quarta-feira, 6 de outubro de 2010

06.- Internet e o TDAH

Porto Alegre Ano 5 # 1525

Madrugada primaveril. Temperatura de 16ºC. Neblina em parte da cidade diminui o horizonte.

A blogada de ontem foi a suplementação da edição de 28SET10 onde o interrogante capital era A internet estaria nos tornando burros? Reportei então que Nicholas Carr no seu livro "The Shallows -What the Internet is Doing to Our Brains" (que poderia ser traduzido como "No Raso - O que a Internet Está Fazendo com os Nossos Cérebros") discute a possibilidade da resposta a pergunta que propus ser sim. A tese de Carr é que a facilidade para achar coisas novas na rede e se distrair com elas estaria nos tornando burros.

O livro já vendeu mais de 40 mil cópias nos Estados Unidos. Está sendo traduzido em 15 línguas. Ele será lançado no Brasil pela Agir e já com antecipação a sua publicação tem trazido discussões significativas.

Hoje quero retomar o assunto. Antes um alerta. Não desejo parecer um novo neo-Ned Ludd. A minha referência é a Ned Ludd foi um dos líderes do Movimento Ludista, no final do Século 18. Não se sabe exatamente o que Ned Ludd fez, mas uma história diz que ele destruiu uma máquina de tricotar meias, na fábrica onde trabalhava, por ter sido repreendido pelo patrão. O fato é que Ned tornou-se um herói popular na região rural, e pseudônimos "King Ludd" e "General Michel" foram adotados por alguns rebeldes anti-industriais.

Seus seguidores, os Luddistas, começaram uma rebelião contra as máquinas que substituíam pessoas nas tecelagens inglesas. Os revoltosos destruíam teares a vapor e pregavam contra todo o tipo de mecanização e chegaram a assustar, tanto que foi criada uma lei que tornava a destruição de máquinas crime capital na Inglaterra. Assim, é evidentemente que não sou contra o computador ou a internet. Repasso considerações que me fazem pensar.

Hoje, trago respostas às três ultimas perguntas que Carr respondeu a Marcelo Leite, Editor de Ciência da Folha de S. Paulo. Elas concluem a entrevista iniciada ontem.

Folha de S. Paulo: O senhor consideraria a internet responsável pela epidemia de casos de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)?
Nicholas Carr: Não tenho certeza de que a ciência sobre isso seja definitiva, ainda. Há indicações de que as tecnologias que as crianças usam, de videogames a Facebook, possam contribuir para TDAH. É algo que precisa ser mais estudado. Para os pais preocupados com a capacidade de seus filhos de manter a atenção, poderia ser apropriado restringir as tecnologias.

A TV e o rock também já foram acusados no passado de ameaçar os intelectos jovens, mas não há carência de novos escritores e artistas.
Sempre que uma tecnologia nova e popular aparece, há pessoas que adotam uma visão exageradamente otimista, de uma utopia social, e pessoas que adotam uma visão exageradamente negativa, de que ela vai destruir a civilização. No livro tento não adotar uma visão unilateral da tecnologia, porque acho que ela tem muitas coisas boas, do acesso mais fácil à informação até novas ferramentas para autoexpressão.
Meu temor é que, na medida em que empurramos celulares, smartphones e computadores para as crianças em idades cada vez mais precoces, elas não venham a desenvolver as habilidades mentais mais contemplativas e atentas. Isso seria uma grande perda para a cultura, pois a expressão artística requer reflexão mais calma, tranquila, introspectiva.

É concebível que a internet possa mover-se numa direção que combine os poderes da informação visual com os do texto para promover pensamentos em profundidade?
Tudo é possível, mas cada tecnologia que usamos para fins intelectuais tem certos efeitos e reflete um conjunto particular de premissas sobre como devemos pensar. A internet, sendo um sistema multimídia baseado em mensagens e interrupções, tem uma ética intelectual que valoriza certos tipos de pensamento utilitários, voltados para a solução de problemas, que encoraja as multitarefas e a rápida transmissão ou recepção de migalhas de informação. A tecnologia pode mudar rapidamente, mas não vejo razão para pensar que vá [noutra direção].

Devo confessar que a leitura de Carr me impõe novos fazeres. Ontem consegui trabalhar por extensos espaços de tempo sem ter o correio eletrônico e o Skipe acessado. Não consigo desligar-me totalmente da internet, pois dicionários e Wikipédia não são dispensáveis para escrever. Também pausas maiores longe do computador passam ser incluídos. Ontem por um bom tem colhi uma cesta (melhor, uma cestinha) de lindas e saborosas amorosas da produção da Morada dos Afagos. São tempos de aprendizagens. E, nestes, se adicionam votos de uma muito boa quarta-feira.

2 comentários:

  1. Apenas dois relatos "geracionais":

    1- Meu primo de 17 anos carrega seu notebook para todo lugar, e na ausênsia de internet, passa horas jogando. Qd é instigado a falar, tem dificuldade em expressar-se, inclusive demostrações de sentimento.

    2- foi inaugurado um telecentro municpal, e a maioria dos usuários são do Grupo da Melhor Idade. Minha avó e suas amigas, após aulas em que desenharam no paint e digitaram seus nomes, sairam de lá com um compreensivel sentimento de imbecilidade.

    Curioso, mestre, que sr tendo nascido na geração "não conectada" tenha dificuldades deste tipo. Humm,amoras, pois hoje de manhã plantei mudas de melância.

    Boas colheitas!

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  2. Muito querida Marília,
    desde a UFPR meu agradecimento pelos teus comentários geracionaris, dispares no tempo e na postura.
    Quando for safra da melancia poderemos fazer algum escambo.
    Um afago
    attico chassot

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