sexta-feira, 8 de maio de 2020

08MAI2020 Há que aprender a chorar



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Já vencemos (na terça-feira) sete semanas desta inédita quarentena. 7x7=49 dias. Me lembro que minha mãe, quando me ensinava tabuada, dava ênfase — não sei o porquê — a esta multiplicação. Ainda hoje, de vez em vez, evoco a cena.
Nesta quarta-feira, postei em alguns grupos de comunicação do WhatsApp esta inserção: Minhas amigas e meus amigos! Não preciso dizer que estou com saudades de vocês. Porque isto vocês já sabem... Queria contar algo diferente: esta manhã, participei (de maneira remota, é claro!) em Marabá PA, por mais de 3 horas de uma reunião envolvendo cerca de 20 colegas professores, como eu, e mestrandos do Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências e Matemática da UNIFESSPA: esta tarde postei no grupo do PPGECM o que eu transcrevo para vocês a seguir: Gente muito querida! Sabem algo que a reunião dessa amanhã me ensinou? nestes tempos viróticos vamos ter que aprender a chorar juntos!
Com a avassaladora rapidação do aumento do número de óbitos, vitimados pelo Coronavírus cada vez mais os mortos se aproximam de nós. Quando era na China, parecia quase uma abstração. Depois na Europa, começamos ficar mais antenados. Agora, são nossos conhecidos (parentes, vizinhos, colegas, amigos...) e mesmo figuras públicas (filósofos, professores, autores, atores, atrizes, artistas...) como acontece nesta semana. Nos últimos três dias, diariamente, a cada dia, mais 600 pessoas foram a óbito (esta expressão, ora um modismo, me incomoda! Ela parece denotar um falso ato volitivo).
Há muitos rostos nos quais vemos rolar lágrimas. E não as podemos recolher. Vivemos um muito necessário isolamento social. Realmente, como me escreveu nesta quarta-feira, a Prof. Dra. Andréia Fernandes Salgueiro, da Unipampa, campus de Uruguaiana: Nestes tempos viróticos, há que aprender a chorar juntos. Estamos todos envolvidos em mundo em lágrimas. Há que aprendermos o consolar.
Uma observação lateral: nos saberes desta nova era da livecizeção, aprendi que em uma cabeça de alfinete, cabem 100 milhões do vírus que se faz o personagem central desta pandemia. Mesmo que no livro Alfabetização Científica: questões e desafios para educação, tenha escrito um capítulo Do fantasticamente pequeno ao fantasticamente grande, é difícil para mim imaginar as dimensões de um coronavírus.
Na reunião de quarta-feira, que referi antes, um dos pontos de pauta era acerca de exigências atividades acadêmicas remotas, neste momento no qual há ainda mais necessidade de afastamento social. Encaminhou-se, então, proposta pela não-exigência de qualquer atividades dos alunos (exceto aquelas voluntárias, acordadas em comum por discentes e docentes). Três dimensões embasaram a justificativa à proposta:
1) psicológica: em tempos lutuosos e/ou insanos nos quais convivemos, tanto alunos como professores não raro somos intelectualmente incapazes. Muitos de nós, nestas semanas, vivemos em uma quase esterilidade mental. É quase vedado produzir um parágrafo de um texto acadêmico submetido ao aguilhão do luto. Tu choras. Eu choro. Nós choramos.
2) técnica: não é uma pandemia, que de uma maneira mágica, confere a todos, de maneira universal, expertise em Educação à distância. Há que recordar também que nem todos têm acesso a recursos tecnológicos para tal. Vale recordar que um terço dos lares brasileiros não tem internet. Esta dimensão esta, mais extensamente na edição de 17ABR2020 deste blogue. Lembrei, que mesmos nós, na reunião em que estávamos participando, tivemos problemas técnicos. Um bom exemplo ocorreu ontem à noite: o presidente teve que recomeçar pela menos três vezes (depois destas desisti!) sua live para com gabolice relatar a visita que fez ao STF para pedir que deixe o povo trabalhar e isto podiam ratificar seus escudeiros-empresários que atestavam que seu capital estava diminuindo.
3) política: há que dizer não a propostas indecentes do governo às instituições públicas. Se quer barganhar verbas para as instituições que não aderirem ao necessário distanciamento social. Nas escolas de redes privadas (muitas delas ligadas a grupos alienígenas que fazem da Educação uma mercadoria) a situação não é diferente: há que transmitir conteúdos, para cumprir programas, para fazer dos pais devedores das mensalidades às escolas. Nesta situação ocorre, especialmente na Educação Básica, não raro um gasto duplo, pois nem todos pais, avós e/ou domésticas são capazes de se tornar professores num repente. Para assegurar que se transmita todo os conteúdos há famílias que contratam professores particulares.
Estas três dimensões são pertinentes na Educação Básica, na Graduação e na Pós-graduação.
A decisão da reunião foi que se possa orientar os alunos em atividades sem que estas tenham exigências de cobranças obrigatórias.
Adito meus votos de mais uma boa semana, o quanto tal é possível. Saúde a cada uma e cada um do Planeta Terra. Possamos nos ler de novo na próxima sexta-feira. Até então.

3 comentários:

  1. Muito boa semana para você também querido Chassot! Uma vasta consideração fizeste nesta edição... decorrendo a leitura alguns aspectos chamam mais atenção, a quantidade de vítimas diárias já no Brasil em função do fantasticamente pequeno coronavirus, o trabalho e as aulas remotas, dentro dessa adequação pela qual nos educadores, alunos, país... responsáveis... estamos vivenciando dia após dia e como conciliar nos diversos aspectos: psicológico, político etc... tudo isso! É um fantasticamente grande contexto de mudanças! Obrigada por trazer incentivo ao início do dia e da semana! Um abraço carinhoso, fique bem. Aliás, já está fera na receita do feijão e na limpeza da casa?

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  2. Saudações de apertos e de vigor pela saúde da Terra, meu bom e caro amigo Áttico! Quanto à pessoa abjeta - nas palavras de Márcia Tiburi - eu sequer consigo falar. Vivo uma espécie de "bloqueio" seguido de trauma e indignação. Se não é normal e é minha fraqueza, conto com as devidas desculpas. Perdoe-me. Sobre a EaD, vivemos por aqui - rede pública municipal de ensino fundamental I (1º ao 5º ano) a situação muito bem descrita por tuas palavras. Tenho contribuído com leituras para as crianças, como forma de incentivá-las e dizer que, também do lado de cá, vivemos o mesmo isolamento. Gratíssimo pelos votos e desejos que compartilhas pelo nosso estar bem. Do mesmo modo, envio energias pela tua boa e conservada saúde, dos membros e da cabeça, em especial. Carinhosamente, aquele abraço apertado!

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  3. Mestre querido!

    Assisti sua live no III SQIFE. Inspiradora e esclarecedora, como sempre! Mais do que nunca precisamos assestar nossos óculos da ciência! É sempre uma felicidade te ver e ouvir! Com muito carinho e admiração, Cris Flôr!

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