Inicio com votos de um sumarento fim de semana para
cada uma e cada um de meus leitores. Há leitores especiais para os quais a
primeira sexta-feira de fevereiro deste ano é feriado. São os queridos
leitores de minha Porto Alegre e outros 36 municípios gaúchos, que hoje vivem
um feriado na celebração da mí(s)tica da festa dos Navegantes, que em outros
locais é a festa da Purificação (término da quarentena natalina) ou da
Candelária. Também hoje, religiões de matriz africana, em admirável sincretismo
celebram Iemanjá, a protetora deusa das águas.
Mas este dois de fevereiro é alvo muitas outras
celebrações, mas antes de assestar óculos nelas, preciso fazer uma calorosa referência à minha fabulosa jornada
cuiabana. Em 2,5 dias tive 5 encontros de quatro horas com educadores de
diferentes ciclos do ensino fundamental que envolveu cerca de 1.300 professores
da rede municipal de Cuiabá. Foi algo inenarrável.
Entrementes, é para mim significativo acrescentar
que de maneira formal, vez ou outra com discrição, referi que muitas de minhas
sugestões se tornam difíceis em tempos nos quais vemos a democracia ameaçada
pela camarilha que ocupa, ilicitamente, a presidência da República.
Jantei na noite de terça-feira na casa de Irene
Mello, que foi a minha primeira orientanda de mestrado em momentos de indizíveis
matar saudades. Encontrei-me também com o Eduardo e com a Patrícia, meus dois
doutorandos mato-grossenses da REAMEC.
Foram tantos os momentos emocionantes que nem me
abalei em ter minha viagem de volta ampliada de quatro horas para catorze: a
partida de Cuiabá atrasou em 30 minutos, com isto mesmo que chegasse a
Viracopos e o avião que levaria a Porto Alegre estivesse em solo, perdi a
conexão e tive que pousar em Campinas e só viajar no dia seguinte.
Mas este estar em Cuiabá me ofereceu dois presentes imprevisíveis.
Ao lado de muitos contatos com educadores cuiabanos vivi a dita de duas
preciosas surpresas. Cada uma delas daria para blogares exclusivos. Hoje só
faço o registro. Fico devedor.
Na viagem Porto Alegre/Brasília/Cuiabá conversei (e
conheci ao vivo) Sebastião Pinheiro, ícone da Reforma Agrária na América
Latina e referência para minhas aulas acerca de uma agricultura menos degradadora
e de alimentação sem veneno, especialmente na formação de professores para
acampamentos e assentamentos do MST. De repente a viagem se fez muito breve.
Na manhã de quarta-feira, a conversa com Elpídio no emaranhado
trânsito cuiabano se mostrava mais prenhe de interrogantes: igreja apostólica?
culto a Maria? Transubstanciação? Santa Vó Rosa? Ministério pastoral? Quando chegamos
ao majestoso prédio onde funcionam as Faculdades Integradas Cantares de Salomão
não quisera dar por encerrada a conversa, pois o atencioso motorista era também
o Pastor Elpídio Santana de Souza, da
igreja Apostólica
Ficam deveres. Mas há que voltar a data de hoje.
Volto com uma surpresa:
poucas datas — como a de hoje, 2 de fevereiro — são tão prenhes de
sincretismos.
Mas,
o que tem 2 de
fevereiro de especial? Há muito, mas primeiro devo destacar dois
detalhes na data: #1: hoje cumprimos 40 dias (completa-se a quarentena) da data
do Natal e isto é determinante de celebrações como veremos a seguir. #2: hoje
estamos na metade do verão (no hemisfério Sul)ou na metade do inverno; passaram
seis semanas de verão (ou de inverno no hemisfério Norte), faltam mais seis e
isto também alimenta algumas crenças.
Miro
as celebrações de hoje marcadas pelos dois detalhes acerca da localização do 2
de fevereiro no calendário. Vejamos uma e outra das duas marcas, mesmo que os
dois eventos se fundam.
Vale
observar como a "Festa da Purificação da
Virgem" (no rito da Igreja Católica) ou a "Apresentação de Jesus no
Templo" (especialmente no rito latino da Igreja Católica), que na Igreja
Ortodoxa é conhecido como "Festa da Apresentação de Nosso Senhor e
Salvador no Templo", e em Igrejas Anglicanas é conhecido por vários nomes,
se transmutou em diferentes celebrações. Em Porto Alegre, por exemplo, nenhuma
destas evocações é lembrada. Aqui a comemoração central é Nossa Senhora dos
Navegantes ou até popularmente a ‘festa da melancia’ pois esta é fruta mais
conhecida nos festejos populares. Mas, há muitos que assumem ser hoje o dia de
Iemanjá.
Nossa Senhora dos Navegantes ou Iemanjá? Existe um sincretismo
entre a católica Nossa Senhora dos Navegantes e a orixá Iemanjá, divindade nas afro-religiões.
Em alguns momentos, inclusive festas em homenagem as duas, as celebrações se
fundem. Costuma-se festejar o dia 2 de fevereiro que lhes é dedicado, com
procissões fluviais e/ou marítimas.
Em várias localidades há
uma fusão de duas celebrações e, então, ao encerramento da festividade católica
acontece um dos momentos mais marcantes da festa de Nossa Senhora dos
Navegantes: as embarcações param e são recepcionadas por umbandistas que
carregavam a imagem de Iemanjá, proporcionando um encontro ecumênico na orla.
A essência da comemoração
católica primeva era a apresentação de Jesus no Templo também conhecida como
festa da Candelária ou Festa da Purificação da Virgem celebra um episódio da
vida de Jesus. Cumprida a quarentena do parto há a necessidade da purificação.
Se na tradição judaica a mulher é impura pela menstruação, a impureza pelo
sangue do parto era ainda maior. Na igreja cristã chegou-se a vetar o
sepultamento no cemitério cristão a mulheres que morressem no parto, ou antes,
de cumprir a quarentena. Estas eram sepultadas fora do ‘campo santo’ junto com
os suicidas e não batizados.
Lembro como primogênito de
sete filhos de minha mãe, por ocasião de batizado de meus irmãos menores, de
minha mãe dever esperar fora da igreja, só podendo entrar depois de receber a
benção de purificação. Por isso, uma das celebrações de hoje é Nossa Senhora da
Purificação.
A outra comemoração é
Nossa Senhora da Candelária, ou festa da Candelária ou festa de (Nossa Senhora)
das Candeias. Candelária ou candeia é vela, ou castiçal ou ainda o nosso
popular candeeiro [objeto de
várias formas que, geralmente suspenso ou sustentado por um pé, é destinado a
iluminar, sendo alimentado por eletricidade ou
por algum fluido combustível como azeite, óleo, querosene, gás, etc. (ex.: candeeiro a petróleo, candeeiro de
pé, candeeiro de teto)]
O termo
"Candelária" refere-se a práticas encontradas em antigos missais romanos
na qual um sacerdote em 2 de fevereiro abençoava as velas de cera para uso
durante o ano, quando algumas são distribuídos aos fiéis para usar em casa. Por
isso não é sem razão que haja, talvez, mais de uma centena de topônimos
‘Candelária’ ou ‘Candeias’ em dezena de países, em homenagem a Nossa Senhora da
Candelária ou das Candeias e que neste 2 de fevereiro têm dia festivo.
Ainda outra dimensão da
data: Em Portugal no dia de hoje —a festa da Nossa Senhora da Luz ou Nossa
Senhora das Candeias — aa tradição popular diz que o estado do tempo neste dia condiciona
o tempo para o resto do inverno. Dizendo-se "Nossa Senhora a rir, está o
Inverno para vir. Nossa Senhora a chorar está o Inverno a passar." Quer
isto dizer que se no dia estiver sol, ainda virá muito "Inverno", se
no dia estiver chuva, o inverno já passou.
Curiosamente esta tradição
é semelhante ao Dia da marmota,
que se comemora neste 2 de fevereiro, nos Estados Unidos e no Canadá. Segundo tradição, as pessoas devem
observar uma toca de uma marmota, se o animal sair da toca por estar nublado,
isso significa que o inverno terminará mais cedo, porém, se pelo contrário, o
sol estiver a brilhar e o animal se assustar com a sua sombra e voltar para a
toca, então o inverno durará mais seis semanas.
Há muitas outras tradições
populares que marcam este dois de fevereiro. A blogada se alonga. Amealho mais
uma dívida, pautando edições futuras.