitas pela comunidade e outras que o homem da combi entregava, um laboratório infinito..."

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  7. Meu caro Rony,
    a sugerência armarinhos está bem cotada e veio acompanhado da sugestão poética de que o nome do livro poderia ser ‘Conversas em uma bodega’. Tu como missioneiro conhecestes bodegas. Fiquei seduzido. Fui ao dicionário: ‘Comida grosseira e malfeita’. Cevei tanto as escritas que estão adiante. Perdi o encanto com a sugestão.
    Obrigado pela parceria intelectual,
    com admiração

    attico chassot

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  8. SOBRE BELEZA
    Pois é, as definições de beleza talvez sejam tão numerosas quanto a quantidade de pessoas que tentam defini-la, afinal: “a beleza está nos olhos de quem a vê” ou “quem ama o feio, bonito lhe parece”, não é mesmo? Mas, independente da retórica ou das áreas de abordagem do tema no campo filosófico, artístico, literário, antropológico e científico, descobriu-se que existe consenso, ainda que de maneira não consciente, quando se trata de beleza visual. Beleza é simetria.
    Cientistas construíram experimentos para “medir” a quantidade de beleza de um rosto a partir de observadores absolutamente isentos de influências culturais como a mídia e outros meios, crianças de colo. Sim, crianças que, tecnicamente, não têm ainda capacidade de ser influenciadas pelo que os mais velhos entendem o que é e o que não é belo. Bebês de colo foram colocados frente a duas fotos: 1 - de uma mulher considerada bonita, uma atriz ou modelo famosa; 2 – uma mulher “normal” que pelos padrões atuais não seria considerada bonita. Durante algumas horas mediu-se a quantidade de tempo que as crianças olhavam para atriz e para a outra foto. A experiência contou com um número enorme de crianças, uma de cada vez para não sofrerem influência das outras; várias fotos, tanto de atrizes e modelos famosas como de mulheres comuns; e ambiente isolado de sons ou imagens que pudessem atrair a atenção dos bebês. O resultado mostrou que os bebês olhavam mais para o rosto “bonito” do que para o comum, na ordem de oitenta por cento para os primeiros contra vinte para os outros. O mais interessante ainda é que entre os rostos “comuns”, às vezes aparecia o rosto da própria mãe da criança e, ainda assim, o rosto bonito era mais notado.
    Bem, até aqui o que se deduziu é que gente sem influências culturais evidentes opta por um rosto “bonito” em contrapartida a um rosto “normal”, mas qual a diferença entre um e outro?
    Antes de responder quero falar sobre o Cânone de Vitruvio. Marco Vitruvio Polião, foi um arquiteto romano que mediu o corpo humano e estabeleceu as proporções “ideais” do que seria um corpo perfeito, segundo o padrão clássico de beleza. As medidas estabelecidas por ele são chamadas Cânone de Vitruvio. Atualmente quando se estuda desenho, principalmente o nu artístico, têm-se que levar em consideração o Cânone com suas proporções matemáticas quase exatas para depois divergir, ou seja, o artista conhecendo a ortodoxia pode criar em cima, algo assim como o escritor que conhece o vernáculo e então cria seus próprios neologismos e construções gramaticais, Guimarães Rosa e James Joyce eram verdadeiros mestres nessa arte. E arte é isso.
    Pois bem, o que o Cânone nos ensina é que, além das proporções, corpo bonito tem simetria, ou seja, um lado é, aproximadamente, espelho do outro. Um rosto, quanto mais simétrico mais bonito. E daí? Daí que os cientistas descobriram, medindo, que os rostos mais observados pelos bebês eram mais simétricos que os menos observados; que o rosto da Michelle Pfeiffer, por exemplo, é mais simétrico do que o rosto daquela simpática senhora que serve cafezinho na repartição, mas não é especialmente atraente. Assim, na arte como na vida comum, beleza e simetria estão fortemente ligados. Mas, e na natureza?
    É claro que a civilização, com suas interferências estéticas e econômicas, veio embolar o meio de campo do Homo sapiens, as referências culturais são a regra de escolha na sociedade humana. Mulheres que fazem upgrade em clínicas de cirurgia plástica, spas de emagrecimento e salões de beleza acabam obnubilando a tendência natural atávica do Homo em escolher as mais simétricas = bonitas = saudáveis, e estes acabam escolhendo as mais “produzidas” embora nem sempre mais saudáveis. No lado oposto ocorre fenômeno igual, as fêmeas, contrariando suas mensagens genéticas, escolhem os homens pelo volume da conta bancária ao invés da simetria e beleza, embora esta, se aliada ao dinheiro, seja a preferência de onze entre dez mulheres. Só que esse assunto antropológico é tão complexo, extenso e interessante que fica para outro texto.

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  9. Muito estimado Jair,
    preliminarmente um destaque: só quem tem o perfil que eu li na tua referência, pode escrever um texto como brindas aos leitores, mesmo que a blogada que o catalisou está distante.
    Quanto ao significativo experimento que destacas (que eu desconhecia) há uma evidência: os bebes têm bom gosto.
    Concordo contigo que os padrões de beleza variam, mas sabemos o que é belo.
    Hoje, dia imediato da morte de uma mulher linda: Liz Taylor, recordamos um dos ícones de beleza.
    Obrigado por prestigiares esta blogue e cumprimentos desde Campo Grande, onde cheguei há não muito, contando com as benesses dos deuses que cuidam dos voos que tu muito bem conheces, por tua profissão.
    Com admiração
    attico chassot

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