05.- Aos Sanseverinos, uma homenagem com gratidão

Porto Alegre Ano 4 # 1432

Uma segunda-feira bastante atípica esta deste veranico julino que já se estende por três dias. Muitos de nós nos lembramos das curtidas e saudosas ‘férias de julho’ ou ‘férias de inverno’. Havia 31 dias sem aulas. Hoje isso não ocorre mais na Escola Básica e nem na Universidade. Há recessos diferenciados nos diferentes níveis de ensino de uma ou duas semanas. No Centro Universitário Metodista – IPA, vivo um recesso na graduação e na UAM - Universidade do Adulto Maior. As aulas no Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão prosseguem. E mais, hoje, amanhã e quarta-feira estou envolvido no processo de seleção, com entrevistas de mais de meia centena de candidatos que realizaram prova escrita no sábado.

Hoje vou mudar o tom da blogada. Já que a poderosíssima FIFA, uma das igrejas mais exitosas do deus Mercado decretou um tríduo de abstinência dos mega-cultos futebolísticos, vou deixar a África e assemelhados que assuntei aqui nas últimas edições.

Trago um assunto que foi matéria de jornais gaúchos no dia 1º julho. O assunto não transitaria por aqui não tivesse matizado de muitas emoções pessoais. Permito-me antecipar justificativa.

Quando escrevi Blogues como artefatos culturais pós-modernos para fazer alfabetização científica. Competência: Revista da Educação Superior do Senac-RS. p. 11-28. V.2, N.2 Julho de 2009 ISSN 1984-2880 usei como frase capitular: A alegria e o rigor científico podem coexistir. Com este bordão procuro não apenas defender a pretensão deste blogue em fazer alfabetização científica – esta numa acepção muito ampla –, mas fazê-lo com marcas de atratividade.

Na tentativa de manter esta encantação aliada à proposta mantida durante quase quatro anos de uma edição diária, há precisão de ter, a cada dia, perfis diferenciados. Assim, há um fio condutor: a presença constante de um discreto diário. Parece-me, mesmo quando vá falar de um assunto acadêmico mais árduo, que preciso dar a cada edição uma marca pessoal e contextualizar no cotidiano. Esse cunho pessoal tem duas faces: de um lado, uma dose (aqui confessada) de exibicionismo – ou de narcisismo – do bloguista, e outra, certo voyeurismo dos leitores; essas duas faces são como nos programas do tipo Big Brother. Os blogues se extravasam, ou melhor, se deleitam nessas duas faces. Talvez pelo fato de no meu caso o bloguista ser um professor com certa inserção nacional, há certa tietagem bimodal. Essa marca do pessoal pode ser um discreto comentário meteorológico, algo sobre a agenda do dia ou relato de detalhes do local de onde está sendo feito a blogada; isso já ocorreu em mais de uma centena de locais em mais de uma dezena de países. Isso exige diferentes perfis cotidianos. Um destes é ser locus para mostrar o que guardam os baús. Como tenho amealhado diários completos de algumas décadas e por estar preparando um livro para celebrar meus 50 anos como professor em 2011, o blogue tem sido mais recentemente um local para mostrar um pouco o que guardam os meus baús de memórias. Aqui baú está sendo usado em duas dimensões: a material e a espiritual. Esse preâmbulo é o suficiente para justificar a notícia aparentemente alienígena aqui.

Judiciário gaúcho volta a ter representante no STJ: Sanseverino é o primeiro integrante do TJ do Estado na Corte desde 2003.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva escolheu o desembargador Paulo

de Tarso Sanseverino, 51 anos, para integrar o Superior Tribunal de Justiça (STJ. Desde 2003, não havia um representante do Tribunal de Justiça (TJ) do Rio Grande do Sul na Corte. Depois de passar por uma sabatina no Senado, prevista para ocorrer em julho, o desembargador estará apto para assumir o posto de ministro do STJ. A previsão é que a posse ocorra no começo de agosto. O STJ, hoje, é o tribunal mais importante do Brasil na parte do controle da legislação infraconstitucional. Casado há 27 anos, tem dois filhos, com 17 anos e 20 anos, que estudam Direito. A promoção de Paulo de Tarso Sanseverino ao STJ coroa uma carreira construída de forma precoce: desde os 21 anos ele integra o Judiciário. Graduado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), o desembargador Paulo de Tarso Vieira Sanseverino é mestre e doutor pela Faculdade de Direito da UFRGS. Aos 51 anos, Sanseverino completa neste ano 30 anos de Judiciário. Quando assumiu o cargo de desembargador em 1999, aos 40 anos, era o mais jovem integrante do TJ. Sanseverino exerce também o magistério na Escola Superior da Magistratura da Ajuris, da qual foi diretor no biênio 2006/2007.

Essa escolha do Presidente Lula me emocionou e esta é justificativa da trazida aqui. Mais do que fazer pública minha admiração ao novo ministro do STF, há o ensejo de fazer uma homenagem de gratidão ao casal José e Maria Teresa Sanseverino, pais do Paulo. Quando no memorável dezembro de 1968, o Bernardo, meu primeiro filho tinha menos de duas semanas e vivia em casa os primeiros dias depois que deixara a maternidade, sua mãe precisa ser emergencialmente ser hospitalizada. Então, num gesto de imensa generosidade, a mãe do Paulo, que ainda amamentava o Antônio Marcos, filho caçula do casal, acolhe o Bernardo entre os seus e o amamenta amorosamente. Hoje, quase 42 anos depois, escrevo isso com olhos embaçados por lágrimas de gratidão. Por 21 dias – até 8 de janeiro de 1969 – ele junta-se como filho ao Inácio, à Terezinha, ao Paulo, ao Francisco. Eu nesse período, que vi esboroar um sonho de uma casa com esposa e filho, faço da generosa casa da Vicente da Fontoura com a Gomes Jardim, um pouco a minha casa. Lembro ali de longas esperas de um telefonema do médico (à época que eu não possuía telefone fixo e celular ainda não existia), confortado pelos pais do Paulo.

Assim, esta mais que justificada a emoção que notícia transcrita me trouxe. Com o Ministro Prof. Dr. Paulo de Tarso Vieira Sanseverino – ou melhor, com o Paulo com convivi enquanto um menino fagueiro nos seus nove anos.

Nas emoções desse relato, uma boa segunda-feira a cada uma e cada um. Adito um convite de nos lermos uma vez mais aqui. Até então.