sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

08* Talvez ¿possa ser um Psicopata?


Porto Alegre Ano 4 # 1254

Uma sexta-feira, onde à noite compareço a formatura dos licenciando em Filosofia do Centro Universitário Metodista – IPA. Será muito grato estar com um grupo muito especial que por dois semestres fui professor de Políticas da Educação no Brasil e Prática Pedagógica. Ao lado desse registro acadêmico vale contar do algo cotidiano: as visitas muito queridas de ontem do Pedro e do André. Melhor que palavras mostro um tríptico – que está no final desta edição – , captado pelo André, que ao lado de fotógrafo a cada dia se revela um pai mais dedicado.

Já contei aqui – mas talvez valha recontar, na aurora desse 2010, que marca a abertura de meu 50º ano de magistério – que preparo um livro, que nos meus arquivos se chama 50tenário. Sonho vê-lo lançado em 13 de março de 2011, data que completo 50 anos como professor.

Ele está concebido para ter 50 capítulos – um para cada ano de 1961 a 2010 – onde faço reminiscência não apenas do ano capitular, mas me espraio a tempos passados (chego a minha infância na Estação Jacuí) e amealho vivências não apenas do professor, mas do pai, do avô, do cidadão, e especialmente, do sonhador. Já tenho vários capítulos pré-prontos. Outros estão em gestação, às vezes, modorrenta.

De vez em vez, aflora um assunto que jamais pensava falar e sequer podia imaginar que teria aí material para gerar um capítulo. Fico surpreso.

Nessa semana – fruindo esse período pré-férias (elas só começarão na sexta-feira, dia 15) onde as atividades são menos intensas, pois restam algumas aulas na pós-graduação – envolvi-me muito com a leitura do segundo volume da trilogia gorkiana: Infância, Ganhando Meu Pão e Minhas Universidades. No sábado pretérito fiz do primeiro volume a dica de leitura e já antecipo que amanhã ganhará espaço aqui o segundo volume Ganhando Meu Pão.

Quando nos inserimos densamente na autobiografia de escritor, e especialmente quando se está envolvido em mexer nos próprios baús que guardam memória, afortunadamente afloram boas sugestões.

Eis um excerto do 2º volume, quando Górki, nos seus 13 anos, conta da vida do dormitório em que vivia enquanto operário de oficina de ícones, que me é susgestivo: “Mais tarde, tendo prestado atenção às suas conversas, fiquei sabendo que eles falavam à noite daquilo mesmo que os homens gostam de conversar mesmo de dia: de Deus, da verdade, da felicidade, da estupidez e esperteza das mulheres, da avidez da gente rica e de toda a vida emaranhada, incompreensível! Eu sempre ouvia essas conversas com sofreguidão, elas me perturbavam, me agradava o fato de que os homens quase todos falavam de maneira idêntica: a vida é ruim. É preciso viver melhor!

Essa leitura fez-me aflorar algo que pensei valesse a pena eu trazer de minhas vivências: meu voyeurismo. Talvez primeiro devesse descaracterizar um pouco o significado ‘duro’ dicionarizado ao termo voyeurismo: psicopatologia; desordem sexual que consiste na observação de uma pessoa no ato de se despir, nua ou realizando atos sexuais e que não se sabe observada; mixoscopia. Derivação, por extensão de sentido: forma de curiosidade mórbida com relação ao que é privativo, privado ou íntimo.

Quando se diz que, por exemplo, que muitas pessoas apreciam programas do tipo Big Brother parece não se possa dizer que sejam psicopatas. Também uma ‘quase inocente’ espiadela à janela vizinha para acompanhar alguma possível ‘intimidade’ parece que não possa ser considerado uma tara ou algo mórbido. Como não sou da área psi, talvez esteja operando em causa própria. Assim devo dizer que não devo ser considerado como fazendo Escola.

Tenho com voyeurismo o desejo de ouvir conversas de outras pessoas, especialmente em ônibus, imaginar (tentar ouvir) o que possam estar conversando, por exemplo, dois papeleiros ou duas prostitutas. Tenho algumas recordações do quanto era atento, há quase 50 anos, às conversas dos funcionários da Siderúrgica que embarcavam no ônibus da Central, que me trazia á mais de 22h, das aulas do Colégio Pedro Schneider em 1963/65. Eu sonhava então em ter um carro para não viajar em ônibus superlotado e fedorento; eles sonhavam com o salário da semana para fazerem uma farra. Quando era professor no Campus do Vale da UFRGS ‘aprendia’ muito na oitiva de conversas de passageiros. Alguns pela continuada frequência de horários me eram bastante familiares, Eu aguardava nos dias seguintes a continuação das tramas familiares.

Parece que teria aqui assunto para um capítulo do 50tenário onde contaria algo de uma carona que uma vez ofereci a uma moça. Depois uma viajada de mais de 40 quilômetros, soube tratar-se de meretriz que prestava seus serviços a caminhoneiros às margens das rodovias.

Acredito que há uma dose de voyeurismo permitida para conhecer outros mundos e saber que a distância entre os assim chamados ‘normais’ e aqueles ‘diferentes’ é menor que imaginamos. Os limites, linhas, barreiras, rótulos ou estratos que criamos para dividir o mundo em hemisférios, latitudes ou fracionar épocas são mais artificiais que imaginamos.

Com votos de um agradável shabath e um muito bom fim de semana, fica o convite para uma já anunciada dica de leitura, amanhã,




10 comentários:

  1. MESTRE! Fico contente em saber de mais uma publicação, já em preparação para 2011. Acredito que muitas dessas passagens por ti relatadas no Blog deverão fazer parte da saborosa obra. Aliás, esses teus relatos de particularidades são os que mais me induzem à leitura do Blog. Tens aqui um ansioso leitor à espera do lançamento. Abraço do JB

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  2. Meu caro Jairo,
    obrigado pelo prestígio que já ofereces ao 50tenário.
    Tomara que relatos do cotidiano possam rechear as discussões acerca de Educação que quero trazer.
    Com agradecimentos por tua visitação a esse blogue que deve muito a tua engenhosidade e criatividades,
    Com admiração
    attico chassot

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  3. Muy querido Profesor Chassot,
    Me parece que ~como usted bien señalar~ hay una diferencia sustancial entre el voyeurismo y la curiosidad ‘sana’, que se tiene como extensión del deseo por apropiarse del mundo que nos rodea. El “mirar” a otros es esencial en el aprendizaje, aprendemos de los demás, que nos sirven de modelos y referentes. El niño ve al padre y lo imita. Tal vez la línea sutil entre lo “normal” y lo “patológico” (clasificación que igualmente me revoluciona) sea el efecto mórbido: el grado de placer que cause hacerlo. Sin embargo, me parece entrar en honduras, ya que su actitud es tan voyeurista como la de nosotros, sus lectores, ¿no le parece?
    Temas para reflexionar y que usted ya ha señalado antes. Que tenga un lindo fin de semana, con "curiosidad" por su leer sus comentarios sobre Ganhando Meu Pão,

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  4. Muy apreciada lectora y siempre atenta comentarista Matilde,
    gracias por una persona de las áreas psi concordar conmigo que ha ‘una línea sutil entre lo “normal” y lo “patológico” ‘. Muy recientemente se ha reforzado en mi eso que ‘El “mirar” a otros es esencial en el aprendizaje, aprendemos de los demás, que nos sirven de modelos y referentes’. No puedo decir que Antonio o Pedro -- mis nietos menores -- hagan algo patológico cuando atentamente miran los otros. También nosotros adultos estamos siempre aprendiendo, y hicimos eso también con la observación de los otros. Logo ha un voyerismo saludable. Si, no hay que profundizar la discusión, pues entonces no vamos encontrar ninguna persona sana. Aquí decimos: “De médico, de poeta y de loco, todos tenemos un poco” .
    Alégrame que esperes por el segundo volumen de Górki.
    Deseo el mejor fin de semana,
    Con admiración un cariño de
    attico chassot

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  5. Mestre Chassot, a expectativa pela continuação do relato gorkiano é imensa. Como já falei, poucas foram as suas dicas de leitura que me entusiasmaram tanto com tão pequenos trechos transcritos.
    Quanto ao voyeurismo, acredito que a curiosidade faz parte do ser humano. Mas, como dizem os meus fraters Rosa Cruzes, ser curioso é ruim, o bom é ser um buscador. Acredito que o "normal" (e aqui fujo um pouco do meu ser pós-moderno) seja ser um buscador, um interessado em descobrir e aprender coisas novas, enquanto o vouyer patológico seja o curioso em excesso, que só quer saber por anseio.

    Lembrando-lhe que dia 15 de janeiro, às 20:00 horas, no Auditório do Campus Americano, será a formatura do Curso de Licenciatura em História, e sua presença é algo requisitado por muitos. Logo, o convite é reforçado.

    Ótimo dia.

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  6. Muito querido Marcos,
    adito algo a teu comentário quando retornei, há não muito, da formatura do curso de Licenciatura em Filosofia. Estava muito bonita. Quando já cumpri meu 5º semestre no Centro Universitário Metodista - IPA essa foi a primeira colação de grau que assisti na instituição. Recebi comovida homenagem na fala da oradora da turma, Evoquei formaturas que preside enquanto Diretor do Instituto de Química da UFRGS. Preparo-me para a tua na próxima sexta-feira.
    Amanhã certamente apreciarás Górki 2. Hoje comecei a ler o volume 3.
    Eis mais uma revelação que aflora: tua ligação com os Rosa Cruzes. Vejo que aceitas o voyeurismo como algo inato ao ser humano: a bisca do conhecer(-se).
    Na expectativa do sábado, votos de uma boa noite do
    attico chassot

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  7. Querido Chassot,
    Não sabe como aprecio ler tuas escritas. Estou tão feliz por saber que seremos contemplados em 2011 com mais estra alegria e já estou curiosa para ler. Poxa como você tem novidades para nós.
    Quem é esse bebê lindo que aparece contigo nas fotos?
    Beijos e aguardo anciosa para o 50tenário.

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  8. Muito querida Joélia,
    obrigado por nas lindas praias da Bahia visitar-me em blogadas mais distantes. Mais prova que página de blogue não é como jornal velho, só serve para enrolar peixe. O menino da foto é meu neto Pedro, nascido no dia de São Pedro de 2009. Ele é filho da Tatiana e do meu filho André, que é fotógrafo e é o autor do tríptico.
    Tomara que eu cumpra as promessas quanto ao 50tinha.
    Um afago e boas curtidas das praias baianas,
    attico chassot

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  9. Inesquecível Chassot,
    Sempre dou uma olhadinha nos blogs, que digamos, não pude ler no dia. Estou em uma pousada que do "quintal" podemos realizar várias trilhas que nos dão a lugares emocionantes.
    Beijos com saudades.

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  10. Querida Joélia,
    vibro com as oportunidades de férias que tem e me envaideço em te fazer companhia aí,
    Um afago do

    attico chassot

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