sábado, 19 de dezembro de 2009

Algo sobre o anarquismo epistemológico

Porto Alegre Ano 4 # 1234

Abro essa blogada que, por ser sabatina, fala em livro. Isso enseja renovar uma vez mais algo lúdico trazido há duas semanas:

Queria convidar que conhecessem a proposta de desafio trazida aqui na edição do domingo dia 6. Foram oferecidos 20 exemplares de “A Ciência é masculina?” autografados. Até o momento dois leitores enviaram textos fazendo jus ao prêmio. Restam 17. Confira o regulamento em Algo apetecível para um domingo, com um desafio, na edição 1222 de 06DEZ1009 e ganhe o presente de Natal oferecido por este blogue.

O presente que estou oferecendo pode não ter a dimensão trazida pelo leitor Alexandre Rezende Teixeira que amealhou o terceiro exemplar e escreveu: “Sinto me honrado em ser agraciado com um exemplar do Ciência é Masculina? Ainda mais autografado pelo caríssimo professor o qual acompanho em seu blog desde de 2007 e desde a minha graduação tenho como base os seus textos para discussões em sala de aula. Com certeza é o melhor presente de natal que já ganhei. [...] Mais uma vez muito obrigado pelo precioso presente!

Ainda um comentário acerca de minha estada ontem pela manhã no Programa de Pós Graduação em Educação Científica e Tecnológica da Universidade Federal de Santa Catarina para a defesa da tese “Leituras e formação de leitores em aulas de Química no ensino médio” da agora já doutora Cristhiane Cunha Flôr. Foi um excelente momento acadêmico. Uma vez mais, me foi oportunizado um momento de embate intelectual com colegas que se envolvem com Educação nas Ciências. Teve limitações com horário de meu voo (seria às 13h05min), que depois terminou saindo com mais de uma hora atrasado; isso não foi significativo.

Foi muito bom participar dessa atividade. Trago duas cenas do momento que ainda guarda semelhanças, até pela conformação física do cenário, a um auto de inquisição medieval. Na primeira das fotos se vêem os cinco membros da banca (com nomes completos citados ontem): Professores doutores Ademir da UFSC, eu do CUM-IPA, Salete da USP, Joanez da UFPR e Suzani da UFSC (orientadora). Estavam também na platéia, e participaram da inquirição, os suplentes Irlan e Sylvia. Na outra foto se vê a neo-doutora que a conjuntura do ato colocou em local para ‘sofrer’ os autos inquisitoriais.

Permito-me um registro: quando da qualificação disse “Quando se faz uma tese crítica como esta, que envolve discussões que são relevantes acerca problemas de inclusão à cidadania de alunas e alunos valendo-se de uma Educação Química [...] não se pode esbanjar papel como foi feito nessa versão preliminar da proposta de tese. [...] Poderia haver redução no espaço entre títulos, diminuição
dos espaços entre as linhas e nas indentações (uma boa maneira de nos insurgirmos contra a ditadura da ABNT) e, especialmente, a tese poderia ter sido impressa em frente e verso”. É previsível imaginar o quanto me senti contemplado ao receber a tese e ver consideradas minhas sugestões. Calculei que com edição em frente e verso, redução do tamanho da fonte e diminuição das indentações uma economia de no mínimo 1.000 folhas. A natureza agradece também pela opção de ter sido usado papel reciclado. Temos nessa ação uma prova material de uma candidata que considerou o que a Banca sugeriu. Mas esse é apenas um indicador físico.

Mas vamos à dica de leitura sabatina. Nesta terça-feira o leitor Gustavo Soares escreveu pedindo algo mais sobre ‘o anarquismo’ epistemológico de Paul Feyerabend. Não vou comentar, por hora o “Contra o método’. Fica uma dívida. Mas quero falar de uma pérola. Talvez o menor livro de minha biblioteca. Tem 92 p. nas dimensões de 140 X 114 mm. Eis a referência:

TERRA, Paulo, Pequeno Manual do anarquista epistemológico, Ilhéus: Editus-Editora da UESC, 2000.

O meu opúsculo leva uma amável dedicatória de minha querida colega Joélia Martins da UESB de Jequié na Bahia. Ela foi há um tempo assídua comentadora desse blog. Por hora se faz silente.

Este livrinho é um dos melhores comentários da obra feyerabendiana. O Prof. Dr. Paulo Terra estudou biologia e dedica-se à zoologia, sobretudo à entomologia e tem especial interesse pelos louva-a-deus. Trabalha na Universidade Estadual de Santa Cruz na Bahia.

Vou dar a palavra a Paulo Terra para falar sobre o tema em artigo publicado Cadernos Brasileiro de Ensino de Física, v. 19, n.2: p.208-218, ago. 2002: “As ideias de Paul Karl Feyerabend (1924-1994) parecem causar sensível desconforto aos admiradores e defensores da ciência. Não obstante, o grande número de leitores de Contra o método [Against method, 1975], obra principal do filósofo austríaco, há a tendência de considerar suas idéias como desprovidas de relação com a realidade e, até mesmo, como perigosas. Essa afirmação discutível, chega a ser suspeita quando da contemplação desta foto que mostra o cotidiano de um tão polêmico autor.

Basta mencionar, por exemplo, que nas páginas da muito influente e respeitada revista Nature, Feyerabend foi qualificado como o mais perigoso inimigo da ciência (Theocharis & Psimopoulos, 1987: 596). Feyerabend é alvo de atenção e, paradoxalmente, de desconsideração. É muito citado, criticado, admirado, odiado, mas não parece ter mais que a fama de criador de frases exóticas”.

Sobre o livro que a dica de leitura de hoje o autor diz: Poucos prazeres intelectuais há que se compare a leitura de Contra o método. [...] Nada mais delicioso do que acompanhar a mestria do filósofo em tomar ideias, muitas quais nos são caras desde a infância, e evidenciar como são elas desarrazoadas e até mesmo prejudiciais a vida humana. O presente opúsculo trata de algumas idéias fundamentai da filosofia de Feyerabend expostas em Contra o método. Como nada substitui, certamente, o encanto de ler Contra o método, as páginas que se seguem não dispensam o livro do filósofo austríaco e nem mesmo constituem introdução ao seu pensamento.Dar-me-ei por satisfeito se este despretensioso livro estimular alguém a ir beber na fonte original do anarquismo epistemológico, e, mais ainda, se incenti.var alguém a refazer esse caminho”.

Acredito que como dica de leitura, já estimulei meus leitores a ler o livrinho de Paulo S. Terra. O endereço da Editus-Editora da UESC é www.uescba.com.br. A página não é das melhores para buscar o livro, mas vale acessar o fale conosco e experimentar uma encomenda de uma jóia que custou/custa R$ 5,00..

Quem quiser ir logo à fonte, aqui estão referências da edição brasileira mais recente:

FEYERABEND, Paul. Contra o método. São Paulo: Editora da UNESP, 2007

Pretendo voltar a valar no assunto nos próximos dias. Um muito bom sábado e um fim de semana saboroso para despedir essa pluviosa primavera já na expectativa do verão que começa segunda-feira.

4 comentários:

  1. Mestre Chassot, a dependência tecnológica impediu que eu postasse assiduamente nas blogadas de sábado e domingo, pois estava na praia, e sem acesso a internet. Porém, antes tarde do que nunca.
    Uma dica de leitura sobre Paul Feyerabend sempre é bem vinda, ainda mais para aqueles que, como eu e o senhor, somos adeptos da visão pós-moderna da ciência, da proposta de falseabilidade de T. Kuhn, entre outros. O preço da obra parece tentador, e é quase uma obrigação tê-lo na estante.
    Ótimo dia.

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  2. Meu caro Marcos,
    hoje quando estamos sem conexão com a internet nos planos se esboroam. Entendes um pouco minhas dificuldades em postar o blogue de tantos locais.
    Vou voltar breve a falar de Feyerabend nas dicas de leituras.
    Que bom que voltas com teus comentários.
    Obrigado
    attico chassot

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  3. Inesquecível Chassot,
    Apesar de não está presente aqui, você sempre é citado nas minhas aulas.
    Tenho também o livro de Paulo Terra e é uma excelente leitura.
    não sei quantas estrelinhas perdi, mas pretendo recuperá-las.
    Seu blog está de parabéns,adorei todas as novidades. Ficou magnífico!
    Saudades!!!!

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  4. Querida Joélia,
    recuperaste agora todas as estrelas que pudesses ter uma vez perdido. O livro do Paulo Terra é precioso. No catálogo da UESC parece constar que está esgotado. Precisava comprar uns 10 exemplares. Se tiveres alguma informação conta-me.
    Um afago num quase natal
    attico chassot

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