sábado, 23 de janeiro de 2010

23* Philip Roth na dica de leitura

Porto Alegre Ano 4 # 1269

Para um sábado de férias não falta assunto para dica de leitura, especialmente depois do texto trazido ontem aqui que tinha como mote: férias de leituras com leituras de férias. O livro que apresento hoje foi o presente que recebi no último Natal da Laura; li nessa semana. Mas devo dizer que ainda estou muito encharcado com as leituras da tríade de Maximo Górki que foi resenhada nos sábados 02 / 09 / 16 de janeiro. Se houver algum leitor que chega aqui mais recentemente permito-me sugerir uma visitação às blogadas dos três sábados de janeiro. Há nelas algo sumarento.

Hoje a dica de leitura é Indignação que tem esta ficha bibliográfica:

Indignação. ROTH, Philip. [Indignation]. Tradução: Jorio Dauster. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, 176 p. Preço sugerido R$ 36,00 ISBN: 978-85-359-0360-7

Já há muito sou leitor de Philip Milton Roth (Newark, Nova Jersey, 19 de março de 1933). Ele é um romancista estadunidense que marca no seu fazer literatura a sua de origem judaica. A cada ano, por ocasião da outorga do Nobel de literatura seu nome aparece como possibilidade, por ser considerado um dos maiores escritores da segunda metade do século 20. É conhecido, sobretudo pelos romances, embora também tenha escrito contos e ensaios.

Entre as suas obras mais conhecidas encontra-se a coleção de contos «Goodbye, Columbus», de 1959, a novela «O complexo de Portnoy» (1969), e a sua trilogia americana, publicada na década de 1990, composta pelas novelas «Pastoral Americana» (1997), «Casei com um comunista» (1998) e «A Mancha humana» (2000).

Muitas das suas obras refletem os problemas de assimilação e identidade dos judeus dos Estados Unidos, o que o vincula a outros autores estadunidenses como Saul Bellow, laureado com o Nobel de Literatura de 1976, ou Bernard Malamud, que também tratam nas suas obras a experiência dos judeus estadunidenses.

Um dos maiores escritores americanos da atualidade, é autor de mais de vinte romances. Recebeu, em 1998, a Medalha Nacional das Artes na Casa Branca e, em 2002, conquistou a mais elevada premiação concedida pela Academia Americana de Artes e Letras, a Medalha de Ouro de Ficção. Em 2005, Roth tornou-se também o terceiro escritor vivo a ter sua obra publicada numa edição abrangente e definitiva da Library of America. Ganhou duas vezes o Prêmio Nacional do Livro e o Prêmio do Círculo Nacional de Críticos Literários. Em 2007, ganhou o Prêmio PEN/Faulkner pela terceira vez e o primeiro PEN/Saul Bellow

Em Indignação temos a experiência iniciática de um jovem de dezoito anos, Marcus Messner, nascido e criado em Newark, Nova Jersey, esbanjando vigor, ambição, ousadia e desejos irrefreáveis ao ingressar na vida adulta. Se conferirmos esse detalhes principais do personagem que se narra no livro, vemos extrema semelhança com seu criador. Não sei o quanto a obra é autobiográfica, em muitos relatos.
Filho único de um açougueiro kosher superprotetor, Messner busca uma faculdade do Meio-Oeste americano, bem longe de casa, o que lhe permite escapar da sufocante vigilância do pai, da medíocre universidade local onde cursara o primeiro ano e de suas funções como ajudante no açougue. Corre o ano de 1951, e os Estados Unidos enfrentam uma guerra cruenta na Coreia, conflito que paira como ameaça letal sobre o agora aluno do segundo ano de direito em risco de ser convocado para lutar no front, caso não consiga se destacar nos estudos acadêmicos e no curso para o oficialato. Furtando-se, pois, a vícios, prazeres e uma vida social universitária, o personagem-narrador se entrega aos estudos de forma a jamais tirar menos que 10 em todas as matérias.
Entretanto, um poderoso obstáculo se interpõe nos planos de Messner: seu próprio temperamento, irredutível a convenções hipócritas, como assistir a preleções obrigatórias sobre a Bíblia na igreja evangélica do campus e participar do mundinho das fraternidades. Isto, sem contar a irrupção anárquica do sexo e do amor em sua vida, na figura tão adorável quanto enigmática de sua colega de classe Olivia Hutton.
Indignação demonstra com sutil maestria as vias insuspeitas que conduzem eventos e escolhas aparentemente banais na vida de um jovem a resultados de uma gravidade desproporcional. Roth exibe neste romance curto, mas de enorme densidade humana, social, política e literária, um inconformismo explosivo de adolescente em busca de seus próprios caminhos na vida, alguns dos quais poderão incitar a ira vingativa de uma sociedade conservadora gerida por mentes tacanhas.

Chama-nos a atenção o conservadorismo da Universidade onde Marcus estuda. Uma universidade leiga que impõe a suas alunas e seus alunos, especialmente os internos, rígidos padrões de costume de uma igreja batista conservadora e fundamentalista, onde cada estudante deve assistir a 40 monocórdios cultos anuais, havendo um comércio entre os estudantes que vedem suas presenças aos revoltados que não querem se submeter aos sermões.

Uma das sutilezas de “Indignação” é que jamais nos é permitido perceber o que exatamente impulsiona Markie, nos níveis mais profundos. Ainda que ele seja reconhecido como excepcionalmente inteligente e trabalhador e seja convidado a se integrar às fraternidades judaica e cristã da universidade, prefere se manter rigidamente distante de todas as seduções.

Dedica-se aos estudos com uma obsessão comparável à de seu pai. Mesmo quando sua aparente misoginia é contestada pelo “diretor de alunos” da instituição, recusa-se a ceder.

Em um confronto esplêndido, Markie cita de forma extensa e fiel uma polêmica de Bertrand Russell sobre o ateísmo e depois vomita contra o vidro de uma das fotos emolduradas que enfeitam a parede do gabinete diretor, mostrando a equipe de futebol de Winesburg que ganhou, invicta, um campeonato em 1924. Como sempre, não se pode acusar Philip Roth de excesso de delicadeza.
"Em Indignação o poder e a intensidade de Philip Roth parecem ampliados [...] Seu segredo é a extrema confiança como contador de histórias - e, paradoxalmente, sua humildade." - The New York Times Rewiew.

Depois desta sugestão apenas adito votos de que o fim de semana prossiga maravilhoso. Prometo para a blogada dominical algo muito especial. Até então.

3 comentários:

  1. Mestre Chassot, mesmo atrasado, permito-me dizer que essa dica de leitura parece, como o senhor por vezes diz, sumarenta.
    Nunca li nada escrito por Philip Roth, e "Indignação" parece-me uma boa forma de iniciar a leitura da obra deste autor.
    Ótimo dia.

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  2. Meu caro Marcos,
    é um autor que merece a ser lido.
    Terminei hoje aquele que será a dica de sábado: Amós Oz. Já circulou muito neste blogue.
    Seu último livro é excelente.
    Obrigado por reapareceres
    Nunca é tarde,
    attico chassot

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