Mais
difícil que redigir uma blogada é decidir qual será o mote (= tema ou assunto de algo, opção 4, de 7
no Priberam). Esta indecisão começa na sexta-feira, logo após postar a edição
semanal.
Pensara
em evocar nesta postagem o 19º aniversário do mega-atentado ao WTC... Recordaria
então que: “se em 11 de Setembro de 2001, morreram 3 mil inocente, na
destruição das torres do WTC: já foram muito lamentados. A cada dia, hoje, morrem
30 mil por falta de água” e/ou então, diria que todos nós lembramos o que fazíamos
naquela manhã, que por aqui fora primaveril. Eu acompanhado de familiares e
colegas sepultava minha mãe no bucólico cemitério do Faxinal, na zona rural de
Montenegro, RS.
Resolvo
navegar por mares não dantes navegados. Sei que, por não ser sociólogo ou antropólogo,
certamente poderei ser enquadrado em dispositivos legais por estar praticando exercício
profissional ilegal. Mas, há os que não sendo médicos prescrevem Ivermectina,
Cloroquina, entre outras panaceias. Se comparado minha infração, ela é menos
grave e causo menos riscos a outrem.
Em
tempos de pandemia, que de vez em vez, se transmuta em pandemônio, enquadro uma significativa
porção de brasileiros em três estratos.
Para
não se dizer que uso o óculo do senso comum, tenho como fonte de informações:
observações, leituras, diálogos e especialmente uma mais extensa oitiva de
rádio. Aceito a pecha de démodé, mas prefiro o rádio à televisão ou à imprensa
escrita. O acesso ao rádio se faz em um amplo espectro: ouço de segunda a
sexta-feira o boletim da Rádio Vaticano e no cotidiano, diferentes emissoras
ditas de pensamento religioso e uma emissora de rádio de uma rede explicitamente
de direita.
Com
os referidos construtos culturais, guardando uma clássica estruturação social,
tento narrar, talvez, reescrever três classes e constato que me enquadro em uma
‘classe média’ por estar inserto entre uma classe A ou classe Alta e uma Classe C ou classe Baixa.
Mesmo
reconhecendo minha ousadia, não sem temor, ouso narrar cada um destes três estratos
sociais, neste pandemônio de tempos de um bolsonarismo pandêmico. Inicio cada
um dos três estratos com um verbete consagrado e tento em cada um dos três segmentos
‘aditar
observações para um Brasil 2020’. Desejo que este texto seja lido como
um amealhar de observações, que ainda são um rascunho de texto que talvez não
vá muito além de um esqueleto a ser encarnado.
Classe A ou Classe Alta “... é uma classe social presente no capitalismo moderno que se
convencionou tratar como possuidora de um poder aquisitivo e de um padrão de
vida e de consumo além do razoável, de forma a não apenas suprir suas
necessidades de sobrevivência como também a permitir-se formas variadas de lazer
e cultura, é comum chegar aos padrões de consumo eventualmente considerados
exagerados” (Wikipédia). Num Brasil 2020 são aqueles que em tempos pandêmicos —
mais provavelmente — veem o seu capital aumentar. É o mais heterogêneo dos três
grupos. Há aqui aqueles nesta pandemia fizeram descobertas como o trabalho
distante do local tido como usual é mais produtivo e mais econômico.
Aqui estão aqueles que são representados no
parlamento pelos Bês do Boi, da Bala, da Bola, da Bíblia. Os do Boi e os da
Bala estão cada vez mais consorciados. São os que se apoderam de terras (mesmo
que estas sejam de ancestrais grupos indígenas) e as defendem a bala, afinal
tudo é Agro.
Uma parte dos da Bíblia (aqueles donos de igrejas
que não pagam impostos) estão na Classe A. Parte significativa dos da Bíblia
está na classe C.
Aqui estão os da Bola (jogadores e cronistas
esportivos) crentes que devem e podem defender o Brasil do comunismo. Pertencem
ao tropel de bolsonaristas aqueles que ganham muito dinheiro (mal havido) mas
são incapazes de serem socialmente útil. Há os que continuam mamando em úberes inesgotáveis
que a cada mês fornecem aposentadorias nababescas obtidas muitas vezes pela
adição de penduricalhos ad eternum.
Estão
também nesta classe A, os atravessadores entre as etapas de produção e comercialização
de uma inumerável quantidade de produtos (especialmente agrícolas).
Provavelmente estão nesta classe uma legião de
recebedores de salários e vantagens do Ministério da Defesa, que se diz ter orçamento
maior que o do Ministério da Educação. Talvez os de mais alto escalão nem sejam
incapazes de saber o porquê aquilo que fazem não serve para nada mais útil do
que serem fiéis sentinelas e eternos guardiões para impedir entrada do
comunismo no Brasil vindo da União Soviética (sic) e de impedir que o PT
continue roubando.
É
esta poderosa Classe Alta que hoje, com artimanhas obscuras elege e controla
parlamentos.
Classe Média “... é uma classe social presente no capitalismo moderno que se
convencionou a tratar como possuidora de um poder aquisitivo e de um padrão de
vida e de consumo razoáveis, de forma a não apenas suprir suas necessidades de
sobrevivência como também a permitir-se formas variadas de lazer e cultura,
embora sem chegar aos padrões de consumo eventualmente considerados exagerados
das classes superiores.” (Wikipédia). Em um Brasil 2020 são aqueles que mais
provavelmente veem o seu capital ser corroído a cada dia. A presença de
bolsonaristas neste segundo grupo é muito pequena. Há alguns eleitores arrependidos,
mas pouco convictos. Parece haver poucos conversos e os neo-bolsonaristas são
usualmente discretos por serem minoria. Entre os professores — destes
profissionais a maioria parece ser da Classe Média — que são capazes de
oferecer um ensino mais crítico e por tal são acusados pela Classe A de serem
militantes comunistas.
Sobre a Classe Média há uma pecha de que todos
são sindicalistas de esquerda tentando tirar vantagens dos trabalhadores das
duas outras classes. Se brada a toda hora em certa emissora que Brasil de
Bolsonaro só não vai melhor por que o PT continua roubando e atrapalhando.
O
desprezo que governo alimenta à Educação faz uma parcela de trabalhadores
imensamente desgastada. Neste período de se ter que ‘inventar’ uma educação
remota se tem feito professoras e professores fazerem quase milagres. O
desrespeito aos educadores se manifesta de muitas maneiras. Uma insidiosa é o
não respeito as indicações dos nomes expressos nas listas elaboradas para a
escolha de reitores.
Realmente
ser de Classe Média tendo o desprezo da Classe A e terraplanismo da classe C é realmente
estressante.
Classe Baixa “... é uma classe social
presente no capitalismo moderno que se convencionou tratar como a que menos
possui poder aquisitivo, bem como a que possui um padrão de vida e de consumo
baixo em relação às demais camadas da população. Desta forma, supre suas
necessidades de sobrevivência com dificuldade e, muitas vezes, é
impossibilitada de permitir-se formas variadas de lazer e entretenimento. É
composta principalmente pelo proletariado e por desempregados.” (Wikipédia). No
Brasil 2020, a Classe Baixa é paupérrima se comparada com a Classe Alta. A
Classe C é também muito maior que as classes Alta e Médias juntas. Em outra
comparação, entre as duas classes, a classe C é muito mais fiel ao bolsonarismo
que a classe A.
A
Classe C é mais homogênea e uma parte muito significativa dela, por causa da
pandemia, está tendo micro-doses de capital injetada direto na veia, recebendo uma
merecida ajuda, que está tendo um sintoma indesejado: o aumento do preço do
arroz, pois o aumento do consumo do mesmo faz os supermercados aumentarem o
preço.
Esta
classe C é a melhor exemplificação do quanto na República Cívico Militar
Teocrática do Brasil, a terceira de suas três dimensões viceja de maneira
exuberante. Há inclusive dificuldades de se entender a matriz desta teocracia.
A pergunta: Qual a tua religião? tem respostas do tipo: sou cristão / sou evangélico / sou reformado / sou carismático / sou
... que aparentemente mascara qual a denominação corresponsável numa
prática que vais desde uma asquerosa concepção de que o escarro do pastor na
boca do fiel torna este imune a vírus até uma tradicional igreja do tipo
descrito em Atos dos Apóstolos.
Renovo meu pedido feito antes: que este texto seja lido como um amealhar
de observações. Considere ainda são um rascunho de um texto em construção.
Comentários com discordâncias e com concordâncias são bem-vindos.
Espero que na vindoura sexta-feira nos leiamos uma vez mais. Até
então.