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segunda-feira, 11 de julho de 2011

11.- Soldador / solda/ solidariedade

Ano 5

Porto Alegre

Edição 1803

Hoje seria, ou melhor: é o aniversário de meu pai. ¿Por que retifiquei o presente: é? Em 2006, em memorável festa familiar, evocamos o seu centenário de nascimento. O mote foi “Afonso Oscar Chassot (1906-1987): Ele existiu e existe, pois narramos sua história”. A perpetuação de sua memória encanta filhos e netos que o conheceram e bisnetos e outros que se agregaram ao clã familiar.

Falando de família, um registro que me faz emocionado: Laura, filha da Gelsa –acompanhei

seu crescimento desde pequena – esta tarde, no Instituto de Letras da UFRGS, estará defendendo sua dissertação de mestrado. À direita há informações. Esta é uma conquista muito singular. Ela graduou-se em Ciências Jurídicas na UFRGS, com raro brilhantismo. Por um tempo trabalhou na área do Direito. Mas ser professora tornou-se desejo que acalentava. Como é fluente em inglês, aprimorado por ter vivido um ano nos Estados Unidos e feito, posteriormente, curso de formação de professores de língua inglesa, em Londres, passou a lecionar em escolas de idiomas e preparar profissionais de diferentes áreas para exames de proficiências e estágios nos exterior. Com o mestrado – onde investigou detidamente as relações docente/discentes em sala de aula, quando do aprendizado de uma língua adicional – ela se capacita a realizar mais uma etapa no seu ser professor: o magistério superior. Esta tarde vai ser emocionante ver a menina que pertence ao meu mundo familiar há mais de 24 anos defender sua dissertação de mestrado. Posso atestar o quanto o mestrado, especialmente seu trabalho de pesquisa, a envolveu com dedicação e rigor.

Há dias passado, em um dos blogues que leio diariamente, houve uma edição sobre o soldador. Meu colega Garin, ali se referia às aparatosas operações pirotécnicas das modernas soldagens. Aliás, serralheiros/soldadores são profissões em alta. Quase a cada dia, nos surpreendemos com novos gradeados fazendo aprisionamento de pessoas e de bens. Jardins de edifício, que antes se espraiavam até a calçada são – num relâmpago – cindidos por grades. Não há como não evocar as muralhas e fossos que protegiam os castelos medievais.

Hoje em um condomínio residencial, um item muito significativo nas despesas é a segurança. Se de repente, houvesse 100% de segurança, o número de desempregados gerados determinaria um caos social.

Mas porque o soldador de uma blogada de outrem é hoje assuntado aqui? Ocorre que aquele texto me remeteu a ferramentaria de meu pai. Aliás, outro dia o assunto foi talhadeira e ocorreu o mesmo. Desta ferramenta tenho um exemplar em meu acervo de saudades; está junto com plainas que vi produzir maravalhas maravilhado.

Meu pai, mesmo marceneiro, que trabalhava a madeira com amor, tinha em seu ferramental, artefatos que não eram próprios de sua profissão. Assim ele tinha um

diamante – que pelo preço e pelo nome – era das peças mais preciosa da oficina. Era uma

ferramenta de vidraceiro, e servia para cortar vidro. Havia também um soldador, algo próprio de um funileiro. Claro que o soldador não tinha o aparato nem a pirotecnia dos soldadores atuais. Assemelhava-se a ilustração neste texto. O prisma da extremidade era levado ao rubro nas chamas do fogão a lenha doméstico e servia para derreter barras de estanho ou solda.

Assim, a solda está duplamente em meu cotidiano. Como filho de um marceneiro aprendi as primeiras noções de ligas metálicas e de calor de fusão. Depois enquanto professor de Química por décadas ensinei ligas metálicas.

Mas o texto de meu colega levou-me a dicionários. Solda é nome de espécies botânica; encontrei ligas para soldar que desconhecia. O soldo que recebe o soldado é homógrafo com a 1ª pessoa do singular do presente do indicativo do verbo que expressa a ação de fazer algo soldado, homógrafa e homófona de quem recebe soldo.

Dei asa às leituras e releituras de solda. Algo soldado fica sólido e... veja meu voo: algo soldado sólido é solidário. Ratifica-se minha derivação, solidário vem de sólido. É saboroso brincar com as palavras.

Faço, uma vez mais, da dedicatória de “A ciência através dos tempos” circulando desde 1994 (23ª edição neste 2011) minha homenagem de saudades ao meu pai, no dia de 105º aniversário. Escolhi uma foto do dia do casamento em 20 de setembro de 1938:

Para Afonso Oscar Chassot (1906-1987), meu pai, que, mesmo nunca tendo visto seu nome impresso em um livro ou jornal, muito me ensinou:

a gostar de ouvir notícias,

instrumental importante para conhecer e entender a história,

e

a vibrar com a profissão,

marceneiro hábil que era, trabalhando a madeira com amor.

Para ele, este livro e estes versos,

adaptados da poeta Hannah Szenes (1921-1944):

Bendito o fósforo que ardeu e acendeu a fogueira!

Bendita a labareda que ardeu no âmago do coração!

Bendito o coração que soube parar com honra!


11 comentários:

  1. Caro Attico,

    permita-me soldar considerações a teu texto, tão peculiar sobre na exploração da palavra.
    Uma vez e outras mais, você nos ensinou que "os verdadeiros mortos são aqueles que são esquecidos". Essa frase penetrante ficou guardada comigo, devido a seu sentido tão profundo e correto. Teu pai certamente não é morto, pois muito dele vive em ti e na tua prática de viver. E viverá muitos outros dias, por teus registros que certamente muito durarão.
    Estou indo agora ao Grande Bazar, apresentá-lo aos meninos. Depois iremos fazer a travessia do Bósforo, a fim de encontrarmo-nos com a Ásia do outro lado.
    Carregarei comigo uma fração de água do Mar Negro, se for possível. Para os islâmicos, a água é fonte de vida. Para nós, ela carregará um ingrediente a mais: a saudade de dias fantásticos numa cultura milenar, tão rica e tão profusa que nos deixa uma dúvida: se existem mil culturas soldadas em uma ou se é uma mesma cultura dividida em mil?

    Grande abraço.

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  2. Caro Chassot,

    como te respondi, no comentário ao meu blog, é preciso refletir sobre o significado da morte. Meu pai, ferreiro, também deixou um arsenal de ferramentas.

    Emocionante a homenagem que fazer ao teu pai, que estavam perfilado e muito elegante no dia do casamento.

    Um grande abraço, e boa semana!

    Brasília, 11 de julho de 2011,

    Garin

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  3. Muito querido amigo Paulo Marcelo,
    um orgulho ter mais uma postagem tua desde Istambul. Desejo muito sucesso para ti e para estes meninos que, sob tua orientação, representam o Brasil.
    Obrigado pela carinhosa referência que fazes a meu pai.
    Curtam esta cidade: ela é quase mágica,

    attico chassot

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  4. Muito estimado colega Garin,
    é algo impressionante como uma foto com quase 73 anos se faz atual. Para ti, que a viste hoje a primeira vez ela poderia ser pensada como de ontem.
    Realmente se contamos a história dos nossos eles continuam conosco.
    Uma boa estada em lides conciliares aí me Brasília.
    Com estima e admiração
    attico chassot

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  5. Caro amigo Chassot.
    As pessoas queridas nunca morrem,pois para a memória afetiva não existe temporalidade. Seu pai estará sempre contigo!
    Aproveito a blogada de hoje para dar também parabéns à Laura, pela finalização do trabalho, e à Gelsa, que certamente deve estar muito orgulhosa.

    Abraços para todos vocês!
    Renato

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  6. Caro Chassot,
    Em primeiro, me comove sua homenagem ao pai já falecido, o qual ainda vive pois você o relembra em seus texto. Segundo, parabéns pela conquista que sua neta por afinidade conseguiu. E, finalmente, devido minha formação de tecnólogo mecânico, com especialização em motores a reação, não poderia deixar de cumprimentá-lo pelo gancho semântico entre soldador, solda e solidariedade. Parabéns! JAIR.

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  7. Meu caro Renato,
    obrigado pela referência a meu e aos cumprimentos pela Laura.
    Foi toda uma tarde de emoções.
    Sem corujice: ela foi brilhante
    Com estima
    attico chassot

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  8. Meu caro Jair,
    obrigado no compartir comigo emoções.
    Isso de brincar com palavras é gostoso.
    Com estima
    attico chassot

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  9. Attico querido,
    Obrigada pelo LINDO post. És parte fundamental desta conquista. Obrigada pelos anos todos acompanhando minha trajetória e vibrando.
    És um BAITA exemplo de professor apaixonado e incansável na busca e troca de conhecimento.
    Com gratidão,
    Laura

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  10. Atenciosa Raquel,
    obrigado pela referência a meu blogue.
    O assunto que referiste não tem nada a ver com a remessa que propuseste.
    Meu blogue busca fazer alfabetização científica.
    Tem cerca de uma centena de visitas diárias no Brasil e mais uma dezena no exterior, portanto muito modesto.
    Não vejo assim como poderíamos ter uma parceria.
    Atenciosamente


    attico chassot

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