sexta-feira, 30 de julho de 2021

30JULHO2021.- SERVIÇOS DO LAR


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É a última edição julina. O gélido julho se esvai sem deixar muitas saudades. A saudosa conjugação férias de julho já era. Agora a associação é outra: julho mais uma vez pandêmico’. Como ele se transvestirá em 2022?

O quase ocaso julino teve uma imensa tristeza e três alegrias memoráveis. No último domingo faleceu, em Curitiba, minha amorosa irmã Tile. Acabara de vencer um linfoma, superou o covide-19, mas debilitada não resistiu às sequelas ferreteadas pelos vencidos. Não fácil perder uma querideza de irmã de maneira imprevisível. Quantas delicias vividas juntos na infância e na adolescência.

Ontem encerrei um semestre de um seminário no doutorado do IFES em Vila Velha, no qual ajudei a realizar os planos do saudoso Sidnei. Ganhei homenagens: falas emocionadas, planos para continuarmos juntos no próximo semestre, presentes significativos. Outra alegria foi ontem uma live muito original no CEFET-RJ, destacando o quanto a alfabetização digital se faz pré-requisito à Alfabetização Científica, esta cada vez mais um direito para todos. Saber usar a linguagem digital é, talvez, mais exigente que a alfabetização em língua materna.


A terceira grande alegria:
Recebi na terça-feira da Editora Unijuí a primorosa versão em suporte papel do livro Attico Chassot, 60 anos fazendo Educação Festschrift. As duas versões (e-book e suporte papel) se pode adquirir em www.editoraunijui.com.br/produto/2321 Neste endereço se pode conhecer uma amostra das 280 páginas que inclui a artística capa concebida a partir de foto do mural em homenagem a Chassot, no diretório acadêmico do Curso de Química da UFPA, em Belém.

Excerto de uma croniqueta ou demonstrando erudição uma amostra de uma coletânea de mônadas gestada nos dias de pandemia.

Logo que se iniciaram os tempos pandêmicos se fez muitos planos para os dias da quarentena: colocar em dia fazeres atrasados (Lattes, aperfeiçoar o inglês, atualizar a catalogação em minha Biblioteca…). A maioria dos planos se esboroaram. Em algo não programado fiz o maior sucesso: os ditos fazeres do lar. Aquelas coisas de mulher.

Muitos de meus fazeres foram para tornar habitável meu monastério cartuxo. Concedi a D. Ceni — que duas manhãs por semana cuida de minha casa — o direito de não precisar trabalhar em tempos pandêmicos, por tal cuido dos jardins, colho pimentas (já houve produção e distribuição de 27 vidros com pimentas em conserva), limpo os cocôs das rolinhas que dormem na parreira do meu latifúndio. Na cozinha o sucesso não é avaliado por algo que cozi, pois sou zero em cocção. Meu êxito na área e não ter nenhum prato ou colher por lavar. E isto, de maneira usual eu consigo. Afortunadamente o viver solitário não exige roupa passada, pois em pranchar sou zero. Devo creditar muito de meu sucesso à compra de uma máquina de lavar louça. Um momento de glória: quando à noite consigo deixar organizada a mesa para o café da manhã seguinte.

Duas coisas que em 1,5 ano de confinamento não aprendi a fazer sozinho: tomar chimarrão e curtir uma lareira.


sexta-feira, 23 de julho de 2021

23JULHO2021.- E... Por falar em flores

 


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São tempos bicudos. Há dias um fazer exitoso [iniciar as aulas com a ‘hora da rodinha’ prática que aprendi nas aulas da Educação Infantil (prometo um texto sobre algo recebe uma muito boa acolhida, mesmo nos cursos de pós-graduação)] foi criticado como pura perda de tempo e só servia para falar mal do governo. Mesmo que cerca de duas dezenas de alunos e também professores que compartilham o seminário reputam a ‘hora da rodinha’ realmente como salutar, hoje vou assuntar algo mais encantador. Para que não digam que não falei de flores, o pautado é inusual aqui.

Esta blogada é (quase) pretexto dizer algo mais destes tempos de ser ermitão. Não é muito trivial este viver solitário. Como suportaríamos se não houvesse internet! Há dias passado fizemos experiências, na oficina de escrita. Inconcebível. Mas tenho aqui na Morada dos Afagos duas queridíssimas companhias: uma biblioteca se cerca de quatro mil livros e uma horta-jardim, mais jardim que horta, pois as lesmas não aceitaram o tratado de paz proposto e seguem vorazes consumidoras de couves.

Tenho quatro ‘flor-de-maio’ [Schlumbergera truncata — uma cactácea epífita originária do Brasil — conhecidas também como cacto-de-natal, cacto-de-páscoa, flor-de-seda]. Floresce em maio. Esta última característica que ora me surpreende. As quatro touceiras que embelezam minha morada têm idades, tamanhos e locais das mesmas muito diferentes (uma na cozinha, outra no piso superior, no scriptorium e duas nos jardins em locais dispares, especialmente quanto à iluminação.

E daí? Alguém pergunta... as quatro, de maneira solidárias, começaram em tempos iguais florir em julho (e não em maio como até em um dos nomes está definido tempo de floração, mesmo que tenha situações antípodas como Páscoa e Natal). Ainda em um julho que, nesta semana, já teve geadas e temperaturas em torno de zero e de trinta graus centígrados.

Que exemplo de companheirismo, este das ‘minhas’ quatro touceiras de flor-de-maio!

sexta-feira, 16 de julho de 2021

16JULHO2021.- SURGEM EXPECTATIVAS: UMA SAÍDA


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Nas diferentes frentes acadêmicas que me envolvo há um sabor de fim de semestre... Talvez, haja o evocar das saudosos ‘férias de julho’.  Isso poderia dar mote para um blogar mais leve. Respeitar a sanidade do presidente e consolá-lo que isto é só uns solucinhos, que logo passam.

Mesmo bivacinado, sei que pandemia não terminou. Não ignoro que ainda corro riscos (mesmo que menores). Mas com prudência esqueço tornozeleiras.


O último sábado, 09/07/2021, já era o terceiro de 13 fins-de-semanas do inverno pampeano. O céu era azul. As nuvens não obstaculizavam o sol. E, o melhor: não havia ventos. Sim, aquele vento gelado de finados. Cada ano parece que vêm antes de novembro, quando é seu tempo. Resolvi retirar a tornozeleira imaginária que vive dizendo: fique em casa. Cara / coroa? Saio / fico? Saio! Sabia que a cidade estava atrapalhada. Um demente resolvera fazer um carnaval fora de época e travestir-se de rei momo de um bando de motoqueiros.

Chego à portaria. Alessandro — com quem só falo por interfone avisando quando inicio aulas, para não ser interrompido — me interroga, surpreso: Vai sair, Professor?

Sim! Vou te dar a chance de adivinhar aonde eu vou. Vou te dar duas alternativas. Vamos ver se acertas minha escolha sabatina!

Alternativa 1: vou alugar uma moto e me aliar ao pandemônio e... Chega, Professor.  É a segunda, mesmo que esta seja ir para o inverno. Sim! Já acertaste. Vou, depois de 1,5 ano ao supermercado.

Foi uma saída inenarrável.  Comprei uma muda de kalanchoe, densamente florida para celebrar o feito. Ela me recorda antípodas: desobediência / esperanças de dito ‘novo’ normal.

sexta-feira, 9 de julho de 2021

09JULHO2021.- ******UM CENTENÁRIO & UM FESTSCRIFT*****

 

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Há dois destaques que determinam postergar o terceiro episódio da série: Por que uma Ciência indisciplinar? Estes dois destaques ganham celebração, aqui e agora, tecem o blogar de hoje: i) ontem Edgar Morin fez 100 anos; ii) o Festscrift, solenemente anunciado em 13 de março, vem a lume.

EDGAR MORIN Não é um evento usual, espécimes de Homo sapiens terem valIDADE com três dígitos, por isso há que celebrar. Parece que estes tempos pandêmicos reorganizaram as relações de parentelas. Os nossos colegas da Academia (e aqui se incluem nossas bibliografias) cada vez mais se espraiam como uma família ampliada. Vibramos e sofremos com alegrias e tristezas. Ver ‘um dos nossos’ alcançar uma idade com três dígitos é motivo de celebrações. Ontem fiz isso em dois momentos. Pela manhã quando falei para cerca de meio milhar de professoras e professores da rede estadual da região de Ribeirão Preto SP. À noite, em Marabá PA, na reunião do Grupo de Pesquisa em Educação em Ciências.

Não cabe trazer importância das dimensões teóricas deste reconhecido intelectual francês. Limito-me, aqui no recomendar (de maneira especial aos que apreciam biografias) o livro no qual Morin evoca sumarentas memórias de seu pai: Um ponto no holograma A história de Vidal, meu pai. [São Paulo: A Girafa Editora, 2006. 446 p. ISBN 8589876-97-7 // Vidal Nahoum (1894-1984) um judeu sefardita]. Dentre as muitas histórias narradas aprendemos um pouco mais acerca de ‘nosso’ Século 20.

FESTSCRIFT Na edição de 19 de março, narrei o entardecer emocionante do sábado 13 de março quando completava 60 anos como professor. Então, entre muitos acarinhamentos, foi lançado um livro, ainda em suporte eletrônico, desde o câmpus de Uruguaiana da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA).

O evento teve dimensão nacional com a celebração da data marcada pela apresentação de um Festschrift que a Wikipédia diz serO termo em língua alemã Festschrift, na Academia, se refere a um livro que homenageia uma pessoa influente ou reconhecida, especialmente um pesquisador. Geralmente é lançado enquanto o homenageado é vivo. O termo pode ser traduzido como "livro de homenagem" ou "livro de celebração". Um Festschrift contém contribuições inéditas de colegas do homenageado, podendo incluir seus ex-alunos. Geralmente é publicado na ocasião da aposentadoria do homenageado, ou quando ele completa certo tempo de carreira (trinta anos ou mais)”.

Então o 13 de março de 2021 se fez celebração nacional. Foi festa com protocolos próprios de tempos em que comemorávamos a Vida, mesmo já há um ano vivíamos em isolamento social. Chorávamos também nossos mortos. A Covid-19, naquela data, já levara a óbito quase 300 mil brasileiros. Agora (4 meses depois) este número quase dobrou.

 O momento foi tão emocionante que se fez indescritível. Registro o endereço onde é possível (re)viver a história de um momento dos mais emocionantes e gloriosos de minha vida: https://www.youtube.com /watch?v=Q_sA5eSRcis

Assim a segunda das dimensões deste blogar é fazer o auspicioso anúncio que a Editora Unijuí está disponibilizando duas versões (e-book e suporte papel) do livro Attico Chassot, 60 anos fazendo Educação Festschrift

No site www.editoraunijui.com.br/produto/2321 além de se poder adquirir uma ou/e outra das duas versões (versão papel mesmo que disponível ainda em julho está sendo vendida sob reserva) se pode conhecer uma amostra grátis das 280 páginas que inclui a artística capa concebida a partir de foto do mural em homenagem a Chassot, no diretório acadêmico do Curso de Química da UFPA, em Belém.

A amostra ainda oferece um sumário analítico dos 19 capítulos, o poema-prelúdio de Sílvia Nogueira Chaves, a poética apresentação dos três organizadores do livro: Vanderlei Folmer, Raquel Ruppenthal, Mara R. Bonini Marzar.

Depois do gostoso evocar daquele 13 de março — que tenho como um dos dias mais emocionante de meus quase 82 anos — alegro-me em convidar minhas leitoras e meus leitores a conhecer o sumário de um muito original e sumarento Festschrift.

 

 

sexta-feira, 2 de julho de 2021

02JULHO2021.- Saberes indisciplinares – episódio DOIS


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Ontem, 1º dia do segundo semestre (civil; o acadêmico está ainda desarranjado) o Laboratório Indisciplinar recebeu o Prof. Dr. Ribamar Júnior do IFPA Câmpus Marabá Rural. As palavras iniciais do sociólogo na apresentação da instigante palestra Alternância Pedagógica: Tempos/Espaços de Produção de Conhecimento foi contextualizar seus relatos como ações indisciplinares; isto é em ressonância com trabalhos de dissertações de meus orientandos no LabIn.

 Mesmo que não temamos sair da zona de conforto, é muito bom coabitá-la em prestigiada companhia. Assim se fortalece a proposta feita na última edição (25JUN2021).

Na busca de um assunto para o último blogar junino, se propôs tentar responder uma pergunta recorrente: POR QUE UMA CIÊNCIA INDISCIPLINAR? Ante a extensão do tema, pareceu válido fracionar a resposta à questão fulcral em episódios. Assim convido a nos abeberar do Segundo episódio da série.

Assim, ante o exposto na edição anterior, reconheço o quanto eu fui reducionista ou mesmo simplista em A ciência através dos tempos (Chassot, 1994)*, quando me refiro à revolução copernicana ratificada pela revolução galilaica e encimo o capítulo com um título no mínimo tendencioso: Século 16: nasce a ciência moderna, numa leitura que desconhece o que se fez no mundo não europeu. Reabilito-me, um pouco, em outros textos e especialmente quando, nesse mesmo livro, a partir de sua edição de 2004, apresento um novo capítulo: Uma história da ciência latino-americana determina outro marco zero. Neste, acena-se para possíveis leituras do desenvolvimento em épocas pré-colombianas do que chamamos hoje de arquitetura, engenharia, agronomia, astronomia, hidrologia, matemática, medicina, isto é, a existência de atividades científicas relevantes. Nessa dimensão, indicam-se possibilidades de outras duas leituras: i) a influência da relação da ciência e tecnologia no desenvolvimento de altas culturas na América pré-colombiana; e ii) a (re)valorização desses conhecimentos e técnicas, não apenas para fazer um resgate histórico, mas numa tentativa de mostrar o quanto a recuperação dos conhecimentos (quase) perdidos podem ser importantes para a população latino-americana que vive em situação de pobreza. Talvez, quando soubermos melhor explicar por que no oriente não houve (ou não precisou ter) revolução científica, tenhamos mais convincentes explicações de nossa acerbada visão disciplinar. Isso será facilitado também por leituras aprendidas no budismo ou no hinduísmo e ainda em outras filosofias orientais. A estas, provavelmente consigamos acrescentar também as marcas do islamismo em nossa formação; e nas ciências, o quanto essa vertente é forte. Outra dimensão nos recortes que fazem minhas análises serem ainda empobrecida é a ausência das muito importantes contribuições da matriz africana. Acerca da matriz indígena, como referi no parágrafo anterior, está se buscando contribuições como, por exemplo, Chassot e Camargo (2015)**. É salutar nos desafiarmos para responder a esta pergunta: No oriente, não ocorreu revolução científica por influência de filosofias orientais, pois a maneira de estar no mundo não teve exigências de uma ciência marcada por certezas? ou A ocorrência de revoluções científicas no ocidente pode ser creditada a maneira cristã de estar no mundo? Talvez, uma síntese que poderia ser tema de uma significativa tese doutoral: é a presença de livros sagrados (Torá, Bíblia ou Corão), resguardada por uma ortodoxia religiosa, que fez um fértil substrato para revoluções científicas? Afinal, não é, por exemplo, a matemática do livro que tem mais valor frente à etnomatemática. Como argumento à tese: “é a presença de livros sagrados para cada uma das três religiões abraâmicas, resguardado por uma ortodoxia religiosa, que fez substrato para as revoluções científicas”. Poderíamos recordar que as quatro maiores revoluções científicas tiveram suas certidões de nascimento exaradas por livros que não apenas abalaram o mundo, mas receberam aceitação e garantiram uma disciplinarização marcada por uma ortodoxia como já anunciei quase na abertura deste texto. Mesmo que a proposta aqui seja olhar como nos fizemos sujeitos disciplinares, parece que a tese antes enunciada devesse permear algumas das considerações trazidas neste texto. Olho um bordado. Encantam-me as tramas. Parece uma pintura. Depois, observo o avesso. Não parece crível que aquele emaranhado de fios, que mais parece uma maçaroca, tenha produzido aquele bordado. Portanto, aqui e agora, parece importante que vejamos um pouco do avesso de uma longa e também cruenta trajetória.

*CHASSOT, Attico. A ciência através dos tempos. São Paulo: Moderna, ISBN 85-16-01095-3), 1994

**CHASSOT, Attico Inácio; CAMARGO, Camila Guidini A interculturalidade e as intempéries de Chronos e Kairós: sobre tempos indígenas e não indígenas na universidade Revista Pedagógica (ISSN 1984 – 1566) Programa de Pós-Graduação em Educação (PPG-Educação) da UNOCHAPECÓ, p. 59-74, v.17, n.34, JAN/ABR. 2015

Agora aguarde o terceiro episódio da série POR QUE UMA CIÊNCIA INDISCIPLINAR?