sábado, 18 de dezembro de 2010

18.- "O Museu do Peixe Morto"

Porto Alegre Ano 5 # 1598

Já era sábado quando encerrávamos nossa celebração antecipada do “Natal na vovó Gelsa e no vovô Attico” quando a Gelsa e eu, recebemos nosso clã. Foi uma memorável festa.

A celebração aconteceu junto ao pinheiro originado de um pinhão posto a brotação em 1999, quando da inauguração da Morada dos Afagos, celebrando o nascimento da primeira neta: a Maria Antônia. O presépio é artesanato de indígenas mexicanos, adquirido em 2007, quando estivemos em um congresso em Queretaro.

Éramos 18 pessoas com idades dentro de um amplo espectro: do Felipe – 0,5 ano – à Liba 89,5 anos –. Esta fez uma tocante fala ao presentear seu amigo secreto, evocando a sensibilidade do Carlos, no Natal passado, que então realizou um sonho da menina imigrante que ganhava pela primeira vez uma boneca. Este ano o amigo secreto foi mais uma vez moderado pela Júlia com o sítio www.amigosecreto.com.br Eu presentei a Laura, com uma bijuteria, assessorado com oportunidade pela Júlia. Minha amiga secreta foi a Gelsa, que encontrou a sugestão que colocara para meu desejo de presente: “Conversas que tive comigo” do Nelson Mandela (Rocco, 2010). O livro é dedicado à bisneta, que morreu de maneira trágica em 13 de junho deste ano.

Duas cenas da noite de ontem.


Era natural que depois de terminada festa, parecesse que houvesse passado um tsunami em algumas regiões da Morada dos Afagos, desacostumado com folguedos (e traquinagens) de netos. Mas restaram muito mais marcas de alegrias que peixes superalimentados em minutos com o correspondente a quase um ano. Já se faz sonhos para uma nova celebração.

Sábado, honro a tradição sabática de mais de dois anos de trazer uma dica de leitura. A de hoje é saborosa: "O museu do peixe morto". O livro traz oito histórias de Charles D'Ambrosio, bom contista estadunidense de quem a quase desconhecida editora Grua Livros já havia publicado "A Ponta".

Delicadeza equilibra cardápio pesado das narrativas de Charles D'Ambrosio. Um bom conjunto de contos, que li em minhas viagens mais recebtes e dele faço esta sugestão sabatina.

D’AMBROSIO, Charles. O museu do peixe morto. The dead fish museum. Tradução de Doris Fleury. São Paulo: Grua Livros, 2010, 255 p. 208mmX138mm ISBN 978-85-61578-12-1

O escritor Charles D'Ambrosio nasceu em 1958, em Seattle, e hoje vive em Portland, Oregon. Graduou-se no Programa Internacional de Escritores da Universidade de Iowa, onde foi, mais tarde, um dos professores visitantes. "O

museu do peixe morto" foi finalista do PEN Faulkner Award, ganhou o prêmio Whiting Writer's Award e também o de Melhor Livro de Ficção concedido pelo estado de Washington. D'Ambrosio recebeu, ainda, bolsas de criação literária de prestigiadas fundações estadunidenses, como a Fundação Lannan.Sirvo-me de um texto de Adriano Schwartz, professor de literatura da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, publicado há meses na Folha de S. Paulo, que com muito propriedade faz apropriada análise de “O Museu do Peixe Morto”:

As situações desenvolvidas pelos textos não são fáceis, como anuncia epígrafe de Camus: "O homem desesperado não tem terra natal."
Em "Drummond & Filho", o dono de uma surpreendentemente bem-sucedida loja de máquinas de escrever -essas relíquias de um passado tão próximo- precisa lidar com o filho adulto e os transtornos causados por uma doença mental.
Em "O Roteirista", o cenário é um sanatório, no qual surge uma estranha relação entre o narrador-problemático e outra paciente.
Já em "Lá no Norte", o leitor segue com crescente angústia a visita do protagonista ao chalé da família de sua mulher, que fora vítima de abuso sexual antes de conhecê-lo, não sentia prazer e o traía repetidamente.
Como se nota, não é um catálogo de temas leves. A força de quase todas as narrativas de D'Ambrosio, contudo, decorre do contraste entre esse universo pesado e a delicadeza com que as histórias são conduzidas, delicadeza que se materializa, para ficar nos contos citados, no amor compreensivo do pai, na autoironia conformada do roteirista apaixonado pela piromaníaca ou na sofrida complacência do marido traído.
Esse tom menor -que se impõe pela redução, pelo tratamento "não sensacionalista"- fica evidente no conto que dá nome ao livro.
A certa altura uma personagem diz: "Estou começando a sentir certa familiaridade perto de você. Não é que me sinta confortável. É como se tudo isso fosse de uma outra vida, como se a gente já tivesse estado aqui antes."
Não há, porém, espaço para aparições grandiloquentes, daí ela imediatamente completar: "Não em outra época da história ou coisa parecida. Não fomos imperadores romanos juntos. Foi numa vida passada, mas há duas semanas, por aí."
Se a premissa indicada pela epígrafe -de que o homem desesperado não tem terra natal-, for válida, essa saída contida presente nos contos não deixa de ser, pelo menos, uma solução digna para lidar com esse – de todos nós – desenraizamento fundamental.

Com votos de um muito bom sábado. Que ele não seja marcado apenas pela azáfama natalina. Se sobrar tempo para leitura, há uma boa dica acima.

2 comentários:

  1. Passei pra desejar um natal repleto de paz, saúde e confraternizações, não esquecendo o aniversariante Jesus. E um ano vindouro de muitas realizações e sorte.

    Com carinho
    Isa

    http://sabedorias-isa.blogspot.com

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  2. Muito querida Isa,
    muito obrigado por tua visita no meu blogue. Esta me ensejou retribuir com a visitação de teu blogue, que me encantou.
    Sou grato pelos teus votos tão fraternos.
    Retribuo-os com amizade
    attico chassot

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