domingo, 28 de fevereiro de 2010

28* Num domingo de despedir da acolhedora Copenhagen


Copenhagen Ano 4 # 1305



Esta edição não poderia iniciar sem manifestar a tristeza e solidariedade aos irmãos chilenos vítimas de uma terrível catástrofe. Junto esses sentimentos a povos de outras nacionalidades que nesse sábado foram violentados por inclemências da natureza.

Hoje trago aqui um pouco de meu sábado, marcado por um dia de temperaturas em torno de zero grau, nubladíssimo e com continuados chuvisco.

Trago dois destaques de visitações sabatinas: a Torre Redonda e o Museu Judaico.

A Rundetaarn (a Torre Redonda) foi construída por iniciativa do Rei Christian IV (1588–1648) entre 1637 e 1642. Foi a primeira parte do Trinitatis complexo, para reunir as três estruturas mais importantes dos escolásticos do Século 17: uma igreja para os estudantes, uma biblioteca para a universidade e um observatório em um único prédio.

A parte superior da fachada da Torre existe uma inscrição dourada: um hieróglifo.

O esboço, elaborado de próprio punho pelo Rei Christian IV, o hieróglifo pode ser interpretado do seguinte modo: que Deus guie, na sabedoria e na justiça, o coração do rei coroado Rei Christian IV, 1642. Este é o ano que Torre foi concluída. A Torre ficou muito acima do resto dos telhados da cidade, e astrônomos da Universidade estudavam as estrelas e os planetas no topo do Observatório.

Hoje acessei a Torre, única em sua concepção na Europa, até o topo. Há uma rampa em espiral de 209 metros de comprimento, que dá 7,5 voltas em torno do núcleo oco da Torre. Essa rampa faz o acesso único a outras partes do edifício, como meia altura da torre está a entrada para a grande e belíssima Biblioteca Municipal, que agora serve como uma galeria popular e local do concerto.

Os acadêmicos podem ter abandonado o edifício há muito tempo, mas durante o inverno os visitantes ainda são capazes de olhar para o cosmos de observatório mais antigo da Europa. A plataforma que roda em torno do exterior oferecem as exibições do Observatório em relação ao trimestre em latim - a partir daqui, você pode manchar a maioria dos edifícios famosos da cidade.

Acima da Biblioteca é o loft do sino, notável por suas enormes vigas de madeira, que foram utilizados na reconstrução da Torre na sequência do grande incêndio de Copenhague em 1728. O loft é também local de uma pequena exposição de artefatos fascinantes da história da Torre, incluindo lacre de cera Christian IV', uma lata de medicamento produzido por Tycho Brah, e um pedaço da bomba que explodiu na Biblioteca Municipal durante o bombardeio de Copenhague, em 1807.

Quando se termina o acesso pela rampa, por estreita escada de ferro em caracol se chega à plataforma do miradouro, 34,8 metros acima do nível da rua. Do local se pode ter uma visão de 360º da parte antiga de Copenhagen. Circundando a plataforma da Torre encontra-se um gradeado de ferro, ricamente trabalhado, executado pelo artesão da corte, Kaspar Fincke. Neste gradeado pode se ver o monograma do Rei Christian IV e as letras RFP, que representam o lema do Rei: Regna Firmat Pietas: a piedade fortalece os reinos.

A Torre Redonda é o mais antigo observatório ainda em funcionamento. Até 1861 era usada pela Universidade de Copenhagen; hoje astrônomos amadores e publico em geral, sobem a noite para observações do céu através do excelente telescópio da Torre Redonda. Mais detalhes há em www.rundetaarn.dk Fazendo um contraponto, a noite visitamos o moderníssimo Planetário Ticho Brahe, junto ao nosso hotel

Em umas das salas da antiga biblioteca visitei uma linda exposição temporária: “Bizâncio - império de ouro da Europa, 330-1453” que destaca a superpotência bizantina e seu legado - uma viagem para um mundo de seda bordada a ouro, mosaicos coloridos, vidros, moedas, ícones, catedrais e hipódromos. Estes contam a história de uma civilização única que sobreviveu por mais de 1000 anos e deixou marcas indeléveis do deserto do Sinai até à Escandinávia. Vi peças com mais de mil anos de existência.

Depois de circularmos pelo Quartier Latin e nos dirigimos para a região dos museus em Slotsholmen, onde estão entre outros: o palácio Chrisiansborg – o majestoso e imponente palácio real usado pela rainha para celebrar as cerimônias de Estado como jantares e banquetes; o Diamante Negro – a biblioteca real; o Real Museu Dinamarquês do Arsenal – que reúne peças históricas de artilharia militar desde a Idade Média; e, o Museu Judaico Dinamarquês, escolhido para nossa visitação.

Dansk Jødisk Museum (Museu Judaico Dinamarquês) é dedicado à história da minoria judaica e a sua cultura na Dinamarca que datam do século 16 e se estendem aos dias de hoje. O museu abriga uma pequena coleção permanente e mostra exposições temporárias. Uma das maiores atrações do museu, porém, é o seu interior, projetado pelo arquiteto estadunidense Daniel Libeskind – que também projetou o Museu Judaico de Berlim e da Torre da Liberdade, a ser construída no local do World Trade Center em Nova York ).

Paredes inclinadas do museu, pisos inclinados e ângulos salientes podem parecer assustadores para o visitante, quase como um labirinto surrealista, mas há razão que sustenta a estrutura aparentemente caótica. Libeskind quis mostrar na arquitetura interna do Museu Judaico Dinamarquês, simbolicamente a situação de outubro de 1943 quando os judeus dinamarqueses foram contrabandeados em sua maioria para a vizinha Suécia a fim de serem salvos. As paredes internas do museu são formadas pelas quatro letras hebraicas da palavra Mitzvah, que é usado a para descrever um ato de bondade humana, ou boa ação e que aparece no logo do Museu.

As cinco peças do museu no projeto de Libeskind do museu se assentam em cinco conceitos do mundo judaico tradicional das idéias. Na exposição, elas foram feitas para corresponder com as cinco dimensões da experiência judaica na Dinamarca, trazidas da experiência histórica do povo judeu: 1) O Êxodo do Egito; 2) A chegada ao deserto; 3) A migração pelo deserto; 4) A recepção da Lei e das Tradições; 5) A chegada na Terra Prometida. Tudo isso está sintetizado, como referi antes, na palavra Mitzvah que dispõe a organização do Museu.


O museu está localizado em uma antiga estrutura conhecida como Galejhuset, que com suas paredes de pedra externas, combinam com paredes internas em ângulo, assim Libeskinds cria um interessante diálogo arquitetônico entre passado e presente. Essa moderna concepção está alojada num edifício do século 17 - o antigo Real Boat House - agora transformado em um espaço geométrico intrigante. A entrada fica no

lado sul do jardim que fica na parte traseira da Biblioteca Real.

Trouxe segmentos de nosso sábado aqui em Copenhagen. Há detalhes do cotidiano que nos surpreenderam como ir a um supermercado onde todo serviço de passagem pelo caixa é feito exclusivamente pelos clientes. Isso fica para outro momento. Voltamos à noite para Ålborg . Temos uma extensa programação para uma última curtida nessa cidade que nos encanta. Um bom domingo a cada uma e cada um e nos lemos amanhã na abertura de minha última semana aqui.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

27* No Louisiana talvez meu maior momento de viver a Arte


Copenhagen Ano 4 # 1304


Neste segundo dos meus três sábado escandinavos, inicio considerando-me escusado, por como no último não trazer a dica sabatina de leitura. Preciso repartir um pouco as emoções de ontem, onde numa tarde/noite talvez tenha vivido a maior oportunidade de contato com a arte em minha história. Considero-me um privilegiado por já ter estados nos mais importantes museus do Planeta. Mas penso que o conjunto das emoções de ontem no Museu Louisiana em Humlebæk são algo quase inenarrável que talvez consiga trazer uma pálida ideia aqui.

Como na quinta-feira reservamos a parte da manha para atividades ligadas a nossa estada aqui para na tarde desenvolvermos atividades digamos ‘não-acadêmicas’ (numa muito questionável adjetivação).

Antes das 15 horas estávamos na Estação Central de trens e fomos vencidos em nosso primeiro desafio frente às máquinas: queríamos comprar duas passagens ida-e-volta para Humlebæk, mas terminamos comprando para Helebæk, escolhida por engano entre mais sete estações na mesma direção que começam com agá e outras três que terminam com bæk. Resolver esse engano custou-nos bons momentos em uma fila. Mas houve boa solução, pois já podemos adquirir junto com as passagens os ingressos para o museu.

Depois de uma viagem de trem de cerca de 25 minutos estávamos em Humlebæk, a 35 km ao norte de Copenhhagen, uma cidade com cerca de 9.000 habitantes – originalmente uma aldeia de pescadores, cuja história remonta ao século 16 – é fortemente associada ao Louisiana - museum for moderne kunst. A este se chega com uma caminhada de 500 metros.



O Louisiana está situado as margens do mar de onde se avista a Suécia. É o museu mais visitado na Dinamarca com suas mais de 3.000 obras que estão em sua coleção permanente do maior museu da Escandinávia. A coleção é marcada temporalmente a partir de 1945 e inclui praticamente todos os gênero - com ênfase em pintura e escultura. Na sessão são obras importantes de Picasso, Giacometti, Dubuffet, Yves Klein, Andy Warhol, Rauschenberg, Henry Moore, Louise Bourgeois, Philip Guston, Morris Louis, Jorn, Baselitz, Polk, Kiefer, Kirkeby, e muitos outros. O museu também é reconhecido como um marco na arquitetura moderna dinamarquesa, notável para a síntese que cria de arte, arquitetura e paisagem. Não é sem razão que Patrícia Schulz coloca esse museu em seu livro "1000 lugares para conhecer antes de morrer."

Ao lado deste acervo interno o prédio integra-se ao mar com um imenso parque com uma enorme quantidade de esculturas que fazem parte do museu. Obras de Bill Arp, Calder, César, Laurens, Shapiro, Sekine, Henry Moore, Richard Serra, Max Ernst entre outros como o dinamarquês Henry Heerup com imponentes esculturas em granito. Ontem devido ao frio e a neve esse porque teve restrições a sua fruição, mas trago algumas fotos que fiz.




O


nome do museu deriva do primeiro proprietário do imóvel, Alexander Brun, que nomeou sua propriedade de Louisiana, depois da morte de três de suas ex-esposas, todas chamadas de Louise. O museu foi criado em 1958 por Knud W. Jensen, o proprietário da vila então. Ele contratou arquitetos Wilhelm Wohlert e Jørgen Bo, que passaram alguns meses na propriedade antes de decidirem como uma nova construção que melhor se encaixaria na paisagem excepcionalmente linda. Deste estudo resultou na primeira versão do museu constituído por três edifícios ligados por corredores de vidro. Desde então, foi aumentado por diversas vezes até chegar a sua forma circular atual em 1991.

Ontem visitamos duas exposições temporárias: Colour in ART e Homo Sapiens Sapiens. Vou limitar-me a contar algo da primeira.

A primeira conta a história de cor e seu papel e a sua importância para os artistas e para o desenvolvimento da arte contemporânea. É a cor que significa desafios e milagre que juntos formam a cor da arte para uma alegre experiência viajando de do século 18 com o impressionismo até os dias atuais. Isso é feito a partir daquela é considerada a maior coleção privada do mundo – de Werner e Gabrielle Merzbacher. Jamais havíamos visto tantos Kandinski, Leger e Paul Klee, por exemplo, reunidos em uma mesma exposição, com uma curadoria fantástica, que situava em uma linha do tempo que começava com a morte de Marx em 1883 e se estendia até 2010, destacando fatos da política, da literatura, da economia até coisas mais triviais como o “nascimento” da boneca Barbie e do LEGO. Na exposição há os artistas mais contemporâneos que se conhece, como David Hockney, Lucio Fontana, Sam Francis, Frank Stela, Rotko, Elisworth Kelly, Noland, Brigdet Riley e o venezuelano Jesus Soto Kenneth.


Depois de desfrutar de tudo isso, demos uma circulada pelos espaços reservados a venda de livros, objetos, roupas, jóias e também em um espaço destinado a crianças.










Jantamos no museu no lindo café do Louisiana que agrega linda paisagem do Louisiana. E então, para terminar, assistimos a um belíssimo concerto de piano, obras de Schuman tocadas pelo francês Sage. Como estavam esgotados os lugares para o concerto, a Gelsa escreveu para Diretor Cultural do Museu Lars Fenger, contando o quanto gostaríamos de assistir ao concerto. Este deve ter se sensibilizado, a ponto de ter entrado em contato com a Gelsa por duas vezes, disponibilizando dois ingressos grátis (que custavam 195 DKK ou cerca de 80 reais cada). Quando chegamos ao museu já estava tudo nos aguardando e ele ainda teve uma gentileza nos colocar em dois excelentes locais na sala de concertos lotada. Sobre os espetáculos musicais do Museu dinamarquês vale citar revista ENSEMBLE, prestigiada publicação alemã de música de câmera, “no mundo da música de câmera, Louisiana é um dos raros espaços onde tudo parece estar em perfeita harmonia, em benefício da música”.

Passava das 23h quando sob chuva desembarcávamos na estação de trem de Copenhagen, felizes com a tarde/noite maravilhosa. Agora já com planos para curtir o sábado – com previsão de chuva e neve –, que desejo seja o melhor para cada uma e cada um, um convite para amanhã uma blogada de despedida da capital da Dinamarca.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

26 * Um Museu de Arte Moderna do Vidro subterrâneo


Copenhagen Ano 4 # 1303


Aqui em Copenhagen a manhã já vai adiantada. No Brasil é madrugada. Não há ninguém conectado no Skipe. As mensagens que recebo ainda foram postadas ontem à noite. Aqui a temperatura está um grau e a previsão para hoje é de neve e frio. Mostro uma foto de ontem desde a janela do nosso apartamento, no 5º andar, chamando atenção ao fog que cobriu a cidade o dia inteiro e também ao canal que está completamente congelado; o Planetário da cidade está em primeiro plano.

Quando inicio a segunda metade de minha jornada escandinava (passaram 11 dos 22 dias) este blogue segue sendo o diário de viajante. Assim, um breve relato do dia de ontem.

Depois de cumprirmos a agenda prevista para a manhã, a tarde foi preciosamente destinada a atividades culturais na linda cidade que nos acolhe neste fim de semana expandido. Estreando os serviços de ônibus, com uma cartela de passagens integradas ônibus+metro fomos ao Parque Søndermarken, que fica junto ao Frederiksberg Palace, próximo ao Zoo de Copenhagen. Nossa meta era visitar a Cisternerne ou As Cisternas, onde está o Museu de Arte Moderna do Vidro. Chegados ao imenso Parque só vimos neve e árvores, numa situação muito diferente daquela indicada nos guias, como se pode ver em algumas fotos.

Depois de muita busca, ajudados por raros pedestres que encontrávamos, chegamos à entrada, marcada por duas pirâmides de vidro. O museu está localizado embaixo do parque. As Cisternerne são consideradas como um dos espaços de exposição mais original na Europa, e nós ratificamos isso.

As cisternas fizeram parte, originalmente, do sistema municipal de abastecimento de água de Copenhague tendo servido como reservatórios devido à elevação que criava pressão necessária para a água atingir os andares superiores dos edifícios da cidade. Elas foram

construídas em 1856-1859 e serviram ao propósito original até 1981. Durante algum tempo elas foram usadas para concertos, exposições e eventos, antes de serem transformadas em museu permanente, em 1996.

Não encontrei as dimensões do espaço (talvez a área seja equivalente à metade de um campo de futebol), que inclui algumas grutas. Estas criam não só reentrâncias, mas também espaços para exposição de obras de arte em diferentes níveis.

Há no museu duas regiões diferentes: uma formada por uma coleção de dezenas de estátuas originadas de diferentes castelos da Dinamarca, que ali foram reunidas para preservação. A outra, a parte destinada à arte em vidro, que em cuidadosa iluminação, que, num jogo de luz e sombra, transforma os objetos em figuras maravilhosas, marcadas com trabalhos leves e luminosos. As instalações de vidro são projetadas como se estivessem em uma catedral.




O Museu de Arte Moderna do Vidro possui uma coleção permanente de arte em vidro pelos principais artistas dinamarqueses como Robert Jacobsen, Carl-Henning Pedersen. Peter Brandes e Tróndur Patursson, bem como exposições temporárias. Ontem vimos o notável trabalho de Göran Warff, conhecido internacionalmente como um inovador da arte de vidro.

Na segunda parte da tarde voltamos à zona central, mais precisamente ao Quatier Latin, onde visitei o Post Museum e externamente apenas a torre do observatório Astronômico de 1642, o mais antigo em funcionamento na Europa. Como a visitação nesse período se encerra às 17 horas (no verão é às 22h) devo voltar em outro momento. Nele vi uma homenagem ao astrônomo dinamarquês Tycho Brahe (14 de dezembro de 1546, castelo Knutstorp, Skåne - 24 de outubro de 1601, Praga) tão presente em minhas aulas de História da Ciência como o único nome nórdico quando se fala do surgimento da Ciência Moderna. Teve um observatório chamado Uranienborg na ilha de Ven, no Öresund, entre a Dinamarca e a Suécia. Tycho esteve ao serviço de Frederico II da Dinamarca e mais tarde do imperador Rodolfo II. Continuando o trabalho iniciado por Copérnico, foi acolhido pelos sábios ocidentais com alguma relutância.

Já era noite fechada quando com chuviscos e temperaturas de –4ºC a Gelsa e eu voltamos ao hotel. Com esse relato desejo uma muito boa sexta-feira e faço o convite para um encontro aqui amanhã.