sexta-feira, 16 de maio de 2025

***** O QUE É CIENCIA, AFINAL? *****

 

    ANO 17

09   07/05/2024

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Livraria virtual

HABEMUS PAPAM

      EDIÇÃO

       2027

A quinto mês deste 2025 já passa da metade. Sinto que há que virar a chave neste quase término do primeiro semestre deste 2025. A morte do Papa Francisco passou. A fumaça branca já tem mais de um mês e não raro parece que o habemus Papam ainda nos quer lembrar que Leão 14 tem sorrisos marcados com novidades. Realmente, um mês de blogar papal é suficiente. As quatro últimas edições foram completamente papais (18ABR, 25ABR, 03MAI e 09MAI. Houve problemas técnicos de editoração. A (im)previsível de alguns eventos descritos. Talvez, valha a pena reolha-las. 

Aprendemos, por exemplo, que Gregor Mendel e Martin Luther foram agostinianos como é, agora o Papa Leão 14, conhecido universalmente como Santo Agostinho  de Hipona  (354 - 430), foi um dos mais importantes teólogos e filósofos nos primeiros séculos do cristianismo, cujas obras foram muito influentes no desenvolvimento do cristianismo e filosofia ocidental. Suas obras-primas são De Civitate Dei ("A Cidade de Deus") e "Confissões", ambas ainda muito estudadas atualmente. O pai dele, Patrício era um pagão, embora converteu-se para cristianismo em seu leito de morte. A mãe dele, Santa Mônica, foi uma cristã e criou Agostinho na fé, embora ele não fosse batizado até ser adulto.

O plenilúnio da Semana Santa (palavra com sonoridade ímpar que traduz um fenômeno astronômico que não raro nos embriaga no mundo da lua) passou como uma noite nublada. Tomo alguns acertos de uma edição recente e posto mais arrumadinhos que nos quatro blogues anteriores. 

Na academia  tenho dito que na pandemia perdemos a sala de aula. Outra perda: não temos mais a hegemonia dos semestres letivos. Tenho colegas em 2022 e outros estão começando o 2021/1. E o 2025 agora já aparenta ser o ano passado labelado com as marcas da vacuidade.

Há não muito, de maneira usual, dividíamos os humanos em analfabetos e alfabetizados. Estes, enquanto alfabetizados na língua materna, eram — de maneira usual — qualificados como capazes de saber interpretar (ou ser capazes de redigir) um bilhete ou ser um leitor de um livro. Também, aqui se pode falar em múltiplas alfabetizações além da usual no idioma de berço: alfabetização científica, alfabetização matemática, alfabetização geográfica, alfabetização musical, alfabetização astronômica, ou ainda, em idioma(s) estrangeiro(s) etc. Talvez, pudéssemos afirmar que a Alfabetização Científica — na acepção de ler o mundo por meio da linguagem que a Ciência o descreve — se faz numa assemblage*1 de diferentes alfabetizações. Mais recentemente, depois de milênios usando múltiplas linguagens escritas, incorporamos às nossas habilidades a alfabetização digital. Nesta especificidade, de maneira mais recorrente, caracterizamos três estratos: os nativos digitais, os imigrantes digitais e os alienígenas digitais.

Hoje, de vez em vez, encontramos situações nas quais avós se socorrem dos netos em múltiplos fazeres, nos quais são inábeis, como por exemplo, na operação de smartphones. Há crianças (e também adolescentes) que jamais escreveram com um lápis ou com uma caneta. Há os que nunca usaram suporte papel para escrever um bilhete ou uma carta ou mesmo para a redação de um trabalho escolar.

Há situações nas quais nativos digitais (= nascidos no século 21, parece ser uma adequada cronologia) se comunicam por escrito prescindindo inclusive da língua materna. Diálogos — usando apenas emojis2** — podem oportunizar uma frutuosa comunicação entre nativos digitais.

Um grupo, muito mais numeroso que o anterior, são os imigrantes digitais (= a imensa maioria dos nascidos no século 20) que em suas vidas foram (por muitos anos) analfabetos digitais, mas — não raro, com árduo aprendizado — deixaram de ser alienígenas e ingressaram na tribo dos nativos digitais. Muitos fizeram essa transição sem sotaques, inclusive, com a trazida de suas habilidades, enquanto estrangeiros, e aportaram riquezas ao universo digital. Esta migração também foi/é muito ampla. Há aqueles que são (quase) do paleolítico, pois foram alfabetizados em uma pedra de ardósia escrevendo nela com uma estilete da mesma pedra. Há cerca de um quarto de século escrevi um texto3*** no qual narrei, então, os meus cinquenta anos de meu escrevinhar, iniciado em uma lousa de ardósia, emoldurada em madeira, muito semelhantes — no formato físico    e em tamanho — aos atuais tabletes.

Há um terceiro grupo: os alienígenas digitais. Este é um grupo muito numeroso e, muitas vezes, invisibilizado. A maior parte daqueles que não ‘usam’ dos recursos do mundo digital, são, cada vez mais marginalizados no hodierno. Por exemplo: são incapazes de usar os mais comuns meios de transportes urbanos, pois não conseguem operar um aplicativo (um dos ícones do mundo digital). Nos tempos pandêmicos os alienígenas digitais foram/são cada vez mais excluídos também pela inabilidade no ensino remoto. É importante mencionar que no mundo da Educação a exclusão ocorre, de maneira significativa, pela impossibilidade de acesso a hardwares necessários para acessar as ‘benesses’ do mundo digital. Vale registrar dentre os diferentes hardware nenhum é de uso tão exclusivo quanto o smartphone. A propósito: tu já emprestaste o teu para alguém?   

Hoje há que lutarmos para ensejar a migração dos alienígenas digitais para fazê-los imigrantes digitais. Assim, como ninguém discorda que se faça campanhas de alfabetização na língua materna temos que acolher, como uma questão moral, os alienígenas e fazê-los imigrante digitais. Quando alguém imigra para um país que tem um Idioma diferente, o que busca aprender por primeiro.

A cada dia chegam centenas de migrante a nosso convívio que ainda são analfabetos digitais. Há que alfabetiza-los. Há que faze-los migrantes digitais e mágico e) fantástico mundo digital.

[1] * No Vale dos Vinhedos, na Serra Gaúcha, um enólogo explicou-me que uma assemblage consiste de vinho formado pela reunião controlada de dois ou mais varietais em proporções estudadas, Assim, por exemplo, cabernet sauvignon + merlot poderiam formar uma assemblage (o substantivo é feminino, numa evocação à assembleia), ou tannat + pinot noir, outra. Observaram como esses varietais (palavra não dicionarizada, usada para indicar tipos de cepas) têm nomes sonoros. Aqui a palavra cepa (que pode ser usado para designar cebola, a partir de seu nome genérico) esta sendo usada em duas acepções no ramo das videiras: 1) caule ou tronco da videira, de onde nascem os sarmentos; ou 2) estirpe, linhagem ou tronco de família; cepo. O Houaiss me diz que assemblage significa composição artística realizada com retalhos de papel ou tecido, objetos descartados, pedaços de madeira, pedras etc e diz que a etimologia é da palavra francesa homônima assemblage (datada de 1493) 'conjunto constituído de elementos ajustados uns aos outros'. Já que estou brincando com palavras transcorreram duas que são dissonantes. Sarmento: mesmo que em Porto Alegre tenha na família Sarmento Leite das mais importantes, sarmento ser ‘vara que a videira dá cada ano’ nunca me soa bem, talvez porque evoque mais um ‘cão sarnento’. Outra é cepo, que para mim sempre foi ‘pedaço de tronco cortado transversalmente’ e não um ramo de videira.

[2] * Emojis — originados no Japão — são ideogramas e smileys usados em mensagens eletrônicas e páginas web, cujo uso está se popularizando para além do país. Eles existem em diversos gêneros, incluindo: expressões faciais, objetos, lugares, animais e tipos de clima.

[3] * CHASSOT, Attico. Sobre o ferramental necessário para o trabalho de escrever. Estudos Leopoldenses, v.32, n.148, p.37-55,1996.

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