quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

03* Ajudando a acupunturar

Porto Alegre Ano 4 # 1280

Primeiro uma notícia doméstica. Ontem ela deixou-se fotografar. Refiro-me a columbina que anunciei aqui no domingo. Refiro-me à passarinha – exótico esse feminino – talvez uma rolinha, que já está batizada de Columbina..

No domingo publiquei fotos do ninho com dois avinhos, em meio à ramagem da parreira que nos protege do sol que se faz inclemente. As fotos são promessa de vida. Dizia então que a mãe zelosa não se deixava fotografar. Ontem ela não resistiu a minha sedução. Ficamos muito tempo nos mirando. Em fim ela assentiu a pousar. Há duas fotos. Talvez confirmem minha hipótese (leigo em

ornitologia: uma ave da família da família das columbinas. O Marcos – um comentarista muito presente aqui – traz uma informação: meus avós confirmam que as rolinhas fazem ninhos na parreira da casa deles.

Tenho esperanças que antes de viajar, dia 14, anunciarei aqui a desova de dois filhotes. A cerca do tempo de choco tenho esses dados: canárias: 14 dias / galinhas: 21 dias (evoco quanto riscávamos em um calendário a lenta passagem destas três semana) / marrecas 28 dias. Estimo, por ser uma ave pequena que o tempo seja de duas semanas. Não é fácil nesses dias quentes (sensação térmica de mais de 40ºC´) esse animalzinho ficar sobre os dois ovinhos, pois durante todo o dia não registrei nenhuma saúde para tomar água.

É uma quarta-feira de férias. Há uma desilusão quando se vê os dias fugirem tão rapidamente, não ensejando a concertação de todos os sonhos (alguns tão simples como fazer uma ordem na escrivaninha ou realizar aquela consulta médica sempre postergada) para o período, Até assuntos para blogar amiúdam.

Afortunadamente há leitores que vem em meu socorro como essa mensagem muito querida que me chega da minha colega e amiga Cláudia Glavan, que foi minha aluna quando fez seu mestrado e doutorado em Educação.

prof. Chassot: como assídua espiã de seu blog me permito fazer algumas declarações e solicitar um pedido. Em primeiro lugar quero dizer que o blog do mestre chassot tornou-se, para mim, local de aprendizagem. As informações respaldadas pela literatura, pela ciência e, principalmente pelo afeto são bastante significativas. Ali vejo as indicações de leitura, descubro histórias interessantes até sobre o sagu. Bem, gostaria de ver no seu blog um comentário a respeito desta notícia que me foi enviada por uma colega. Um grande abraço Claudia Glavam

O assunto trazido pela Claudia é oportuníssimo, e parece muito válido comentar: A primeira escola dedicada à cultura gay do país, a Escola Jovem LGBT, instalada em Campinas (interior de São Paulo), recebe inscrições de candidatos para três cursos.
O prazo iniciou na quarta-feira (6) e vai até o dia 22 de janeiro. Os pedidos podem ser feitos pelo site
www.e-jovem.com. São oferecidas 60 vagas no total, em três opções de cursos livres - dança, web TV e criação de fanzines.

A notícia é vencida. A seleção já foi feita. Muito inclusive ‘sobraram’ por falta de vagas. Mas com o reconhecimento que o pedido merece reflexão busquei respostas. Numa mostrada da pluralidade desse blogue, depois de falar ontem na ‘Purificação de Nossa Senhora’ abro espaço à cultura gay.

Ajuda-me no atendimento do pedido da Cláudia o jornalista e educador Deco Ribeiro, diretor da Escola Jovem LGBT, fundador do Grupo E-jovem de Adolescentes Gays, Lésbicas e Aliados (www.e-jovem.com) e conselheiro nacional de juventude junto à presidência da República. Com a qualificação e o prestígio que tem ele escreveu no sítio antes citado:

No último dia 16/12, o governo de São Paulo assinou convênios com 300 entidades culturais. O objetivo era destinar R$ 54 milhões do Fundo Nacional de Cultura, da Lei Rouanet, para os Pontos de Cultura, que tem a missão de “desesconder o Brasil”, isto é, reconhecer e reverenciar a cultura viva do nosso povo.

Dentre os projetos, havia um único destinado ao fazer e saber de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros. Uma ideia da drag queen Lohren Beauty, de Campinas, que quis criar um espaço de aprendizagem, valorização e reprodução dessa gaia cultura: a Escola Jovem LGBT, a primeira do País.

A notícia ganhou manchetes nacionais. Recebemos centenas de e-mails de jovens interessados na escola, de professores das mais diversas áreas se oferecendo para dar aulas. Mas, com as manchetes, vieram também as críticas.

Muita gente se deixou levar pelo nome “Escola Gay” ou “Escola para gays” e nem se deu ao trabalho de buscar mais informação antes de sair falando em guetos e passados sombrios. Besteira. A escola nunca se propôs a ser um ambiente fechado, só para gays. Assim como gays, lésbicas e travestis podem circular e expressar sua sexualidade em todos os lugares, qualquer pessoa, de qualquer orientação sexual, é muito bem-vinda na Escola Jovem.

Outros questionamentos foram mais inteligentes: existe mesmo uma cultura LGBT? Por que há a necessidade de estimular essa cultura? O que vão ensinar?

Vejam só: a escola nem abriu ainda e já está cumprindo seu objetivo maior que é o de estimular o debate e vencer o preconceito. Afinal, pré-conceito é um conceito formado quando há falta de conhecimento sobre determinado assunto. Para combater a homofobia, o preconceito contra homossexuais, é preciso debater, divulgar e dar visibilidade ao universo LGBT — não só entre legebetês, mas em toda a sociedade.

Para isso, a Escola Jovem LGBT possui duas estratégias. Uma é ser uma escola gay, sim, mas aberta a todos. A todos, claro, dispostos a conhecer e respeitar o universo gay. Não à minoria mais reacionária e homofóbica, irracionalmente contra os homossexuais independentemente de qualquer explicação. Essas pessoas, infelizmente, não estão abertas ao diálogo.

Nossa outra estratégia envolve oferecer ferramentas necessárias para que a própria população LGBT possa fazer o que lhe é negado: expressar-se. E aqui entra a explicação sobre o que é essa cultura LGBT e por que é essencial apoiá-la.

Cultura LGBT é a cultura que enfrenta não a cultura heterossexual, mas a cultura heteronormativa, isto é, a cultura que esmaga toda manifestação de diversidade sexual na sociedade. É a heteronormatividade que censura beijos gays nas novelas, que proíbe as escolas tradicionais de abordar a homossexualidade de maneira positiva, que força os meninos a usarem azul e as meninas, rosa. E essa cultura perversa que nega às pessoas LGBT mais de 70 direitos, como o de construir família e patrimônio, e estimula o assassinato e o suicídio de pessoas LGBT. Uma cultura fruto do machismo e da xenofobia, opressões que alimentam o sistema capitalista.

Apoiar a cultura LGBT é dar ferramentas para que o jovem LGBT se expresse e construa a cultura na qual prefere viver. É estimular esses jovens a encontrar a felicidade na diversidade, na construção de suas verdadeiras identidades, sem precisar fingir que são heteros.

Como diz Célio Turino, criador dos Pontos de Cultura, o nome surgiu do discurso de posse do ministro Gilberto Gil, que falava em “um do-in antropológico, um massageamento de pontos vitais da Nação”. A Nação para a qual olhamos não é um conjunto de estereótipos e tradições inventadas. É um organismo vivo, pulsante, envolvido em contradições e que necessita ser constantemente energizado e equilibrado.

É dessa acupuntura social que a Escola Jovem LGBT é parte. Ou seja, o que está em questão não é o que vamos ensinar, mas, sim, o que todos nós, brasileiros, vamos aprender com essa nova juventude gay.

Não seria competente para uma resposta tão despida de preconceitos. Adiro à mesma. Que nessa quarta-feira ajudemos encontrar pontos que mereçam um acupunturar. Amanhã nos lemos aqui, uma vez mais.

4 comentários:

  1. Muy querido Profesor Chassot,
    Muy interesante su tema de hoy, que da para reflexionar mucho.
    Todo lo diferente causa temor, no tengo del todo claro por qué, puede ser que sea parte de lo instintivo, como un mecanismo arcaico de sobrevivencia. Algo que la cultura ~con un tinte dominantemente machista~ ha sabido explotar. Así como usted ayer aludía a los preconceptos frente a las "impurezas" de la mujer (un hecho biológico que todas en esta especie compartimos y sin el cual no sería posible la vida), la resistencia a reconocer a los demás elecciones distintas no sólo limita su libertad, sino que expresa algo ~para mí~ más importante: que alguien se atribuye el “poder” de decidir aquello que es válido. Llámese ese ‘alguien’ estado, sociedad, iglesia o escuela. Hay mucho hilo aún para desliar el ovillo, pero...talvez en otro momento.
    ¡Que tenga un lindo día!

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  2. Muy apreciada Matilde,
    ~~ y permítame hacer copia a Dra. Claudia Glavam que ha catalizado esa oportuna reflexión ~~
    primero mis atenciosos agradecimientos por tenerla como lectora y también como tan atenta comentadora desde el Ecuador en ese blogue. En ese espacio la pluralidad de opinión que ser una marca, como también se abomina los fundamentalismos de cualquier especie. Así, comparto contigo de la importancia de ese tema para reflexión.
    Parece que tú has traído un punto clave: si ~~ como he escrito ayer ~~ la menstruación o la sangre de parto tornaba una mujer impura, cuanto aunque debemos hacer modificaciones en nuestros pensamientos acerca de aceptar las opciones sexuales del otro.
    Una vez gracias por su presencia aquí,
    attico chassot

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  3. Mestre Chassot, já que, mais uma vez, o blogspot negou-se a aceitar meu comentário, tento repetir aqui parte do que eu disse na quarta-feira.

    É realmente estimulante ao pensamento a ideia de uma escola voltada para o público GLBT, pois trata-se de um grupo que, embora grande, continua segregado.

    Porém, minha visão sobre esse tipo de instituição é um pouco crítica demais. Imaginemos como seria alarmado na mídia se surgisse a notícia de uma escola declaradamente voltada para o público de etnia branca. Ou, ainda mais restrito: ao público de etnia branca, de orientação católica, heterosexual e de classe socio-econômica alta? Oficialmente, uma instituição como essa seria alvo de críticas, por ser segregacionista.

    O mesmo ocorre com essa escola GLBT, por mais que haja abertura para heterosexuais: por tentar abranger um grupo específico, acaba segregando outros, mesmo que essa não seja a intenção. é complicado, mas é isso que traz, também, críticas aoprojeto, embora eu seja favorável a intenção da proposta.

    Ótimo dia.

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  4. Meu caro Marcos,
    uma vez mais não sei a que atribuir a censura que te fez o blogspot. Valeu chegares depois, pois trazes como sempre bem postas considerações. Mesmo que aplauda a proposta, como tu, temo a auto-exclusão de alguns grupos. Parece não ser essa a proposta da Escola aqui trazida. Ela centrará seus estudos na cultura GLBT, mas será multicultural para o público que a frequentar.
    Faço cópia de tua mensagem à Claudia que com propriedade desencadeou a discussão, pois a postagem se faz com atraso.
    Um muito bom dia
    attico chassot

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