ANO 17*** 25/11/2022***EDIÇÃO 2061
Olho o tema das últimas blogadas. Restrinjo-me aquelas deste novembro: dias 04 / 11 / 18 e hoje 25. Há quem vai qualificá-las como ‘água com açúcar’ e mais não incomodam ninguém… Ao contrário… A Sílvia Chaves (UFPA, que refiro como autora dos melhores textos quando escreve acerca da Ciência) referiu acerca da última: Adorei a blogada dessa semana. Estás mais afiado que nunca na escrita. Mas um pouco ausente por aqui. Sinto falta de notícias tuas.
Agora com esta blogada de hoje não faltará quem me ache provocador. Estavam quietos há quatro anos! Ora, Lula nem assumiu e o MST já está colocando as unhas prá fora! Nada a ver. Quando aceitei passar nesta terça-feira pela manhã no Pontal não sabia nada dos últimos 30 anos sobre o estar aqui nesta terça-feira. Logo nada há de provocação neste último blogar de novembro. Neste ano completa 30 anos da ocupação, que resultou em uma importante e estratégica experiência de divisão da terra.
O blogar de hoje tem co-autoria: o Prof. Dr. Antônio Valmor de Campos. O Antônio que há mais de um quarto de século conheci enquanto professor do ensino médio fazia seleção para um mestrado em Educação. Ele era, então, um líder sindical do magistério público catarinense que percorria toda Santa Catarina. Pelo árduo fazer que fazia quase escrevo que palmilhava o Estado do litoral ao oeste.
Antônio e eu, que estivemos academicamente juntos na orientação do mestrado na Unisinos e na co-orientação do doutorado na UFSM, nunca comentamos nada acerca do que é nesta edição o assunto focal. Ao encerrarmos as atividades já meio-dia, o Antônio escreveu: Obrigado Chassot pela oportunidade de ouvir suas sempre precisas palavras! Desafiei-o: O que te parece o blogue da semana ser o estarmos hoje no Pontão? Meu interlocutor foi expedito: Que tal, o chão da Fazenda Annoni, revisitado pela derrubada das cercas e organização de um novo modelo de produção, agrícola, social e cultural. Parece que a História da cidade seria agraciada com reverência, muito provavelmente merecida. A parceria acadêmica se faz, de maneira imediata, generosa: humildade se faz presente, como sempre: Será que eu teria essa condição? Mas, se achares que posso contribuir, vamos juntos nessa caminhada.
O Antonio escreveu “Pontão é uma cidade conservadora/ reacionária (sempre respeitando os que em minoria mantém sua posição política ideológica, independente de percentual), mas no campo está o Instituto Educar, que em parceria com a UFFS (a Universidade da Fronteira Sul tem campus nos três estados da Região Sul, com Reitoria em Chapecó, SC) oferece o curso de Agronomia, com ênfase na agroecologia. As atividades da sumarenta terça-feira foram convividas por acadêmicos de 13 estados. A a apresentação do Chassot buscou mostrar o quanto a alfabetização digital: é um direito universal”.
“Eu gostaria de agradecer, emocionado ao Prof. Chassot, meu sempre querido mestre, pela oportunidade de colocar algumas palavras nesta situação, como segue:
O Instituto educar é uma das expressões da proposta educacional do MST, que tem investido em grandes projetos, de afirmação de alternativas de produção, de economia, de política, de educação e de cultura. Como acompanho o movimento há mais de três décadas, percebo o quanto, da luta pela terra brota a esperança por um outro mundo possível. Portanto, este curso de Agronomia é mais uma importante expressão e conquista do sonho do movimento e das suas lideranças. Isso o coloca no patamar de movimento contemporâneo, como metodologia voltada aos tempos atuais, com preocupações sociais, culturais, econômica, política, ambiental e de inclusão”.
“Importante registrar que esta turma funciona em regime de alternância (permanecem um tempo intensivo em aula e outro nas suas propriedades). No entanto, não se pode confundir este modelo - especialmente esta turma com EaD, pois os/as estudantes, são auto-organizados, em grupos, que discutem a organização, cuidam da disciplina do grupo, dos estudos e das atividades de alimentação (da produção ao preparo)”.
“Ainda, como educador, com admiração por Freire, registro o quanto gratificante está sendo esta experiência junto ao Curso de Agronomia. Estou próximo a completar 40 anos de sala de aula, e esta experiência tem coroado minha atuação, me fazendo professor e estudante, interagindo no ensinar e aprender cotidianamente com eles. Algumas aulas são realizadas antes de iniciar as atividades curriculares. E no componente que ministro os provoquei para uma verdadeira pesquisa participativa, os provocando a trazer para socializar com todas e todos, o domínio dos saberes tradicionais e sua contribuição nas ciências e na tecnologia, a partir da visão dos mais idosos”.
“Ao ver as apresentações de cada pesquisador/a, percebi a riqueza do material e sua amplitude nacional, o que me motivou a escrever um ensaio, para registrar essa coleta interessante de elementos destes 13 estados, representados, de alguma forma pelos/as estudantes da turma, sobre os saberes tradicionais na visão de familiares e vizinhos dos estudantes.
“Isso vem ao encontro do que Chassot, pontua acerca do momento atual, quando afirma que, hoje ser alfabetizado digitalmente é um pré-requisito para ser alfabetizado cientificamente. É hoje como aprender uma nova língua. Quando alguém imigra para um país que tem um Idioma diferente, o que busca aprender por primeiro? a linguagem do país. Talvez, aqui se possa falar em múltiplas alfabetizações além do usual letramento no idioma de berço: alfabetização científica, alfabetização matemática, alfabetização geográfica, alfabetização biológica, alfabetização digital, alfabetização em inteligência artificial, alfabetização musical, alfabetização astronômica, alfabetização astrológica, alfabetização geológica, alfabetização geográfica ou ainda, alfabetização em idioma(s) estrangeiro(s) etc.”
Aqui, retomo com uma questão fulcral: HÁ UMA DESTAS ALFABETIZAÇÕES QUE É PRÉ-REQUISITO às demais! Qual? uma alfabetização digital… assim ensejamos uma Alfabetização Científica como um direito humano para formarmos cidadãs e cidadãos envolvidos na construção de um pensamento crítico. Este pensamento crítico se adensa à medida que nos envolvemos com múltiplas alfabetizações ajudados pelo Professor Google, pelo Padre Google, pelo Pastor Google, pelo Químico Google, pelo Advogado Google, pelo Astrônomo Google, pelo Astrólogo Google, pelo Biólogo Google, pelo Cardiologista Google, pelo Enólogo Google… e outros dezenas mais. Cada conhecimento que amealhamos nos torna cada vez mais sujeitos indisciplinares.
Se uma das dimensões da Ciência é SER UMA LINGUAGEM talvez, pudéssemos afirmar que a Alfabetização Científica — na acepção de ler o mundo por meio da linguagem que a Ciência o descreve — se faz numa assemblage de diferentes alfabetizações [Assemblage: aprendemos essa palavra em rótulos de vinhos. No Vale dos Vinhedos, na Serra Gaúcha, um enólogo explica que uma assemblage consiste de um vinho formado pela reunião controlada de dois ou mais varietais em proporções estudadas].
Trago apenas um dado acerca da possibilidade de Antônio e eu sermos parceiros em consistentes diálogos acadêmicos. Dos 37 mestrandos que orientei [+ 9 doutores + dois co-doutorandos e um pós-doutor. É preciso justificar o número reduzido de doutores por eu ter feito doutorado, (1991/1994) quando já aposentado na UFRGS] sempre que desejo exemplificar uma dissertação que, com competência, arrola questões de pesquisa e as busca responder.
Logo nosso diálogo conhecia a CDHPF Comissão de Direitos Humanos de Passo Fundo e nos apropriávamos do texto: Anoni: uma história de resistência e luta pela democratização da terra que transcrevemos a seguir:
“Uma área com 9,3 mil hectares, capim e meia dúzia de cabeças de gado. Esta era a antiga fazenda Annoni, localizada no município de Pontão, na região Norte do Rio Grande do Sul, antes de ser ocupada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na madrugada do dia 29 de outubro de 1985. Conforme os assentados que fizeram parte da ocupação, o latifúndio tinha sido desapropriado em 1972 para assentar remanescentes da Hidrelétrica Passo Real, contudo, o processo entrou em morosidade na justiça. Treze anos depois, de forma organizada, mais de sete mil pessoas derrubaram as cercas do latifúndio e fizeram da Annoni um dos maiores acampamentos do MST no RS” https://cdhpf.org.br/artigos/2342/ .
Cabe encerrar este blogar. Sou grato ao Antônio por me desvelar o que não conhecia e também por fazer a escritura da parte substantiva desta edição. Hoje, há que lutarmos para ensejar a migração dos alienígenas digitais para fazê-los imigrantes digitais. Assim repito-me, como ninguém discorda que se faça campanhas de alfabetização na língua materna temos que acolher, como uma questão moral, os alienígenas e fazê-los imigrante digitais. Quando alguém imigra para um país que tem um idioma diferente, o que busca aprender por primeiro? Hoje vivemos num Brasil onde a linguagem digital é hegemônica e faz exclusões.
A cada dia chegam centenas de migrantes a nosso convívio que ainda são analfabetos digitais. Há que alfabetizá-los. Há que fazê-los migrantes para o mundo digital (como nós, a maioria dos leitores deste texto). Há que ensejar a muitos as benesses ofertadas por esse (quase mágico e) fantástico mundo digital.
***** Peço aos problemas técnicos de editoração. Tanto o Antônio como eu escrevemos em situações (quase) emergenciais.*****