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sábado, 8 de janeiro de 2011

08.- Uma sabática com Gioconda Belli

Porto Alegre Ano 5 # 1619

O sábado é muito quente e seco. Que os que foram ao litoral não me ouçam: desejo chuvas.

Os dois últimos sábados – 25 de dezembro e 1º de janeiro – foram atípicos nas publicações diárias. Quando até grandes jornais tiveram edições conjuntas do tipo: 31 de dezembro, 1º e 2 de janeiro, estou justificado por não apresentar então as dicas de leituras sabáticas.

Quando as retomo, há que fazer uma homenagem a Marcos Vinicius Pacheco Basto, que em março de 2009 sugeriu a edição semanal de comentário de leituras – e desde então a cada sábado este blogue tem trazido sugestões sabatinas. Mas a homenagem ao Marcos tem pelo menos mais duas dimensões: ele, por mais de um ano – entre 2009/10 – postou diariamente, sem uma lacuna sequer, comentários neste blogue. E mais, na maioria das vezes eram comentários que aditavam (e extrapolam, em muito) os assuntos trazidos por mim, qualificando sobremaneira minhas propostas editoriais. Outra dimensão da homenagem: no próximo dia 15 fará um ano da formatura do Marcos em História no Centro Universitário Metodista do IPA, quando ele foi o memorável orador. Então este blogue teve uma edição especial. Assim antecipo aqui os cumprimentos ao Marcos e aos seus colegas.

Contei aqui, na segunda-feira que tive um recesso natalino pródigo em leituras. 1.- Caso Kliemann: A história de uma tragédia. [Celito De Grandi, Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2010, 256 p] 2.- A Ilha sob o mar [Isabel Allende, Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 2010, 476 p] 3.- El infinito en la palma de la mano.4.- El sueño del celta. [Mario Vargas Llosa, Buenos Aires: Alfaguara, 2010, 464 p]. Deste último ainda não venci a metade, mas promete.

De cada um destes quatro trouxe, então, uma micro-resenha. Fiz segunda-feira uma promessa que começo a cumprir hoje. Elejo para iniciar o ‘mais literário’: O mágico relato de premiada escritora nicaraguense Gioconda Belli que vai muito além dos 40 versículos do Genesis sobre Eva e Adão; Gioconda Belle, cria um mundo novo ao narrar a vida inocente, valente e comovente do primeiro casal após perda do paraíso

A história da leitura de um livro é algo genial. Comprara, não sei bem o porquê, El infinito en la palma de la mano em maio de 2008 em Montevideo. Só agora fui lê-lo. Encantei-me. Busquei saber mais da autora.

E uma surpresa. No recesso natalino 2003/04 sem que disto me lembrasse lera encantado (segundo meu diário de 01JAN2004) sua obra prima, A Mulher Habitada (Record, 398 p. 2002, ISBN: 8501053430 ) é o primeiro romance de Belli, que até então tinha cinco livros de poemas publicados. O livro reitera uma convicção motriz da obra da escritora: combinar experiência pessoal com coletiva, inspiração político-revolucionária — extraída do exército de camponeses criado em 1927 por Augusto Sandino para combater tropas esdadunidenses — com tórridas histórias de amor.

Poeta e revolucionária, Gioconda Belli funde o erótico ao político, o verbo e o fogo com a autoridade de quem já conquistou o prêmio literário Casa das Américas (em 1978) — um dos mais importantes em língua espanhola — e militou na Força Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) que derrubou o ditador Anastacio Somoza, em 1979, interrompendo a dinastia que dominou a Nicarágua por 43 anos.

Em duas palavras, sofrimento e gozo. Daí a fascinação que a personagem Lavínia, uma arquiteta recém-formada na Europa que vai trabalhar em Manágua, nos provoca. Ela é uma espécie de alter ego da autora, que se bacharelou em Madri. Lavínia acaba cedendo aos ideais da luta armada, ajuda a construir uma Nicarágua mais livre e seduz com seu heroísmo libertário.

Agora busco A mulher habitada para reler, pois não tenho anotado a origem do livro, que não consta do registro de minha biblioteca pessoal.

Gioconda Belli nasceu em Manágua, Nicarágua em 9 de dezembro de 1948. É autora de uma importante obra poética de reconhecido prestígio internacional. Entre a sua poesia, publicada em sete países, destacam-se: Sobre la Grama (Prémio Mariano Fiallos Gil, 1974), Línea de Fuego (Prémio Casa de las Américas, 1978), Truenos y Arco Iris (1982), Amor Insurrecto (1984), DE lá Costilla de Eva (1986), El Ojo de la Mujer (1990), Apogeo (1997) e Mi Íntima Multitud (Prémio Internacional Generación de 27, em 2003). O seu primeiro romance, La Mujer Habitada (1988), foi traduzido para onze idiomas com enorme êxito, especialmente na Alemanha, onde superou um milhão de exemplares vendidos e obteve o Prémio dos Bibliotecários, Editores e Livreiros para o Romance Político do Ano em 1989, além do Prémio Anna Seghers da Academia das Artes. É ainda autora dos romances Sofía de los Presagios (1990) e Waslala (1996), do conto inafantil El Taller de las Mariposas (1992) e de El País Bajo mi Piel (2001), o seu testemunho-memória do período sandinista. Desde 2004, Gioconda Belli é membro da Academia Nicaraguense da Língua. Publicada pelas mais prestigiadas editoras do mundo, Gioconda Belli vive, desde 1990, na Califórnia.

El infinito en la palma de la mano [Gioconda Belli, Buenos Aires: Seix Barral, 2008, 240 p ISBN 978-84-332-1249-9O Espanha // ISBN 978-950-731-577-0 Argentina. Não consta tradução para o português.

O romance El infinito en la palma de la mano é uma magnífica encenação da primeira relação entre um homem e uma mulher que juntos fazem descobertas: a primeira que vivem uma vida de expulsos do Paraíso por Elokin, o Olho sempre presente e sempre invísivel para castigar. Vivem uma relação de amor e de ódio com a serpente. Aprendem sobre o amor, descobrem as maravilhas das relações amorosas, surpreendem-se com gravidez, encantam-se com partos, choram com fratricídio. Enfim, depois de descobrir a vida percebem eles foram condenados à morte, que reproduz apenas aderir a uma aparência de imortalidade, e que, para sobreviverem, precisam comer e, para comer precisam matar. É drama que vivem, onde comemoram a existência de diferenças de cada um e potencial para criar e evoluir que são intrínsecos à natureza humana.

El infinito en la palma de la mano está dedicado às vítimas anônimas da guerra do Iraque. O título é inspirado em poema de Wiliam Blake, Augurios de Inocencia:

Y el cielo en una flor silvestre
Guarda el infinito en la palma de tu mano
Y la eternidad en una hora

Assim, a dica de leitura neste sábado quer extrapolar El infinito en la palma de la mano e sugerir aos meus leitores Gioconda Belle, considerada a escritora mais importante de seu país: a Nicarágua, cuja área total não é maior que a do Estado do Ceará e a população equivale à de Goiás, com cerca de 5 milhões de habitantes. Adito ainda “A mulher habitada’ aos votos de um bom sábado e o convite para nos lermos amanhã.

4 comentários:

  1. ¡Excelente sugerencia, Profesor Chassot!! Literalmente, "correré" a comprar el libro, ya le haré llegar algún comentario.
    Que tenga un lindo fin de semana,

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  2. Muy amable Matilde,
    eso es muy gratificante para el editor de una sugerencia: que haga personas que aditen (permítame crear un verbo que me encanta y que parece no hay en español y en portugués es mui denso: Acrecentar; Causar dita; Tornar feliz; Entrar) las propuestas. Tomará que Gioconda Belli a encante. Aguardo sus comentarios.
    Gracias por deseos para el fin de semana y yo los retribuyo.
    attico chassot

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  3. Mestre Chassot

    Saudades se mesclam com intensa alegria ao ler sua homenagem da blogada de hoje. Embora haja atraso na minha postagem (pois já não consigo acessar a grande rede todos os dias), agradeço muito suas palavras e o exagero nas referências a mim.

    Sinto falta da parceria que fazíamos neste blogue: o senhor como o mestre e escritor, e eu como o aprendiz e comentarista.

    Aproveito o momento para desejar-lhe um excelente ano, em todos os aspectos possíveis, bem como para reforçar a idéia (eu ainda não me acostumei a escrver essa palavra sem o acento) de marcarmos uma data para nos reencontrarmos e pormos a conversa em dia.

    Um grande e saudoso abraço desse seu eterno aprendiz e desse amigo que muito lhe gosta. Ótima semana.

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  4. Muito querido Marcos,
    vibro com tua passagem por aqui. Aliás, o brilhante (e saudoso) curso de História do Centro Universitário Metodista do IPA hoje se fizeram presentes: tu e o Elder. Foi um grande presente nesta segunda-feira. Tu na blogada de sábado que merecidamente de homenageia, te associa a outro comentarista – Matilde Kalil – com a qual há um tempo fazias parceria em outros tempos.
    Quanto a um encontro, entro em férias a partir deste sábado e só estarei ausente de Porto Alegre de 02 a 10 de fevereiro.
    Manta uma mensagem e alinhavamos um chimarrão.
    Um afago com saudades
    attico chassot

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