sexta-feira, 27 de agosto de 2010

27- Mais um quase ocaso agustino

Porto Alegre * Ano 5 # 1484

A esperada chuva chegou. Na madrugada ela se fez sinfonia.

É a última sexta-feira do agosto 2010. Este talvez seja recordado por queimadas que enfumaçam grande parte do país.

Tenho neste dia concorrida agenda no Centro Universitário Metodista - IPA. Pela manhã quatro horas de aulas no Seminário de História e Filosofia da Ciência no Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão. Às 17 horas, palestra O que é Ciência, afinal? no seminário dos mestrados e às 19h a quarta fala para o curso de Ciências Biológicas, nos encontros promovidos pela professora Isabel Gravato, hoje com a discussão: “A Escola não mudou! Foi mudada!” Que os deuses que cuidam de pendrives e de gargantas me projetam.

Desejo, de maneira diferenciada bisar aqui aquilo que foi tema da blogada do dia 19: Hiroshima e Nagasaki. Sirvo-me de um texto publicado no www.amaivos.br Tenho orgulho de ser parceiro da produção de um das mais significativas plataformas ecumênicas da blogosfera brasileira. Ainda na semana passada seu diretor escrevia: Querido Chassot: Muito obrigado pela sua generosidade e pelo seu carinho de sempre ! É um prazer e uma honra tê-lo na nossa equipe. Espero que sejamos parceiros nessa missão por muitos anos! Um abraço forte Tony Piccolo. Assim, agrada-me oferecer, de vez em vez, produções daquele prestigiado sítio, que se prepara celebrar 10 anos de realizações. O texto que trago, produzido por uma das mais respeitadas teólogas brasileiras, é outra recordação de um dos mais tétricos acontecimentos da história da humanidade.

"Meninos" atômicos

Maria Clara Luchetti Bingemer
professora do departamento de teologia da PUC-Rio

Parece amarga ironia que hajam sido batizadas de “meninos” (Little Boy e Fat Boy) as duas bombas atômicas que há sessenta e cinco anos atrás caíram sobre Hiroshima e Nagasaki, no Japão, lançadas por aviões estadunidenses. Numa segunda feira, 6 de agosto de 1945, o avião Enola Gay deixava cair seu fardo destruidor sobre Hiroshima. Três dias depois era a vez de Fat Boy ser lançada sobre a cidade de Nagasaki.

Menos de uma semana depois, em 15 de agosto de 1945, o Japão se rendia e a Segunda Guerra Mundial chegava ao fim. Foi uma guerra que deixou atrás de si o maior saldo de mortes da história da humanidade. Além do genocídio do povo judeu, a média de pessoas que morriam durante a guerra beirava os 5000. O fim daquele genocídio era algo pelo qual a humanidade ansiava ardentemente.
No final daquele mesmo ano, no entanto, o número de mortos por causa das bombas era de aproximadamente 140 mil pessoas em Hiroshima e 74 mil em Nagasaki. E o número de mortos nos anos seguintes, vitimados pelas sequelas das radiações, era muito maior.

A amargura da ironia se torna maior. À destruição causada pela guerra se acrescenta outra ainda maior. Para deixar de matar por um lado, mata-se mais e mais cruelmente pelo outro. Parece o mundo um desses doentes terminais que ao tratar de um mal, desencadeia outro e ao tomar um remédio que cura uma doença desperta outro no organismo frágil e esgarçado.

O capitão Theodore Van Kirk, tripulante do avião que lançou a bomba atômica sobre Hiroshima há 65 anos, entrevistado, não deixou transparecer um único sentimento de angustia ou arrependimento pela violência que protagonizou. Ao contrário, disse sentir-se orgulhoso da missão que, segundo ele, salvou muitas vidas e pôs fim a uma odiosa guerra. Acrescentou, no entanto, que esse tipo de arma não deveria voltar a ser usada nunca mais.

Van Kirk declarou na entrevista que havia pleno conhecimento dele e de seus companheiros do tipo de armamento que levavam. Isso fez com que passassem a noite anterior ao lançamento da bomba jogando pôquer, já que não podiam dormir. O “menino”explosivo que carregavam requeria vigilância permanente.

Sessenta e cinco anos depois, o triste aniversário se celebra como de praxe. Minuto de silencio pelos mortos. Discursos emocionados relembrando as vítimas e emitindo desejos de paz. Os “hibakusha”, como são chamados em japonês os sobreviventes da tragédia causada pelos “meninos”atômicos, estiveram no centro das celebrações dos tristes sucessos de 1945 no Japão. Receberam o preito de homenagem dos visitantes ilustres.

No entanto, essa celebração teve um toque diferente. Ali comparecerem pela primeira vez nesse tipo de cerimônia representantes dos Estados Unidos, Reino Unido e França. As três grandes potências que eram protagonistas da Segunda Guerra e aliadas no bombardeio a Hiroshima e Nagasaki marcaram presença no Japão em sinal de apoio ao desarmamento nuclear.

Parece que cresce a consciência de que não se combate a violência com mais violência. Ou de que a vitória final não é daquele que tem mais potencial destrutivo. Os dois “meninos”atômicos e perigosos que deixaram esse rastro de dor e morte no Japão há 65 anos precisam ser definitivamente varridos da história e do cenário mundial.
Pois, como bem disse o secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, a única maneira de assegurar que as armas nucleares não serão usadas é eliminá-las. Se outros “meninos”como o pequeno e o gordo do Enola Gay ficarem à solta, os habikusha podemos ser todos nós

Torcendo que os senhores do mundo aprendam a lição. Seria fabuloso se pudéssemos dizer: “Armas atômicas nunca mais!”

Hoje é o Dia do Psicólogo. Minha homenagem a alguns de meus leitores que exercem esta importante profissão, vou fazer com uma mensagem que recebi ontem à noite de minha orientanda a psicóloga Thaíssa Hass. Professor, só para lhe contar que amanhã é dia do Psicólogo. E que as reflexões trazidas a partir da blogada de hoje, estão num momento muito apropriado. Vejo colegas que seguem o exemplo do médico da comédia de Molière que o senhor citou, e isso é triste e acaba por desvalorizar a profissão que existe justamente para discutir e mudar os rumos de assuntos como o que o senhor blogou hoje. Um beijo, Thaíssa

Que a sexta-feira seja agradável a cada uma e cada um. Apresento o convite de lermos amanhã aqui. Apenas recordo que as blogadas sabáticas falam de leituras.

3 comentários:

  1. Caro Mestre Chassot,
    já faz um tempo desde o ultimo comentário, todos os dias tenho lido suas blogadas o motivo da abstinência de comentários não sei explicar. Seria uma vergonha lhe dizer que é por falta de tempo depois de ler sua concorrida agenda. Mas enfim é certo que não consigo iniciar o dia sem dar uma espiadinha neste blog que, como já disse em outra oportunidade, é uma fonte de sabedoria. Com muita admiração de seu discípulo Haroldo R. Gomes

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  2. Meu caro Haroldo,
    é muito bom celebrar teu retorno. Há parceiros no fazer alfabetização científica – tu és um deles – que a presença conforta.
    Obrigado por de vez em vez este blogue merecer uma espiadela.
    Com amizade
    attico chassot

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  3. JOSE CARNEIRO ESCREVEU:
    Caro amigo:

    Eu fiquei bem impressionado sobre o texto publicado a respeito da tragédia que se abateu sobre Hiroshima e Nagasaky. Belo texto, sobre assunto tão traumático.

    E em seguida louvei sua disposição fisica, muitas vezes já reiterada por mim, que lhe permite dar tantas aulas numa sexta feira, dia que já me sabe a final de semana. E lembrei de uma frase (esqueci o autor), há muito lida: "eu nunca pude aprender nada com aquele mestre porque ele não me amava". E arrematei dizendo que nenhum aluno seu poderia, em qualquer tempo se queixar assim, pela simples razão de que você ama o que faz. E faz bem feito!.
    E ai conclui co m uma frase de um motorista de Castanhal (que já devo ter lhe mencionado) que diante de uma longa viagem, dizia: "a jornada é que determina o pique". Isso tem a ver, claro, com suas longas e aparentemente extenuantes jornadas acadêmicas.
    Vida longa, meu querido amigo. Com muitas jornadas e muitos piques.
    Abs. José Carneiro

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