quinta-feira, 22 de abril de 2010

22 * Ainda os 50 anos de Brasília

Porto Alegre Ano 4 # 1358

Um dia histórico esse 22 de abril. Talvez a primeira data histórica que aprendemos na Escola. Dia do Descobrimento do Brasil. Agora começa clarear. Uma quinta-feira que sabe à segunda. Até parece que esta tarde eu tenha aulas na UAM - Universidade do Adulto Maior.

Ontem, no feriado em que se homenageava Tiradentes, referi os 50 anos de Brasília. Por muitos anos – dentro de meu viés de colecionador – conservei uma garrafinha de ‘guaraná Caçula, que tinha um sobre tótulo alusivo ao feito de Juscelino Kubitschek. Recordo que era aluno do 3º científico do Colégio Estadual Júlio de Castilhos. O ‘Julinho’. Era o ano de conclusão de curso marcado pelo espectro do vestibular. Foi um ano de varar noites estudantes, depois de jornadas de trabalho no Restaurante da Reitoria. O trabalho nos bailes de formatura era estímulo s para estudar e sonhar que um dia trocaria o avental de atendente por toga e beca de formando.

Mas hoje quero homenagear a 50tinha. Numa feliz coincidência faço isso no dia que almoço com meu colega Jairo, que por nove anos foi morador apaixonado de Brasília. Trago para unir-se ao coro dos que cantam a Capital da esperança um texto – do qual ofereci aperitivo ontem – de Moacyr Scliar, médico e escritor, um dos quarenta imortais da Academia Brasileira de Letras.

Brasília, 50 anos

Na primeira visita que fez ao desolado lugar onde seria edificada a futura capital do Brasil, o presidente Juscelino Kubitschek escreveu no Livro de Ouro de Brasília uma frase que ficou célebre: “Deste Planalto Central, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino”.

Improviso? Certamente não. Político experiente, Juscelino já deveria ter esse texto na cabeça. E não há dúvida de que ele resume a ideia de Brasília – e as fantasias geradas por Brasília. Juscelino está falando em planalto, numa região sobranceira, elevada; está falando do centro de um país que tinha nascido no litoral e do qual dificilmente saía. E, muito importante, está falando em solidão. A solidão geográfica e também a solidão psicológica, que políticos às vezes conhecem bem e que levou Getúlio Vargas ao suicídio. Mas a solidão a que JK se referia não implicava necessariamente desamparo; estava mais próxima daquele “esplêndido isolamento” que caracterizou o governo britânico na fase áurea do império. O isolamento de quem, graças ao poder, está por cima da carne-seca. No caso de Brasília, o poder viria do fato de que a cidade seria o “cérebro das altas decisões nacionais”, levando o Brasil a “seu grande destino”. Uma grandiloquência que lembra outra frase famosa (e de certo também ensaiada), esta de 20 de julho de 1969, quando o astronauta Neil Armstrong, depois de dar os primeiros passos na Lua, disse: “Este é um pequeno passo para o homem, mas um gigantesco salto para a humanidade”.

Cinquenta anos depois do nascimento de Brasília, qual a atitude dos brasileiros em relação a sua surpreendente capital? Eu arriscaria

a palavra “ambivalência”. De um lado, trata-se de uma arrojada criação urbanística e arquitetônica. É verdade que muitos criticam o planejamento autoritário do Plano Piloto (uma alusão ao passado stalinista de Niemeyer), mas não há dúvida de que criatividade ali foi a regra. A localização também provou-se adequada; a Região Centro-Oeste hoje não para de crescer e a presença de importantes núcleos urbanos ali é fundamental.
De outro lado temos o conceito de ilha da fantasia, a ideia de que o esplêndido isolamento desliga as pessoas da realidade brasileira e faz com que vivam num mundinho à parte, gravitando em torno aos próprios interesses, o que frequentemente envolve corrupção e dinheiro na meia, o que, convenhamos, está longe de ser esplêndido.

A verdade é que Brasília, como o Brasil, está mudando. A prisão de Arruda serviu para mostrar que a impunidade já não é a regra. O país não chegou a seu “grande destino”, mesmo porque este correspondia à expectativa messiânica tão comum na tradição luso-brasileira (segundo o Padre Vieira, Portugal seria o mítico e grandioso Quinto Império mencionado na Bíblia), mas avançou muito no rumo da igualdade e da redução da miséria. De alguma forma o sonho de Juscelino contribuiu para isso.

Concluo com votos de uma muito boa quinta-feira. Adito o convite para nos lermos, aqui, amanhã.

8 comentários:

  1. Inesquecível Chassot,
    Saudades!!!!
    Realmente, Brasília é uma cidade linda , maravilhosa e bela.Parabéns para ela!
    Dei uma olhada nos blogs anteriores e tem muita coisa boa e interessante. Vou lê-los por parte.
    Uma excelente quinta-feira e nos lemos amanhã sim!
    Saudades!!!!

    ResponderExcluir
  2. Muito querida colega Joélia,
    vivemos em um mundo de controles. Há não muito voltei de minha hora de Academia e era informado que em Jequié alguém se conectara no blogue. Disse-me ‘Só pode ser a Joélia’. Acertei quando vi chegar teu comentário.
    Quando referes edições anteriores, devo assegurar-te que o blogue parece estar cumprindo a sua meta: fazer ~~ em uma dimensão mais ampla ~~ alfabetização científica. Tu não pensaste em envolver teus estudantes de Ensino de Química ou de Educação nas Ciências em interações com blogues, para ampliar a alfabetização científica. Tenho um texto CHASSOT, Attico. Blogues como artefatos culturais pós-modernos para fazer alfabetização científica. Competência: Revista da Educação Superior do Senac-RS. p. 11-28. V.2, N.2 Julho de 2009 ISSN 1984-2880 que se te interessar posso te enviar.
    Um afago com saudades

    attico chassot

    ResponderExcluir
  3. Mestre Chassot!
    Minha vivencia de nove anos na capital federal me mostrou outra Brasilia, onde luxo e miséria convivem lado a lado. Morei num primeiro momento na Região Octogonal do Plano Piloto, lugar de acesso facil e habitado pela classe média. Posteriormente fui habitante de Taguatinga, cidade satélite movimentada e onde mora grande parte dos descendentes da construçao da capital. Não conheço nenhum lugar similar a Brasilia, dentre todos aqueles que já conheci. Seu transito e a localizaçao das quadras é algo peculiar e inigualavel. Só quem morou lá sabe dizer da facilidade de se encontrar um endereço. Abraço do JB.

    ResponderExcluir
  4. Meu caro Jairo,
    sabes que sempre te ouço encantado acerca de Brasília. Já estive nessa cidade talvez dúzia e meia de vezes. Ela sempre me remete a Cairo antes da era cristão. Pirâmides que traduzia a megalomania dos faraós construída por uma população que não usufruía aquilo que construía. Os edifícios públicos de Brasília são as pirâmides pós-modernas, com as mesmas finalidade.
    Esse papo pode prosseguir em nosso almoço,
    Com agradecimentos pelo comentário
    attico chassot

    ResponderExcluir
  5. Muy querido Profesor Chassot,
    Tal vez la tradición española de la que somos herederos acá influye en mis recuerdos, porque tengo la vaga idea que Brasil fue descubierto por un español.
    Buscando en internet descubrí que hay la referencia que la expedición del español Yañez Pinzón se adelantó 83 días al portugués Alvares Cabral en descubrir las tierras que hoy se constituyen en su país.
    Lo que sí recuerdo bien de mi época estudiantil (porque nos hacían memorizar los Tratados y los límites territoriales de cada uno), es que había una parte que perteneció a la Real Audiencia de Quito. Allá por 1563 Manaos, Porto Belho y Belén eran parte de este enclave que mucho después se ha formado en Ecuador.
    Claro que en esa época la Real Audiencia de Quito dependía del Virreinato del Perú, lo que ha dado pie a los sinnúmeros intentos adicionistas de nuestro vecino del sur que terminaron en conflictos y guerras, pero ésa es otra historia.
    ¿Qué le parece? De haberse mantenido los límites, sus amigos belenitas serían hoy ecuatorianos. Un abrazo cariñoso,

    ResponderExcluir
  6. Muy amable comentarista ecuatoriana,
    cuando me ha sido anunciado el aviso de correo de tu mensaje en el blogue de hoy, he pensado que comentaríais el ‘Día de la Tierra’ que ustedes y otros pueblos latinoamericanos celebran hoy. Todavía tú has mostrado a nosotros que conoces otra historia de descubierta de Brasil que usualmente no se enseña en las clases de la Escuela. Recordar que el español Yañez Pinzón se adelantó 83 días al portugués Alvares Cabral en descubrir las tierras cuasi solamente se escucha en la Universidad.
    No es usual ser enseñado el pertencimiento de parte de la Amazonia al Ecuador.
    Delante de tu recuerdo, hago copia de este mensaje a José Carnero como el belemnita mor de entre mis lectores cuasi ecuatorianos, que ciertamente traerá su opinión abalizada.
    Gracias por tu visitación a ese blogue y un cariño brasileño de
    attico chassot

    ResponderExcluir
  7. Querido Chassot,
    Quero sim o texto e já passei o site do seu blog para meus alunos. Espero que eles aceitem fazer alfabetização científica.
    Um grande abraço com saudades,

    ResponderExcluir
  8. Estimada Joélia,
    obrigado por tua adesão de fazermos juntos alfabetização científica usando blogues para tal.
    Com disponibilidade
    attico chassot

    ResponderExcluir