terça-feira, 12 de janeiro de 2010

12* Acerca da velocidade com que passa o tempo


Porto Alegre Ano 4 # 1258

Manhã ensolarada e com promessa de dia muito quente. A leitura do jornal papel foi no jardim. Este também foi o cenário, onde li, até começar esta terça-feira, “Minhas Universidades’ o terceiro volume da tríade gorkiana. Anuncio surpresas acerca desse título na dica de sábado.

Dois prestimosos comentaristas deste blogue – Marcos Vinicius e Professor Luís – trouxeram nessa semana comentários acerca do tempo. É senso comum dizermos que, à medida que maturamos em anos, o tempo parece que passa cada vez mais rápido. Claro que para o tempo medido pelo deus Cronos, não há diferença. Mas se considerarmos os tempos medidos por Cairós, a situação ‘aparente’ tem uma lógica.

Olhemo-nos em dois tempos de nossa história pessoal. Quando tínhamos 10 anos e quando tínhamos (ou teremos) 50 anos. No primeiro caso, os 12 meses entre dois natais demoravam muito mais que os mesmos 12 meses no segundo caso. Ocorre que no primeiro caso, os 12 meses corresponderam a 0,1 décimo de nossa vida e no segundo, esses mesmos 12 meses, correspondem/corresponderão a 0,02; ou 1/10 e 1/50. A primeira fração é cinco vezes maior que a segunda. Assim, parece haver certa lógica nisso. Posso dizer, por exemplo, que, hoje, doze meses de minha vida são sete vezes menor que os mesmos 12 meses correspondentes da Maria Antônia, minha neta que tem 10 anos, e são 35 vezes menores que os doze meses do Pedro que tem meio ano. Fiz arredondamentos que não comprometem análises.

Hoje dizemos que as vidas de muitos de nós são controladas pelo nosso PC – Personal Computer – nome muito bem posto. Há sempre um vigilante e atento computador instalado em nossas casas e sempre nos recordando que temos que trabalhar. Ele está sempre nos apresentando novos fazeres, mesmo nos fins de semana e nas férias. Basta, por exemplo, consultar o correio eletrônico, que já recebemos algumas tarefas que se aditam em nossas sempre exprimidas agendas. Por exemplo, responder a um orientando que nos traz algumas questões, ou nos manda capítulo da tese ou dissertação, esperando (logo) nossos comentários.

Quando recebemos uma mensagem de um aluno, a presença de um clipe anunciando um anexo pode-se antecipar que uma agenda que estava quase vencida, de novo recebe um adendo de tarefas por fazer. E se a mensagem for daquelas muito pesadas, preparemo-nos que o calhau não será fácil. Isso não é diferente quando subitamente nos chegam artigos de revistas para dar parecer ou trabalhos de eventos científicos para avaliar. Aliás, tanto em revistas como em artigos de congressos, não apenas a submissão, mas também a avaliação é on-line. Assim, o sistema de controle é ainda mais eficiente. Surge sempre mais um trabalho por realizar. A impressão que tenho é a de que estamos sempre devendo.

Mais recentemente com o uso de notebook que no acompanham em viagem vivemos

uma nova realidade. Estamos sempre como que levando nossa escrivaninha de trabalho e uma significativa parte de nossa biblioteca. Em uma sala de aeroporto, em ônibus em hotel temos quase os mesmos recursos de trabalhos que temos em casa.

No ‘Sete escritos sobre Educação e Ciência’ [no capítulo 6: A vingança da tecnologia] faço um comentário acerca da tão festejada e mesmo salutar flexibilização de nossos horários e de nossos locais de trabalho. Fabuloso isso, não!

Nossos empregadores não nos cobram mais pelo índice - adotando uma expressão nada aconselhável num blogue como esse, pelo uso da qual peço antecipadamente remissão -: “hora/bunda/cadeira” pois sabem que temos em casa, onde podemos trabalhar com mais conforto e mais independência, um muito atento feitor – mais rígido que o mais severo controlador de produtividade – que está continuamente nos chamando ao trabalho.

Lembram daquela musiquinha que aprendemos em nossa infância, vendo os sete anões cantando: “Eu vou, eu vou pra o trabalho, agora, eu vou!”? e com ela

fomos domesticados para a necessidade e a beleza de ir para o trabalho. Ela tem agora pelo menos duas realidades distintas. Aquela imensa legião que não tem emprego e aqueles que ficam em casa trabalhando, mais do que se fossem para ‘o meu trabalho’, como os anões da Branca de Neve.

O assunto sugerido pelos dois comentaristas ficou só no preâmbulo. Em outro momento quero falar do relógio.

Prometo voltar ao assunto. Desejo que essa terça-feira seja muito agradável. Para mim há algo que nela será venturoso. Vou almoçar com minha filha Ana Lúcia, que ainda não vi, ao vivo, esse ano.

6 comentários:

  1. Prof
    Estou feliz sou a primeira a comentar seu texto, com muita humildade ao lê-lo fiz uma retrospectiva e acabei descobrindo que o tempo está relacionado ao ponto de vista de quem o observa. Para mim, já está passando depressa, o que não acontece para minha neta Milena de 5 anos, que está sempre reclamando da demora da chegada de alguma data especial para ela...
    Foi muito interessante.
    Um abraço
    Eloí

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  2. Estimada Eloí,
    vibro com teu comentário,
    Plenamente de acordo: a passagem do tempo se tem a extensão dada pelo seu observador. Não parece um tempo imensamente logo aqueles minutos que esperamos, por exemplo, um elevador (especialmente se não temos indicações dos andares que são percorridos) por outro lado um tempo em que nos envolvemos com algo precioso parece, às vezes, fugaz. Por ter muito tempo os entre-natais para a Milena são longos.
    Para amanhã um convite para encontrares tempo lermos algo mais sobre o tempo
    Um afago do
    attico chassot

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  3. Mestre Chassot, podemos até ter algum crédito por influenciaá-lo a fazer do tempo a temática de sua blogada, mas as loas pela bela produção textual de hoje são suas.
    Confesso ter me surpreendido ao ver uma imagem da "Branca de Neve e os Sete Anões", mas, depois que li a relação entre o tempo, o trabalho e a música entoada peloss pequenos trabalhadores do conto infantil não pude conter um sorriso de surpresa e admiração com a bela tecelagem que o senhor contruiu.
    O tempo é algo que merece atenção especial, mas ele mesmo torna difícil essa tarefa, uma vez que, paradoxalmente, há cada vez menos tempo para se pensar no tempo. É algo complicado, mas que todos nós, de uma forma ou outra, vivenciamos com frequência.

    Na expectativa pelo nosso encontro na sexta-feira, desejo-lhe um ótimo dia.

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  4. Meu caro Marcos,
    dentro de mais umas horas podes dizer ‘é depois de amanhã o esperado dia.’
    Estou curtindo estar nesta sexta-feira tua formatura.
    Não sei se as crianças hoje – nesse muito em falta trabalho – são domesticadas com cançãozinha que aprendemos.
    Muito obrigado por também ajudares na pauta deste blogue.
    A admiração do
    attico chassot

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  5. Mestre Chassot, tenho me tornado um leitor diário do seu blog. E hoje mais uma vez o senhor nos supreendeu com uma bela produção, uma bela linkagem.
    Estive pensando sobre a dimensão do tempo e do belo. Com essa dimensão "maluca" do tempo, que penso ser criada pelas tecnologias de alta velocidade, nosso tempo de espera diminui, queremos tudo o mais rápido possível.
    Gostei da relação do PC. Há poucos dias, em uma conversa, com um grupo de alunos, estive refletindo com eles a dimensão da virtualidade, com a ideia de que o virtual é bom se eu conseguir "desligar" ele no final do dia. E foi aí que consegui provocá-los sobre essa questão tão pertinente, que penso ter a ver com a temática do tempo.
    Também gosto de enfatizar, nessas discussões, a importância do tempo lento, que é o tempo da decodificação, da maturação, da reflexão. Pensamos muito, mas refletimos cada vez menos. E nessa perspectiva defendo uma "escola do tempo lento", do tempo de Kairós.
    Pois bem, voltando a ideia do belo. Acho que poucos de nós ainda conseguem parar para "degustar" uma imagem, uma paisagem, por longo tempo. Pois temos a ideia que tempo é negócio, tempo é dinheiro. E como se diz, negócio é a negação do ócio. Então aqui temos "nascendo" um grande problema.
    E quando digo isso, volto-me para a minha paixão que são os jardins. Eles me fazem contemplar a vida, o belo existente nas complexidades da natureza.

    Forte abraço,
    Luis.

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  6. Meu caro colega Luís,
    obrigado não apenas por desencadeares essa reflexão mas por ajudar a mantê-la.
    Penso como poderíamos ter uma Escola com marcada por ‘um tempo sem a dureza do relógio’ quando prezamos tanto a pontualidade.
    Precisamos relatos de experiências,
    Com muita expectativa,
    attico chassot

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